Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO5.3 - Gênero, raça e o cuidado em saúde

46310 - RELATO DE EXPERIÊNCIA: ARTETERAPIA E A COMUNICAÇÃO NÃO VIOLÊNCIA COMO PRATICA DO CUIDADO NUTRICIONAL E EM SAÚDE DE MULHERES COM OBESIDADE
GLAUCE DIAS DA COSTA - UFV, MARINA TOSATTI ALEIXO - UFV, IRENE DA SILVA ARAÚJO GONÇALVES - UFV, GABRIELLY LUÍSA DINIZ PAIVA - UFV, ANA CLARA GUTIERREZ DINIZ SOUZA - UFV, TIFANI BERNARDO BORGES LOPES - UFV, GERALDA PATRÍCIA DE ALMEIDA - UFV, MARIANA PAULA OLIVEIRA - UFV, ROSANGELA MINARDI MITRE COTTA - UFV, NÍVIA CRISTINE DE OLIVEIRA SILVA - UFV


Contextualização
O século XXI transcorre com vários desafios para a humanidade, perpetuado por uma policrise sistêmica e agravada pela pandemia da COVID 19, nos propondo outras configurações no modo de vida em sociedade. Neste contexto de transições e mudanças, somos impactados por um modo de vida paradoxal como excesso e escassez, produtividade e sedentarismo, concentração e exploração, atrelados a uma relação do corpo desconectada com a vida interna e externa. Esta desconexão corpórea, aliada a um contexto de desinformações ampliado pelas novas tecnologias de informação, gera confusões quanto as reais necessidades humanas, incluindo as necessidades físicas e simbólicas do comer, dificultado e alienando o processo de escolhas individuais e coletivas e fragilizando nosso processo de decisão frente as necessidades de consumo criadas pelo sistema capitalista. Assim, tal cenário amplia as relações transtornadas com o comer, potencializado a obesidade, enfermidade que avança desde meados do século XX e se expande como novas perspectivas pós pandemia ao se somar a condições emocionais e psíquicas que impactam no corpo.

Descrição
Assim sendo, como nutricionista e pesquisadora, no desafio de encontrar saídas para viabilizar uma outra forma de agir e pensar o cuidado nutricional e de saúde frente a obesidade, encontrei a não violência. A Comunicação não Violenta (CNV), cunhada pelo psicólogo Marshal Rosemberg, propõe dimensões baseadas no paradigma da parceria, trazendo possibilidades de transformação social, podendo ser ampliada para o campo da saúde e da nutrição. A psicanalise junguiana me auxiliou a reunir conceitos da arterapia e propor um projeto de intervenção com propostas do cuidado nutricional, sem dietas restritivas, para mulheres com obesidade. O projeto faz parte do grupo de pesquisa NutrirCom do departamento de nutrição e saúde da UFV, MG. A proposta oferta à 40 mulheres com obesidade um atendimento nutricional individual e a participação em uma jornada com encontros mensais, durante o período de seis meses. As oficinas, que compõe a jornada, foram elaboradas a partir de temas desenvolvidos pelo grupo de pesquisa em estudos prévios da literatura cientifica e a partir das intenções recolhidas das mulheres na primeira reunião de acolhimento, tendo como tema central o cuidado nutricional e em saúde. A abordagem da arterapia (trabalho com velas, desenhos, músicas, argila, tecidos e tintas) propõe acessar o simbólico do inconsciente, especialmente o que tange as memórias afetivas com o comer, trazendo para o consciente e auxiliando nas escolhas alimenatres. A CNV, a partir de suas dimensões (observação e não julgamento, sentimentos, necessidades e pedidos), auxilia na expressão dos sentimentos, bem como, na resolução dos conflitos alimentares.

Período de Realização
Ainda em vigor, tem acontecido entre março de 2023 a setembro de 2023.

Objetivos
Promover praticas de cuidado nutricional e em saúde com mulheres com obesidade, utilizando a comunicação não violenta e a arteterapia

Resultados
Os resultados parciais apontam para o desenvolvimento de um processo de desconstrução de dietas e de um paradigma da escassez que dicotomiza os alimentos entre certo e errado, saudável e não saudável. Este processo de desconstrução tem trazido incômodos, resistências, mas também alivio e pacificação com o comer para a maioria das participantes. Os encontros são marcados por relatos dos desafios vivenciados com o comer, mas também tem permitido a expressão dos sentimentos, por meio da CNV. Quando trabalhado o tema da criança interior, memorias afetivas com a comida são despertadas, como a presença dos familiares e pessoas queridas, as festas celebradas ao redor da mesa, demarcando simbolicamente o comer e as influencias dessas memórias na vida adulta. A falta de alimentos, assim como alguns traumas também foram apresentados e o receio em falar em alimentos considerados proibidos como doces, sorvetes e chocolate é marcante. No tema sobre as dimensões do cuidado com foco no corpo, a atividade do desenho com giz em papel preto deu a elas a oportunidade de acessar o contato com as partes de seu corpo, especialmente com aquelas que não aceitavam ou não gostavam. O abstrato presente na arteterapia, possui a possibilidade de reconfigurações importantes, especialmente quanto as narrativas e crenças sobre corpo perfeito e magreza, possibilitando uma relação com corpo de forma mais amorosa e gentil.

Aprendizados
Os aprendizados estão acontecendo, vivemos o desafio da adesão e os conflitos inerentes a dieta e emagrecimento.

Análise Crítica
Há diversas confusões frente as dicotomias construídas pelo mercado de consumo com relação aos alimentos saudáveis e não saudáveis. Ansiedade e depressão estão intimamente ligadas a obesidade e estas se relacionam com o comer transtornado. Permitir espaços em que elas não são julgadas e abordagens em que encontrem respostas em si mesmas tem proporcionado alivio, confiança e maior segurança e autonomia nas escolhas alimentares.