Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO10.3 - Analisando as práticas sociais

46297 - DISCURSOS QUE REVELAM A COLONIZAÇÃO DA ENFERMAGEM PELA INSTITUIÇÃO MEDICINA NAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19.
CARLA APARECIDA SPAGNOL - UFMG, JOSÉ RENATO GATTO JÚNIOR - UFMG, RAFAEL VILHENA REZENDE - UFMG, MARIANA OLIVEIRA GUIMARÃES - UFMG


Apresentação/Introdução
O ano de 2020, foi marcado pela pandemia da Covid-19, a qual tornou-se um desafio para o sistema de saúde global, especialmente nos hospitais, devido aos números expressivos de atendimentos. Além disso, a pandemia, vista sob o olhar dos analistas institucionais, é considerada um analisador natural, uma vez que revelou ainda mais os problemas sociais, a precarização do trabalho, o descaso com setores essenciais como saúde e educação, entre outras questões, que estão diretamente relacionadas com as práticas profissionais. A análise institucional das práticas profissionais proporciona aos trabalhadores repensarem suas dificuldades e contradições, direcionando-os a uma perspectiva de análise das suas implicações políticas, ideológicas, afetivas e organizacionais. Nesta direção, a questão norteadora elaborada para este estudo foi: no cenário da pandemia da Covid-19 como tem se configurado as práticas profissionais da enfermagem no contexto hospitalar?

Objetivos
A partir de uma “análise de papel” utilizando-se o referencial teórico da Análise Institucional (AI), esta investigação teve como objetivo analisar a compreensão da equipe de enfermagem acerca das suas práticas profissionais, com ênfase nas relações de trabalho no contexto da pandemia em um hospital público universitário do estado de Minas Gerais.

Metodologia
Esta é uma pesquisa de abordagem qualitativa em que o cenário foi um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e os participantes foram os profissionais da enfermagem que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguindo os princípios éticos previstos na Resolução nº 466/2012. O critério de inclusão foi atuar neste setor que atendeu pacientes com a Covid-19 e o de exclusão foi estar de férias ou afastado das atividades na época da produção dos dados. Foi utilizada a entrevista semiestruturada e participaram cinco enfermeiros e uma técnica de enfermagem, totalizando seis entrevistas, que foram gravadas, transcritas e organizadas pela técnica de questionamento analítico, elaborada por Paillé e Mucchielli (2012).

Resultados e discussão
Os relatos mostraram que houve mudanças na estrutura física (área de paramentação e de descanso; restrição na circulação de trabalhadores; regras para as visitas dos pacientes), na organização do processo de trabalho (aumento de leitos; controle da entrada de materiais, alimentos e medicamentos; médicos ficaram mais tempo do lado de fora do setor; maior presença de fisioterapeuta; contratação de trabalhadores temporários; comunicação do óbito) e na comunicação interprofissional (chamadas e condutas por bipe e telefone por parte da equipe médica; utilização de plataformas virtuais para comunicação interna e utilização de vídeo chamadas para aproximar os pacientes dos seus familiares). A instituição medicina, de certa forma, determinou uma importante mudança que atravessou fortemente a prática profissional da enfermagem neste contexto da pandemia, o que revelou aspectos, ainda, colonizadores das relações de poder estabelecidas no hospital. A partir de uma justificativa científica, a de restringir a circulação de pessoas para diminuir a contaminação pelo vírus, foi instituída de forma centralizada a decisão dos médicos não ficarem permanentemente no CTI. Isto, trouxe um sentimento de isolamento e indignação da equipe de enfermagem, por ficar mais tempo exposta ao vírus que os demais profissionais, além de diversas consequências como atraso nos procedimentos; insegurança dos profissionais; estresse; reclamações de ser uma equipe pouco ouvida pelos gestores, inclusive pelos diretores do hospital, entre outros fatores que foram apontados. Assim, os discursos mostraram que no cotidiano a força colonizadora da instituição medicina trouxe algumas condutas instituintes que confrontaram outras que já estavam instituídas, principalmente ao mudar a forma de comunicação entre a equipe médica e de enfermagem, que no auge da pandemia se deu por bipe ou telefone, pois, a enfermagem era a única equipe que ficava constantemente dentro do CTI, na assistência aos pacientes. Os discursos também revelaram que os profissionais da enfermagem se veem críticos, porém, pouco politizados e sem força de mobilização coletiva para lutar pelos seus direitos.

Conclusões/Considerações finais
Portanto, na abordagem da AI é importante analisar as implicações que os profissionais estabelecem com as instituições que atravessam cotidianamente a sua prática. Por isso, pretende-se dar continuidade à este estudo, realizando uma pesquisa-intevenção na vertente Socioclínica Instituicional, a fim de debater aspectos como: formação interprofissional, condições de vida e de trabalho, políticas públicas, além dos rumos da profissão, o que pode contribuir para fortalecer a enfermagem, repensar o processo de trabalho no contexto hospitalar, além de traçar estratégias e formas de enfrentamento coletivo para outras pandemias.
Referência: PAILLÉ, P.; MUCCIELLI, A. L´Analyse Qualitative en Sciences Humaines et Sociales. 3ª ed. Paris: Armand Colin, 2012. 423 p.