03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO14.2 - Vulnerabilidades no contexto da Covid 19 |
46075 - GÊNERO, PETRÓLEO E PANDEMIA NA COMUNIDADE DE ILHA DE DEUS MARIANA MACIEL NEPOMUCENO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), JOSÉ ERIVALDO GONÇALVES - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO, THAYNÃ KAREN DOS SANTOS LIRA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE), MARIA ALICE MARTINS SANTOS - FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE, MARIANA OLÍVIA SANTANA DOS SANTOS - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO, IDÊ GOMES DANTAS GURGEL - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO, ROSELY FABRÍCIA DE MELO ARANTES - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), ANA CATARINA LEITE VÉRAS MEDEIROS - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), EVELYN SIQUEIRA DA SILVA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), RAFAELLA MIRANDA MACHADO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), MIRANDA GURBINDO FLORES - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS), BIANCA CARDOSO PEIXINHO - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FIOCRUZ PERNAMBUCO/ FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAÚDE (FPS)
Apresentação/Introdução Em agosto de 2019, o desastre-crime do petróleo afetou os territórios da pesca artesanal no Brasil. Foram atingidos 11 estados brasileiros, constituindo-se um grave problema de saúde pública pela exposição ao petróleo e derivados, como os hidrocarbonetos aromáticos: benzeno, tolueno, xileno e outros que comprovadamente estão relacionados a distúrbios psíquicos e alterações bioquímicas e biofísicas, bem como a repercussão desse desastre-crime nas condições sociais, explicitado pela interrupção do processo de trabalho e na baixa procura do pescado, vulnerabilizando simbólica e materialmente essa população. Subsumido a esse desastre-crime a pandemia de covid-19 agravou os processos de vulnerabilização e as vulnerabilidades ocasionadas pela exposição ao petróleo.
Este relato aborda o contexto vivenciado pelas mulheres pescadoras/s da comunidade de Ilha de Deus, Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) localizada na cidade do Recife, Pernambuco, que foram afetadas pelo desastre-crime do petróleo em 2019 e a pandemia de covid-19. O território da Ilha de Deus é compreendido entre o manguezal e bairros da Zona Sul do Recife, próximo a shoppings e outros empreendimentos. Cerca de 95% da população da comunidade mantém a sua renda a partir da coleta e da venda do marisco e foi afetada não apenas pela chegada do petróleo bruto mas também pelos prejuízos ao meio-ambiente, interdição da comercialização e baixa procura de compradores.
Objetivos Descrever a percepção de gênero, de saúde e de ameaça à vida no discurso de mulheres pescadoras de comunidades tradicionais atingidas pelo desastre-crime do petróleo no contexto da pandemia de covid-19.
Metodologia Estudo descritivo analítico com abordagem qualitativa. Os dados foram coletados por meio de rodas de conversa realizadas entre setembro de 2022 e janeiro de 2023 com média de 15 pescadoras da comunidade de Ilha de Deus, no município de Recife, Pernambuco. Os encontros foram guiados a partir de temas relacionados ao trabalho e as vivências das mulheres. Foi utilizado um roteiro semi-estruturado de questões centrais vinculadas à matriz de processos protetores e destrutivos para a saúde humana e ambiental, proposta por Breilh (2003). Os dados foram interpretados à luz do Discurso do Sujeito Coletivo.
Resultados e discussão Foram relatadas impressões sobre a divisão sexual do trabalho, além de vivências de gravidez interrompida, de violência de gênero e feminicídio dentro do núcleo familiar e prejuízos relacionados à saúde decorrentes do processo de trabalho da pesca. Nas mulheres mais jovens, predominava a atividade da pesca como trabalho eventual e informal, necessário à subsistência. Para as mais velhas, ser pescadora constituía parte da sua identidade. Foram identificadas reflexões sobre a dificuldade do acesso aos serviços de saúde e o desamparo pelo Estado no apoio social frente às vulnerabilidades socioambientais enfrentadas pelas mulheres na comunidade durante o desastre-crime do petróleo e a pandemia embora a USF tenha sido apontada como elemento protetivo.
Conclusões/Considerações finais O território da pesca artesanal é imbricado por questões de gênero que ressoam em dimensões socioculturais e integram condições gerais de produção e reprodução dos espaços e da vida. A generificação é um princípio ativo na produção de desigualdades dentro do desenvolvimento das forças produtivas de um território. É necessário aprofundar os estudos sobre gênero para ampliar a discussão sobre o entendimento acerca da construção da identidade das mulheres pescadoras, a partir de uma perspectiva geracional e de pertencimento ao território, observando o trabalho da pesca como espaço de amparo e de aprofundamento de laços sociais.
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