Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO14.2 - Vulnerabilidades no contexto da Covid 19

47991 - MULHERES QUE VIVEM COM HIV/AIDS: BORDANDO HISTÓRIAS DE VIDA NA PANDEMIA DE COVID-19
JACQUELINE ARAUJO DA SILVA - EACH/USP, ELIZABETE FRANCO CRUZ - EACH/USP


Apresentação/Introdução
Esta pesquisa teve como objetivo explorar as experiências de mulheres que vivem com HIV/AIDS durante a pandemia de COVID-19, com foco em diversos aspectos de suas vidas, incluindo trabalho e renda, saúde mental, cuidados de saúde, sexualidade, cuidados com a família, e jornada de trabalho. O estudo buscou entender os desafios e as estratégias de enfrentamento adotadas por essas mulheres em meio às circunstâncias adversas impostas pela crise sanitária, que afetou de maneiras diferentes os grupos populacionais a depender das relações de gênero, raça/cor e situação socioeconômica.

Objetivos
Conhecer e descrever os efeitos da pandemia pelo COVID-19 nos seguintes aspectos da vida das mulheres que vivem com HIV/AIDS: renda e jornada de trabalho, acesso aos serviços e tratamentos de saúde, saúde mental, autocuidado e sexualidade.

Metodologia
Esta pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa baseada na perspectiva construcionista e foram realizadas 11 entrevistas individuais de forma online ou presencial. As entrevistas foram transcritas e analisadas a partir de mapas dialógicos sugeridos por SPINK e colab (2014). As participantes vivem nas cidades de São Paulo, Itanhaém ou Salvador em diferentes contextos socioeconômicos. Foi realizada também uma roda de conversa com bordado. O uso do bordado livre na roda de conversa se deu pelo reconhecimento do ato de bordar coletivamente como um espaço potencial de trocas e transformação de realidades, facilitando o contato com os sentimentos, vivências e memórias ao realizar um trabalho manual.

Resultados e discussão
Através das entrevistas e da roda os temas citados mais presentes foram:
Renda e jornada de trabalho: as entrevistadas enfrentaram dificuldades significativas relacionadas à manutenção do emprego e da renda durante a pandemia a depender do local onde vivem. Houve mudanças de jornadas de trabalho, perda de emprego e diminuição da renda em alguns casos. Também se observou a falta de uma rede de apoio experienciada por todas as entrevistadas que, eram responsáveis pela manutenção da casa, dos filhos e afazeres domésticos. Devido o distanciamento social, as mulheres entrevistadas que tinham filhos pequenos tiveram que reorganizar a rotina de cuidados, visto que serviços como creche e cuidados de terceiros tiveram que ser interrompidos.
Saúde mental: A pandemia de COVID-19 exacerbou os desafios de saúde mental enfrentados pelas mulheres vivendo com HIV. O isolamento social, a sobrecarga mental o medo do contágio pelo coronavírus e o estigma e preconceito que ainda existem foram fatores que contribuíram para o aumento da ansiedade, depressão e estresse.
Cuidados de saúde: Apesar de não relatarem dificuldades quanto ao acesso aos medicamentos antirretrovirais durante a pandemia, as mulheres entrevistadas relataram a dificuldade de acessar serviços especializados devido a interrupções no sistema de saúde. Também houve relatos sobre a sobrecarga dos profissionais de saúde e o quanto isso refletiu na qualidade dos atendimentos.
Relacionamentos e sexualidade: o diagnóstico do HIV teve um impacto significativo na vida sexual das mulheres, superando a influência da pandemia de COVID-19. Durante as entrevistas realizadas com 11 participantes, observou-se que oito delas viviam com o vírus há mais de 10 anos, o que afetou sua maneira de se relacionar, levando-as a evitar encontros sexuais para evitar revelar seu diagnóstico. O estigma e o preconceito em relação ao HIV estão presentes de várias formas, levando muitas mulheres a optarem por não divulgar sua condição ou até mesmo evitar relacionamentos, como uma forma de autopreservação. Além disso, foi mencionada a dificuldade de negociar o uso de preservativos nos encontros sexuais.
Participação em grupos e ONGs: outro tema presente durante as entrevistas foi a importância que grupos e ONGs de ativismo sobre o HIV tem na vida das mulheres. Foi na participação desses grupos que muitas reencontraram o desejo de viver, o entendimento de que o diagnóstico não é uma sentença de morte e o apoio de outras mulheres.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa revelou os desafios enfrentados pelas mulheres vivendo com HIV durante a pandemia de COVID-19, evidenciando a persistência do preconceito e estigma em suas vidas diárias, mesmo após décadas de estudos e políticas públicas relacionadas ao HIV e à AIDS. Além disso, as questões de gênero continuam a impor uma sobrecarga nas vidas dessas mulheres. Porém, embora a pandemia de COVID-19 tenha sido desafiadora, muitas delas encontraram maneiras de enfrentar a adversidade, buscando apoio emocional e adaptando-se a novas formas de interação social. É essencial o investimento em políticas públicas e o desenvolvimento de ações educativas sobre o HIV/AIDS, tanto no sentido da prevenção como também para combater o preconceito e o estigma associados à doença.