Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO11.3 - Envelhecimento e direitos humanos em contexto de iniquidade social

46809 - LIBERDADE OU SOLIDÃO: NARRATIVAS DE MULHERES IDOSAS QUE RESIDEM SOZINHAS
LARISSA DA FRANÇA MEDEIROS - IFF/FIOCRUZ, ANDREZA RODRIGUES - EEAN/UFRJ


Apresentação/Introdução
Provocamos no título o comumente associado à mulheres idosas que residem só, o senso comum que impera ao redor do envelhecimento: a homogeneização da velhice como algo negativo, dependente, resumido a doenças. A mudança nos últimos anos do perfil de pessoas idosas residindo sozinhas trouxe algumas indagações: a mulher idosa que reside sozinha o faz por vontade própria ou ausência de? Além disso, sua experiência é positiva ou negativa? Esse trabalho é resultado da pesquisa “O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA VIDA DA PESSOA IDOSA QUE RESIDE SOZINHA: entrevistas narrativas com mulheres idosas do bairro da Cidade Nova/RJ”, aprovado pelos Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery e Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro por meio da Plataforma Brasil, sob números 49188421.2.0000.5238 e 49188421.2.3001.5279, respectivamente. Foram atribuídos nomes fictícios às entrevistadas.

Objetivos
Identificar os modos de residir sozinha na velhice, ancorada nas diferentes narrativas de mulheres idosas e na literatura;

Metodologia
Pesquisa qualitativa exploratória a partir de estudos de narrativa; Análise de entrevistas narrativas em profundidade com 6 mulheres que residem sozinhas no bairro da Cidade Nova/RJ;

Resultados e discussão
Foram entrevistadas 6 mulheres socialmente ativas. Sendo 2 de 65 a 75 anos incompletos, 3 de 75 a 85 anos incompletos e 1 com mais de 85 anos. Dessas, 3 eram viúvas e 3 solteiras, e 3 haviam tido filhos. Quanto à autodeclaração de raça/cor, 3 eram brancas, 2 pretas e 1 parda. Pode-se destacar que morar sozinha se deu por diversos motivos: devido à viuvez, com a ausência de parentes próximos, com a saída dos filhos de casa ou por vontade própria. Aquelas que não foram casadas, residiam sozinhas antes da velhice por vontade própria, devido à migração, por motivo de trabalho ou por ausência de parentes próximos. As falas quanto a gostar de morar sozinha versou entre “me acostumei”, "me acostumei, não gosto”, “aprendi a gostar”, “gosto” e “amo morar sozinha”. Duas entrevistadas passaram a morar sozinhas depois que seus maridos faleceram e seus filhos saíram de casa e ambas relataram gostar de morar sozinhas, Neide vive assim há 21 anos e Ana há 2. Neide, 84 anos, destaca sua autonomia como justificativa para gostar de morar sozinha. Para ela, poder escolher o que vai comer e qual atividade irá fazer no dia aparece em contraponto às vezes que passa na casa de sua filha e tem pouca governabilidade. Reconhece suas limitações atuais para algumas atividades de casa, mas que não são suficientes para impedi-la de viver assim. Ana, 65 anos, diz ter aprendido a gostar e “agora não quer outra vida”. O envelhecimento e as velhices estão em constante mudança, a depender de variados fatores. Para muitas mulheres, ao chegar à velhice, terão seu momento de liberdade, após uma vida regrada em servir ao marido, filhos e casa, é possível conhecer e viver a liberdade na velhice, sem a opressão de maridos, pais e sociedade como um todo. Já Vânia passou a morar sozinha após ficar viúva, há 7 anos, e diz não gostar de morar sozinha, entendendo o estar sozinha como solidão, embora já tenha se acostumado; Ela teria outras possibilidades, como morar com sua família, mas optou por continuar morando sozinha. Joana, embora apresente dificuldades em deambular, considera positivo morar sozinha, mas se queixa por estar longe de seus familiares e faz planos de retorno à cidade natal. Laura também pretende sair da metrópole, vislumbrando uma vida tranquila, na área rural. Conceição relata morar sozinha desde a juventude, ama sua liberdade e não se vê morando com mais ninguém. A dependência não foi um fator que apareceu em nenhuma entrevista. As queixas quanto à morar sozinha não foram devido a limitações.

Conclusões/Considerações finais
Há um estereótipo negativo neste processo de tornar-se velha(o), associando o envelhecimento a declínio e perdas, dependências e estigmatização. É necessário pensar que o envelhecimento não é homogêneo, pensar que as experiências compartilhadas não serão em sua completude, pois envelhecer está atrelado aos diferentes marcadores: gênero, raça, classe social, entre outros. Assim, é sabido que o residir sozinho na velhice é carregado por senso comum e noções pré-concebidas acerca do envelhecimento. A concepção de fragilidade e dependência atrelada a esta parcela da população está presente nas relações diárias, familiares, sociais, inclusive nos setores de saúde. Esta concepção despersonaliza e descaracteriza o sujeito, não considerando-o como sujeito de direitos e que há diversidade no envelhecimento. As falas das seis mulheres idosas que vivem só na região central da cidade do Rio de Janeiro, têm lugares comuns, interagem e em alguns aspectos são semelhantes, demonstram o que é ser mulher idosa, numa sociedade patriarcal, com o modo de produção capitalista. E as suas falas diferentes reafirmam que o envelhecimento não é um caminho igual para todas as mulheres.