03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO14.2 - Vulnerabilidades no contexto da Covid 19 |
46894 - RESISTÊNCIA NA PANDEMIA: PROTEÇÃO À COVID-19 E REDE DE CUIDADO EM OCUPAÇÕES DO MOVIMENTO DOS SEM-TETO DE SALVADOR PAULO JORGE DE SOUZA VIANNA - ISC/UFBA, ISABELLA SOARES CASTELO - ISC/UFBA, ZILDA FARIAS - MSTB, LUCIANA ROHRS - MSTB, MARIA LUIZA SILVA SANTOS - MSTB, JOSIEL SANTOS DA SILVA - MSTB, AILTON PORTELA - MSTB, JOSENILDES ARAÚJO BARBOSA SANTOS - MSTB, RITA DE CASSIA FERREIRA DOS SANTOS - MSTB, JULIANO LUÍS PALM - ENSP/FIOCRUZ, YEIMI ALEXANDRA ALZATE LÓPEZ - ISC/UFBA, JOILDA SILVA NERY - ISC/UFBA, MARCELO FIRPO DE SOUZA PORTO - ENSP/FIOCRUZ
Contextualização A falta de acesso à Saúde e outros direitos básicos de cidadania se tornou um agravante a partir do contexto de pandemia da Covid-19, que evidentemente acirrou os processos de vulnerabilização para as comunidades periféricas. Frente ao imperativo das medidas de proteção como o distanciamento social e normas de higiene e cuidado, nas ocupações do Movimento dos Sem-Teto da Bahia (MSTB) pautavam mais incertezas do que respostas sobre como efetivar essas medidas de proteção da saúde. Dessa forma, a organização comunitária liderada pelo MSTB foi fundamental para minimizar a vulnerabilidade das famílias, dado que não se identificou casos da doença e se ampliou a redes de cuidado estabelecidas pelas mulheres, especialmente no compartilhamento de uso de ervas e plantas medicinais.
Descrição Relato do Trabalho de campo de visitações e rodas de conversa desenvolvido na parceria entre pesquisadores e docentes do Instituto de Saúde Coletiva/UFBA, moradores das Ocupações Quilombo Paraíso e Manuel Faustino do Movimento de Sem-Teto da Bahia e bolsistas territoriais do Projeto “Conexões entre agroecologia, moradia digna e cuidado na construção de territórios urbanos sustentáveis e saudáveis em tempos de Covid 19: potencialidades para a redução de vulnerabilidades e a promoção emancipatória da saúde no Rio de Janeiro e Salvador” onde buscou-se identificar as estratégias de cuidado e proteção da saúde adotadas na organização comunitária desses territórios na Bahia.
Período de Realização Setembro de 2022 a Janeiro de 2023.
Objetivos Descrever questões surgidas no trabalho de campo desenvolvido nas Ocupações Manoel Faustino e Quilombo Paraíso do MSTB seja para denunciar os diversos processos de vulnerabilização enfrentados pelas pessoas e a ausência do direito à Saúde agravados com a pandemia ou para anunciar as experiências de Organização Comunitária e formação de redes de cuidado.
Resultados Durante a pandemia, conforme relato dos moradores, a preexistência dos dispositivos coletivos de acolhimento e proteção facilitou o manejo do combate à Covid-19, principalmente nas ocupações Manoel Faustino e Quilombo Paraíso, estando em zona de alto risco para contágio. Confecção de máscaras, instalação de pias, doação de cestas básicas e produção de cartilhas foram algumas das medidas adotadas dentro dos movimentos em prol da segurança dos moradores. Além disso, observou-se como o papel das lideranças femininas e da organização comunitária de base estabeleceram uma rede de cuidados que se conformou como fatores de proteção e solidariedade. Para além disso, o domínio da terapêutica com o uso de ervas e plantas medicinais aliado a preservação e catalogação das matas ao redor das comunidades compõem uma potente estratégia da Farmácia-Viva.
Aprendizados O MSTB possui um modo de enfrentamento que, continuamente, se sustenta na maestria e empenho de mulheres, sobretudo de mulheres negras. Sua ordenação se coloca como oportunidade para a valorização do segmento feminino e efetivação da citada imbricação de agendas de luta por, prontamente, contestar os papéis de gênero dentro das esferas de poder. Na promoção da saúde dentro destas comunidades, o protagonismo feminino tem mediado o trânsito de saberes populares que, fornecendo alternativas ao modelo tradicional biomédico, permitem uma descentralização das práticas terapêuticas a partir de contribuições culturais historicamente invalidadas. Retoma-se, com isso, uma lógica comunitária que reabilita o funcionamento das redes sociais de cuidado dentro da malha urbana.
Análise Crítica Diante das potencialidades dos diversos saberes e da rede de cuidados existentes nas comunidades sobre o uso de ervas e plantas medicinais, elas se constituem como complementar, por vezes alternativas ao tratamento biomédico, dado a falta de acesso no serviço de saúde local. A partir de um notório resgate ancestral e organização comunitária de base, essas comunidades impulsionam “a cultura política democrática pautada na autonomia, horizontalidade e práticas emancipatórias”. Logo, se constituem como territórios legítimos de luta por justiça socioambiental e alcance de uma saúde universal, integral e equânime para todas, todos e todes.
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