03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO9.3 - Racismo, formação e saúde |
47304 - O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NA FORMAÇÃO EM SAÚDE: A HUMANIZAÇÃO À LUZ DOS ESTUDOS DECOLONIAIS E DE LETRAMENTO ACADÊMICO FERNANDA CORREA SOLDATELLI - UFRGS
Contextualização Este trabalho relata a experiência de uma mestranda em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que é professora-bolsista de língua inglesa no Programa Idiomas Sem Fronteiras, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
A aula de uma língua adicional, como o inglês, é uma ação que “ajuda o educando a não virar as costas para os textos do mundo nos quais a língua se fez e se faz relevante.” (SCHLATTER, GARCEZ, 2012) e permite que as pessoas, independentemente se profissionais da saúde ou não, possam re-ad-mirar criticamente o mundo e as ações humanas a fim de tomar conhecimento do já conhecido e partir para um conhecer melhor (FREIRE, 2021). Possibilita, então, conhecermos aos outros e a nós mesmos (SCHLATTER; BORTOLINI; ANDRIGHETTI, 2009), afinal, língua é um artefato cognitivo, cultural e social (HELLERMAN, 2008) pela qual nossas culturas se manifestam (KRAMSCH, 1998).
Partindo do pressuposto de que a língua e a cultura são elementos constituintes da formação acadêmica e profissional, tem-se buscado pensar o ensino de língua inglesa a partir de uma perspectiva decolonial, destacando as relações de poder e ideologia inerentes à linguagem (FLORES, 2017), promovendo a reflexão crítica e decolonial no processo de construção de conhecimento e transformação social. Ao estimular esse diálogo, promove-se uma visão mais ampla da saúde, considerando a diversidade e a valorizando os saberes e vivências das pessoas, evitando assim a mera mercantilização da diferença.
Descrição A experiência de ensino-aprendizagem relatada refere-se ao percurso da professora na elaboração do plano de ensino, do material didático utilizado e sua aplicação no curso entitulado “Healthcare in Arts”. Nesse curso, são propostas atividades que propiciam discussões sobre questões raciais, de identidade, gênero e poder. Por meio de materiais autênticos, como textos de divulgação científica, artigos acadêmicos, poesia, música e artes visuais, e à luz dos letramentos acadêmicos (LILLIS; SCOTT, 2008; LEA, 2004) e o trabalho de Carlino (2003, 2005, 2020), os estudantes são incentivados a desenvolver habilidades de leitura crítica, expressão textual e visual, ao mesmo tempo em que são expostos a perspectivas e experiências diversas. A fim de estreitar laços entre educação, saúde e prática social, entre uma instituição de ensino, a diversidade e a multidimensionalidades de educando-educadores, tem-se na elaboração de planos de ensino e materiais didáticos ferramentas que permitem levar em conta os processos individuais e coletivos de se aprender a dar sentido. Atos que não podem ser separados dos sistemas sociais, pois é através de práticas pedagógicas que podemos questionar, de forma flexível, ordenada e aberta, como as verdades se estruturam na nossa sociedade.
Período de Realização O curso vem sendo ofertado semestralmente e tem duração, em média, de 18h.
Objetivos O objetivo do trabalho como educadora linguística em uma instituição especializada nas ciências da saúde é contribuir para uma formação humanística de profissionais da saúde por meio do ensino de língua inglesa.
Resultados Com base nos relatos da alunagem, é possível concluir que essa abordagem contribui para uma formação mais humanizada, sensibilizando os estudantes para as desigualdades sociais e os desafios enfrentados por diferentes grupos étnicos e raciais, principalmente no contexto da saúde.
Aprendizados Ao integrar discussões sobre temas relevantes, aliadas ao ensino da língua inglesa, percebe-se ser possível contribuir para a formação de profissionais mais consciente das condições dos outros e de si mesmos, assim como da sua responsabilidade, enquanto sujeito transformador, de mudar a realidade. Feitas possíveis modificações e adaptações, essa prática oferece um caminho possível, para professores de línguas adicionais inseridos em contexto acadêmico e em interface com a saúde, comprometidos com a justiça social e a formação de profissionais do campo da saúde.
Análise Crítica Um dos desafios do ensino de língua inglesa na UFCSPA, é a promoção de um ensino que, além de oferecer práticas de leitura e escrita coerentes com as práticas acadêmicas e profissionais dos discentes, contemple os diferentes modos de engajamento e interpretação de textos dos/as discentes e, ainda, esteja comprometido com a justiça social. Nesse contexto, faz-se necessário pensar o ensino de inglês na intersecção com educação e saúde e o impacto que a articulação dessas áreas tem sobre a vida das pessoas.
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