Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO9.3 - Racismo, formação e saúde

47706 - METODOLOGIAS ATIVAS E PROBLEMATIZADORAS PARA A FORMAÇÃO, DECOLONIZAÇÃO E EMANCIPAÇÃO EM SAÚDE
IONARA MAGALHÃES DE SOUZA - UFRB, FRANCIANE DE AZEVEDO QUEIROZ - UFRB


Contextualização
A formação em saúde deve estar voltada para o empoderamento e emancipação dos sujeitos e coletividades, reparação social e decolonialidade. Os desafios históricos e contemporâneos do campo da saúde impõem a necessidade de revisão da práxis pedagógica fundamentada nas ciências sociais e humanas.

Descrição
Trata-se de um relato de experiência baseado em experiência acadêmica. Esse componente curricular teve por objetivo compreender a construção sócio-histórica do conceito de violência, reconhecer as violências como determinantes sociais da saúde e desenvolver competências para prevenção das violências e promoção da cultura de paz. Sistematicamente, as atividades planejadas pautaram-se na interprofissionalidade, metodologias ativas e problematizadoras do processo ensino-aprendizagem, curricularização da extensão e intervenção sobre a realidade.

Período de Realização
29 de agosto a 24 de dezembro de 2022 e de 1º de fevereiro a 02 de julho de 2023.

Objetivos
Relatar a experiência de desenvolvimento do Componente curricular Violência, ética e Cultura da paz (68h), ministrado para duas turmas composta por 30 estudantes (cada) de diversos cursos (Bacharelado Interdisciplinar em Saúde, Enfermagem, Psicologia, Medicina, Nutrição), do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Resultados
Todas as aulas foram precedidas de "Giro de notícias" seguido de expressão artístico-cultural (música, poesia, indicação de livro). Nesse momento, discentes relatavam notícia veiculada sobre ética, violência ou cultura da paz. A notícia deveria ser problematizada pela turma visando compreender a necessidade de ler o mundo, textos, contextos e intertextos e desenvolver o pensamento crítico, sistêmico e propositivo; Foram realizadas roda de conversa com representante da Segurança Pública para fomentar a discussão sobre Guerra às “drogas”, com representante da Secretaria de Desenvolvimento Social, do Conselho Tutelar e do Conselho da Pessoa Idosa para ampliar a discussão sobre Políticas de Proteção Social, com delegada da polícia civil a fim de compreender a atuação e estratégias de enfrentamento à violência contra a mulher.

Realizou-se visita ao Conjunto Penal de Feira de Santana a fim de discutir sobre o encarceramento em massa da população negra, a seletividade no sistema penal, a atenção à saúde no Complexo Penitenciário, efetividade da justiça restaurativa, ressocialização e abolicionismo penal.

Realizou-se vivência no Terreiro Ilê Axé Oroginam a fim de promover discussão sobre racismo religioso.

Ademais, foram realizados Projetos Aplicativos e Seminários Temáticos.

Os Projetos aplicativos corresponderam a intervenções em contextos a partir de imersão no território, análise contextual, fundamentação, justificativa e elaboração de plano de intervenção. Foram desenvolvidos projetos aplicativos em diversos equipamentos: Escola, Casa das Cores (Casa de Acolhimento de Crianças em situação de vulnerabilidade); Conselho da Pessoa Idosa, Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Núcleo Especializado no Atendimento à Mulher NEAM/DEAM.

Os Seminários Temáticos abordaram Racismo institucional, Saúde da População Negra, Controle dos corpos e binaridade de gênero, Violência carcerária, Violência doméstica, Violência obstétrica, Violência e Interseccionalidade: raça/etnia, gênero, classe e deficiência, A violência do Capitalismo, Cultura da paz: filosofia do bem viver, Ética do Cuidado, Direitos humanos.


Aprendizados
Do ponto de vista pedagógico, esse desenho metodológico converge para a perspectiva formativa freiriana, logo contra-hegemônica. Estudantes desenvolveram capacidade de síntese e tomada de decisões, capacidade de elaborar e executar projetos, capacidade de relacionar conhecimentos teóricos e práticos e problematizá-los, habilidade de identificar problemas de saúde, processos de trabalho e de serviços; capacidade de interação e comunicação social; de se indignar e intervir, em alguma medida, sobre as injustiças sociais.

Análise Crítica
Toda ação pedagógica está imbuída de intencionalidade e deve ser protagonizada pelas/os estudantes. O exercício pedagógico deve contemplar vivências nos equipamentos sociais e de saúde, desenvolvimento de projetos socioeducativos, permitindo a visão sistêmica e holística, a integração teórica com as demandas sociais, ressignificação do aprendizado, oportunizando o desenvolvimento de ações efetivamente emancipatórias, promotoras da cultura da paz e, em alguma medida, transformadoras. A práxis pedagógica deve provocar o senso de responsabilidade e compromisso individual e coletivo, o desenvolvimento de competências técnicas, pessoais, interpessoais, afetivas, teóricas, científicas, tecnológicas e políticas; fomentar princípios éticos e valores sociais que produzam enfrentamento às múltiplas violências e perspectivem a construção de uma sociedade antirracista, inclusiva e equânime.