47646 - GÊNERO E CUIDADO COMUNITÁRIO EM FOCO: PESQUISA-AÇÃO EM UM TERRITÓRIO PERIFÉRICO DA CIDADE DE SÃO LEOPOLDO/RS LAURA CECILIA LÓPEZ - UNISINOS, CAUÊ RODRIGUES - UNISINOS, SUELI ANGELITA DA SILVA - UNISINOS, MURILO SANTOS DE CARVALHO - UNISINOS, NATÁLIA INÊS SCHOFFEN CORREA - UNISINOS
Apresentação/Introdução Os estudos de gênero que refletem sobre as políticas de cuidado vêm crescendo nas últimas décadas. Interessam-nos aqui as reflexões feitas em contextos latino-americanos, principalmente os estudos interseccionais que trazem, de maneira relacional, a dimensão de gênero articulada com raça, classe, sexualidade, idade/geração. Esses estudos refletem sobre o cuidado a partir da organização social e das profundas iniquidades no cenário regional e questionam como o trabalho de cuidado (seja ele formal ou informal; vinculado à manutenção da vida familiar, comunitária e/ou social) se distribui por gênero, considerando que as mulheres acumulam essas várias atividades. Neste texto, apresentamos reflexões iniciais de pesquisa que foca nas desigualdades de gênero com persistência na região e os desdobramentos e acirramentos no cenário da pandemia de COVID-19, principalmente pautando a relação entre gênero e cuidado, na sua dimensão comunitária e na articulação com políticas públicas. O acirramento de violências estruturais recai sobre segmentos da sociedade historicamente relegados e se expressa, por exemplo, no aumento dos casos de feminicídios, de agressões e assassinatos de pessoas LGBTI+ e de jovens negros das periferias urbanas, e em ataques diversos aos territórios/populações indígenas e quilombolas, conforme mostram diversos estudos. Notam-se os impactos das violências e desigualdades, as regulações da vida e o poder de morte exercido sobre amplos setores das sociedades latino-americanas.
Formas de violência inscritas nos corpos subalternizados através de longas histórias de colonização, de processos políticos e econômicos produtores de desigualdades são reatualizadas em contextos de crises sanitárias, mas também as formas de resiliências e resistências que esses sujeitos foram criando, por exemplo, no ato de assumir o cuidado dos outros como responsabilidade social ou ao denunciar publicamente as precariedades da vida e do cuidar.
Objetivos Objetiva-se refletir sobre articulação entre gênero e práticas de cuidado comunitário, num bairro periférico da cidade de São Leopoldo/RS. A partir de um olhar interseccional, abordamos como as dinâmicas de gênero permeiam a organização das vidas no território e como incidem na distribuição de cuidados com a saúde e a manutenção das vidas.
Metodologia Trata-se de pesquisa-ação, cujo centro é a elaboração de um Diagnóstico Participativo de Equidade de Gênero no território escolhido, que no caso é um bairro periférico da cidade de São Leopoldo/RS, sendo um espaço de presença marcante de população negra e indígena numa cidade construída simbolicamente pela branquitude, como “berço da colonização alemã” na região. O diagnóstico participativo é um processo de trabalho e planejamento amplo que busca dar respostas de maneira coletiva a perguntas, inquietações e necessidades, que estão dispersas no saber dos participantes e que conformam a memória grupal, com a ideia de “compreender para resolver”. Assim, o foco não são apenas os problemas e necessidades, mas também quais são os recursos que a comunidade possui para enfrentá-los. A pesquisa pretende ter efeitos localizados nos modos de produzir cuidado, assim como propor um modelo de Rede Comunitária de Cuidados Gênero-Sensível que possa ser aplicado em diferentes territórios, para enfrentar desafios e problemáticas persistentes relacionadas às inequidades.
Resultados e discussão Analisamos como o gênero e outros marcadores aparecem no território, vinculados a espaços de proteção social e cuidado. Por exemplo, associações que cuidam de crianças e mulheres, as Equipes de Saúde da Família que atuam no território aparecem como espaços de cuidado. Um dos casos é a Associação de Moradores, que nos últimos tempos recuperou ações de cuidado comunitário e é liderada por dois homens negros. Mas também aparece a desproteção em áreas de tráfico de drogas e violência urbana, que afeta homens jovens, principalmente negros, assim como a falta de cuidados comunitários com as mulheres e pessoas LGBT+ que sofrem violência de gênero em diferentes âmbitos. Os homens mostraram desproteção também no acesso limitado aos equipamentos de saúde.
Conclusões/Considerações finais Notamos resistências e (re)existências de sujeitos e grupos que fazem dos corpos, territórios políticos, nas lutas por reconstruir os tecidos comunitários como potência de vida. Nesse sentido, as redes de cuidado comunitárias existem em muitos grupos sociais como maneira de existir e resistir frente a situações que potenciam a precariedade e a morte. Isto está sendo evidenciado no território pesquisado, considerando que a pandemia ativou (e potencializou) formas e experiências sociais de sofrimentos e precariedades já existentes, mas também instigou a criação e transformação das maneiras de lidar com essas experiências.
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