03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO6.2 - Branquitude e Racismo no fazer saúde |
47711 - CONTRATEMPOS A UMA HERANÇA RACISTA: UM OLHAR À PELE BRANCA REFLETIDA NO ESPELHO THAÍS MATEO ZYGMUNT - UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES (UBA)
Apresentação/Introdução Palavras-chave: branquitude; autocrítica; herança; racismo; antirracismo; pele psíquica.
Este trabalho foi produzido como Trabalho de Conclusão de Curso do curso de pós-graduação em Ciências Humanas e Pensamento Decolonial, 2021-2023, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e teve como orientadora a professora Dra. Alana Morais. O trabalho original possui 74 páginas.
Trata-se de uma tentativa de inscrever no campo acadêmico uma voz autorreflexiva sobre a branquitude, a partir da noção de que trabalhos sobre branquitude realizados por pessoas brancas são ainda escassos nesse campo e na própria experiência social brasileira. Nele, houve a busca por escrever sobre meu próprio processo de racialização - que não se finda -, sob as chaves da vulnerabilidade, do desnudamento e da intimidade radical. O trabalho de autorreflexão, apesar de voltado ao meu próprio corpo, pretendeu dizer de processos de subjetivação que extrapolam o plano individual. Ou seja, assumi que esta investigação promoveria reflexões que se somariam a uma crítica mais ampla à branquitude e seu pacto de autoproteção.
O capítulo “Espelho”, que deu nome à apresentação do trabalho, anunciou a difícil tarefa de situar meu corpo branco como não neutro e não universal, o que implicou assumir seus equívocos, violências e contradições, apesar do medo.
Objetivos O mesmo capítulo, Espelho, conteve o objetivo do trabalho: o de escrever sobre os movimentos que venho realizando nesta trajetória de tornar-me branca e escutar o racismo em meu corpo. Publicizá-lo e, portanto, politizá-lo foi um objetivo intrínseco.
Metodologia Ainda no capítulo espelho, anunciei a metodologia: a de costurar livre-associação e escrita, sem um planejamento prévio, e apoiada por referências. A justificativa para tal método foi a de formular pensamentos da maneira mais corporificada possível, além de apostar numa linguagem escrita poético-acadêmica e livre como uma crítica à ciência moderna e sua desconfiança aos compassos do corpo.
Ao longo de todo o trabalho realizei intervenções chamadas de “memórias clínicas”, um modo de correlacionar as reflexões mobilizadas e minha experiência como psicóloga, especialmente no contexto de trabalho na Atenção Primária à Saúde do SUS.
Resultados e discussão Os resultados e discussões foram se desenvolvendo no próprio processo de escrita, pesquisa e aprendizagem e fizeram trajetória nos temas: Herança, Culpa, Olhar, Identidade, Pertencimento, Loucura e Morte – mesmos nomes dos capítulos que se seguiram.
Foram encontrados e analisados elementos de subjetivação da pessoa branca no molde capitalista-colonial-racista, com influências de uma discursividade cristianizada, heroicizada e militarizada. A identidade branca foi compreendida como uma não-identidade – ou identidade descorporificada –, sem base segura devido a essa falta fundamental. Por esse motivo, cheguei à compreensão de que a pessoa branca precisa produzir-se enquanto “Eu” sem cessar, projetando sua imaginária negatividade (“Eu não sou”) especialmente no sujeito negro. Encontrei na sociedade da supremacia branca corpos paranoicos, persecutórios, competitivos e controláveis/controladores. Os conceitos de pele psíquica e fragilidade branca foram primordiais para a compreensão de que furos ao (meu) delírio da branquitude abrem poros ao mesmo tempo em que fortalecem essa pele frágil. Quer dizer, tive indícios de que diferente de destruir, o processo de racialização da pessoa branca a coloca num caminho de se tornar mais saudável e suficiente.
Conclusões/Considerações finais Em minhas considerações finais, no capítulo “Um outro amor, num outro tempo, num outro mundo”, concluí pela necessidade da aceitação e integração da morte e da contradição na subjetividade branca, único modo possível da pessoa branca humanizar-se e amar. Um mundo outro no qual o tempo, o amor, a outridade e a identidade são radicalmente transformados se apresentou como respiro e caminho possível de um labirinto subjetivo – labirinto este que é produzido quando a pessoa branca encara seu reflexo narcísico e deseja ultrapassar seu encerramento em si mesma.
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