48090 - O NASCIMENTO DE UM PROJETO DE EXTENSÃO: EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO EM SAÚDE COM POPULAÇÃO DESABRIGADA APÓS ENCHENTE EM SÃO LEOPOLDO – RIO GRANDE DO SUL MÔNICA PAULA TRELLES - UNISINOS, TIAGO SIGAL LINHARES - UNISINOS, NATALIA CAMPANA AYZEMBERG - UNISINOS
Contextualização Em junho de 2023, um ciclone extratropical causou a maior enchente da região de São Leopoldo (SL), Rio Grande do Sul (RS), dos últimos 10 anos, deixando centenas de pessoas desabrigadas. Os moradores das ocupações urbanas de SL foram os mais afetados, ressaltando o problema social da limitação do acesso dessa população a serviços essenciais.
O processo de urbanização da cidade de SL deixa mais de 12 mil pessoas, moradoras de 18 ocupações urbanas, cerceadas de serviços públicos essenciais (saúde, transporte, lazer, educação), e instalações sanitárias adequadas (água, esgoto, luz e coleta de lixo). Fenômenos sócio-ambientais, como enchentes, incidem com maiores perdas sobre populações marginalizadas, com impacto sobre a saúde (afogamentos, doenças infectocontagiosas, traumas físicos e psicológicos) e prejuízo econômico.
Descrição Diante do contexto emergencial, uma equipe de saúde formada por professores, alunos e residentes da Escola de Saúde da Universidade do Vale dos Sinos deslocou-se a locais que abrigavam os atingidos pela enchente para prestar atendimentos de saúde. Foram prestados mais de 150 atendimentos nos cinco dias de atendimento. O acesso dos usuários ocorreu sem quaisquer restrições, no modelo de acesso avançado.
Inicialmente, os atendimentos foram realizados no Ginásio Municipal - local destinado às famílias desabrigadas. Posteriormente, a equipe deslocou-se a localidades diretamente atingidas pela enchente. Centros de atendimento foram montados em escola municipal; centro comunitário e igreja de ocupações afetadas - Ocupações Renascer e Steigleder.
Período de Realização Entre os dias 19 a 23 de junho de 2023.
Objetivos O grupo visava o atendimento de demandas agudas, demandas crônicas e suas exacerbações e reorganização de cuidados preventivos e de promoção em saúde, distribuição de insumos e medicações, além de vigilância e educação em saúde - especialmente doenças infectocontagiosas como leptospirose.
Resultados Nos cinco dias de atividade foi possível montar estruturas provisórias de acolhimento e atendimento, com insumos para aplicação e fornecimento de medicamentos e realização de procedimentos.
O perfil dos pacientes abrangeu crianças, gestantes e mulheres no período puerperal, adultos e idosos. Foram atendidas demandas agudas (síndrome gripal, gastroenterite, lesões de pele, infecção urinária, crise de ansiedade entre outros) e agudizações de comorbidades crônicas (estado hiperglicêmico, crise hipertensiva, asma e DPOC descompensados). A ação de ensino-serviço evitou internações de condições sensíveis à atenção primária. Ademais, foi realizado a coordenação do cuidado de pacientes com doenças crônicas não transmissíveis que perderam documentos e receitas.
A inserção da equipe nos locais acometidos pela enchente permitiu a vigilância de casos suspeitos de leptospirose, arboviroses e surtos de doenças diarreicas, realizando as notificações obrigatórias e a articulação necessária com o restante da RAS (Rede de Atenção à Saúde), coordenadas pela Gestão Municipal (GM).
A atividade garantiu assistência qualificada em saúde para os usuários e contribuiu com a formação de alunos e residentes, de modo a permitir o ensino de ferramentas de comunicação, escuta e competência cultural, além de sensibilizá-los às questões sociais e iniquidades.
Por fim, foi possível dar visibilidade às demandas daquelas comunidades e apresentar à GM a necessidade de construir políticas públicas para garantir o permanente acesso delas à direitos essenciais.
Aprendizados Diante das dificuldades encontradas, evidenciou-se que os serviços de saúde não estão devidamente capacitados para atuar diante de situações emergenciais de larga escala e catástrofes. A alta possibilidade de recorrência desses eventos torna indispensável que um plano de contingência de riscos e protocolos para essas situações sejam elaborados conjuntamente às lideranças comunitárias das zonas de risco, à coordenação pedagógica da Universidade (diante de sua responsabilidade social), e à GM.
Análise Crítica Além do trabalho assistencial, de promoção, prevenção e vigilância em saúde, foi possível conhecer a realidade e aproximar a Universidade e suas potencialidades dessas comunidades. Trabalhou-se com uma proposta que respeita a cultura e os conhecimentos desses indivíduos, buscando entender suas necessidades e refletir sobre o papel da Academia como agente social no tensionamento em busca de políticas públicas para melhores condições de vida.
Nesse sentido, o ponto a ser destacado é do papel fundamental que a extensão universitária exerceu ao romper as barreiras de acesso das comunidades e ocupações urbanas. Tais populações estão em constante risco de adoecimento devido às péssimas condições de saneamento, pobreza extrema, insegurança alimentar, estresse psicológico, contato com resíduos contaminados e animais, demonstrando a necessidade de acesso facilitado a serviços de saúde com foco na prevenção e promoção de saúde, bem como no modelo que foi prestado.
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