Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO10.3 - Analisando as práticas sociais

48083 - ASPECTOS DA FORÇA COLONIZADORA DA INSTITUIÇÃO MEDICINA REVELADOS NA PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
REGIANE PRADO RIBEIRO - UFMG, CARLA APARECIDA SPAGNOL - UFMG, LARISSA FERNANDA DO COUTO BRANDI - UFMG


Apresentação/Introdução
O parto é um fenômeno complexo e, para além das ciências da saúde, seu estudo também interessa às ciências sociais, dada a permeabilidade das práticas às culturas locais e sua grande variabilidade geográfica, mesmo em países industrializados (DINIZ, 2009). Na área da enfermagem obstétrica, identificam-se avanços na regulação, formação e qualificação de profissionais, na humanização da assistência ao parto e nascimento, entre outros aspectos relacionados à prática profissional. Entretanto, apesar desses avanços, no cenário do hospital universitário ainda, predomina uma assistência ao parto baseada no modelo biomédico, em que as relações de poder estão presentes entre médicos e enfermeiras obstétricas no cotidiano de trabalho.

Objetivos
A partir dos resultados de uma dissertação de mestrado profissional em gestão de serviços de saúde, realizou-se um recorte, delineando o seguinte objetivo para este estudo: criar um dispositivo que proporcione às enfermeiras obstétricas momentos de análise das implicações e da sua prática profissional, com vistas aos desafios para se instituir um trabalho em equipe e integrado na maternidade, com práticas baseadas em evidências científicas no cuidado à mulher e ao recém-nascido.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-intervenção que utilizou o referencial teórico metodológico da Análise Institucional (AI) na vertente Socioclínica Institucional, a qual viabiliza a análise das relações entre os trabalhadores e as instituições, bem como de suas implicações no campo profissional. O cenário do estudo foi a maternidade de um hospital universitário, público e geral, localizado em Minas Gerais. Para a produção dos dados foi construído o dispositivo denominado “encontros socioclínicos”, totalizando quatro encontros realizados no período de outubro a dezembro de 2019, com a participação de 15 enfermeiras. Os dados produzidos foram organizados e analisados a partir das oito características da Socioclínica Institucional definidas por Monceau (2013). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados e discussão
Os encontros socioclínicos possibilitaram a análise das implicações libidinais, ideológicas, profissionais e organizacionais das enfermeiras, trazendo à tona conflitos com a equipe médica, pelo fato de as enfermeiras obstétricas não conseguirem atuar de forma mais efetiva junto à parturiente em um cuidado contínuo e humanizado. Na maior parte do tempo, isso ocorre por imposição das rotinas institucionais que reforça aspectos, ainda, colonizadores da instituição medicina, a partir das relações de poder estabelecidas no hospital. Por outro lado, a instituição gestão também atravessa de forma significativa a prática da enfermeira obstétrica, visto que as atividades administrativas, absorvem grande parte do seu tempo. Assim, verifica-se que os médicos controlam as normas e determinam o modelo hegemônico de assistência centrado na medicalização do parto, ou seja, o instituído é regido pelo poder da instituição medicina. Mas, os resultados também evidenciaram que o movimento de institucionalização das práticas instituintes das enfermeiras obstétricas, que defendem os direitos da mulher e um modelo de assistência ao parto e nascimento integral e mais humanizado têm enfrentado o poder instituído. Mediante inúmeros desafios as enfermeiras obstétricas deste estudo lutam por autonomia e reconhecimento profissional, defendendo o trabalho interprofissional e interdisciplinar. Nesse sentido, um dos produtos desta pesquisa-intervenção foi a proposta do planejamento estratégico como uma ferramenta capaz de contribuir para a organização e sistematização da assistência prestada e corresponsabilização das equipes, a partir da realização de um trabalho coletivo no cenário hospitalar.

Conclusões/Considerações finais
Para concluir, pode-se dizer que a inserção da enfermeira obstétrica, na maternidade em estudo, se relaciona ao predomínio de um cuidado considerado humanizado, ao uso de métodos que respeitam a fisiologia do corpo da mulher, além de contribuir para a reorientação do modelo assistencial preconizado pelas políticas públicas de saúde. Entretanto, elas ainda encontram dificuldades para atuar na assistência ao parto sem distócia, visto que no hospital universitário a assistência às parturientes tem sido majoritariamente realizada por médicos. Portanto, as enfermeiras obstétricas reconheceram suas fragilidades e a falta de organização para resolverem os seus problemas, mas, também compreenderam a importância de se fortalecerem como um coletivo para intervirem nas relações profissionais e nos processos de trabalho.
Referências:
DINIZ, S. G. Gênero, saúde materna e o paradoxo perinatal. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 313-326, 2009.
MONCEAU, G. A socioclínica institucional para pesquisas em educação e em saúde. In: L’ABBATE, S.; MOURÃO, L. C.; PEZZATO, L. M. Análise Institucional & Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec, 2013. p. 91-103.