Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.5 - Violência de gênero e violência doméstica: lições para o sistema de saúde

46200 - “EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, NINGUÉM METE A COLHER”: IMPACTOS DA PEDAGOGIA AFETIVA SOBRE A VIOLÊNCIA DE GÊNERO
LOYANE ELLEN SILVA GOMES - UFC, JULIANA GUIMARÃES E SILVA - UFC, MARCO TÚLIO AGUIAR MOURÃO RIBEIRO - UFC


Contextualização
A relação conjugal, dentre os vínculos sociais que compõem o desenvolvimento humano, trata-se de um dos eventos mais importantes e supervalorizados pela sociedade desde que o mundo é mundo. No entanto, o vínculo conjugal, por vezes, pode se tornar um atestado existencial, especialmente para o gênero feminino. Consoante a isso, a literatura aponta que a sociedade implementa uma pedagogia afetiva, que se concretiza a partir de um processo de ensino-aprendizagem distinto no que diz respeito à forma como homens e mulheres emitem sentimentos e, por conseguinte, estabelecem relações conjugais. Para as mulheres, percebe-se que a pedagogia afetiva ocorre a partir da cobrança social para atender às demandas alheias, ainda que o preço seja não atender ou terceirizar suas próprias questões. Dessa forma, é notório que ao gênero feminino é interpelado à emissão de empatia, responsabilidade e disponibilidade para o outro, mesmo diante de casos que não demandem isso, como, por exemplo, em situações de violência de gênero.

Descrição
O presente estudo é fruto de reflexões durante e após a realização de uma roda de conversa, que integra um projeto mais amplo destinado a promover a emancipação de mulheres como recurso para que sejam capazes de enfrentar e coibir casos de violência vividos ou assistidos. A discussão dos casos propostos nas rodas de conversa apresentadas está ancorada sob à luz epistemológica dos estudos de gênero, no que concerne compreender como o estabelecimento de relações amorosas pode tornar-se tão crucial a ponto de impedi-las de romper frente a casos de violência de gênero. Trata-se de uma pesquisa que tem como finalidade aprofundar teoricamente situações que foram suscitadas de forma espontânea e contingencialmente ao decorrer da prática profissional. Nesse sentido, esclarece-se que não há pretensão de identificar de forma alguma os sujeitos de análise deste relato de experiência. Isto é, ao longo da prática profissional frente a projetos de reeducação de gênero notou-se uma temática importante e recorrente, sendo necessário assim aprofundar-se sobre o assunto em questão, a saber, a empatia supervalorizada no gênero feminino mas com emissão que apresenta resultados somente ao gênero masculino.

Período de Realização
As reflexões expostas neste relato são fundamentadas precisamente nos encontros ocorridos no primeiro semestre de 2023, precisamente entre os meses de abril e junho, na cidade São Luís -MA.

Objetivos
Este estudo tem como objetivo apresentar um relato de experiência acerca de uma discussão em grupo psicoeducativo com a finalidade de disponibilizar reeducação em gênero, especialmente, diante de casos de violência.

Resultados
Percebeu-se que ao dialogar com mulheres de diferentes faixas etárias era perceptível que suas vivências amorosas eram estabelecidas e mantidas por meio de uma pedagogia afetiva que se fundamentava apenas em destinar afeto ao outro, mesmo que isso significasse não restar nenhum afeto para si. Ao considerar que ao gênero feminino é destinado o ensino-aprendizagem de abrir mão de si, torna-se acentuadamente difícil que a esse mesmo gênero seja cobrado condutas de enfrentamento diante de situações que violem seus direitos mais intrínsecos, como é o caso da violência, que expressivamente pode ser um amontoado de situações que resultam na mesma coisa: apagamento de uma existência baseada em aspectos inalteráveis.

Aprendizados
A experiência de dialogar sobre a pedagogia afetiva pode ser compreendida como um caminho de emancipação para as mulheres, sobretudo, quando atravessadas por casos de violência de gênero em algum momento de suas respectivas existências. Em grande parte das trocas em grupo nada do que era apontado se tratava de um aspecto que não tenha sido percebido antes como inadequado. No entanto, era necessário escutar ativamente sobre a vivência de outras mulheres para assim escutar suas próprias narrativas em outrora. Falar sobre violência não é um tabu, mas acreditar que seja pode ser entendida como uma conduta de pactuar com um fenômeno que se fortalece, especialmente, pelo silêncio social que tem como enraizamento a ideia de perceber a violência de gênero ainda como problema alheio, muito embora seja perceptível que não seja. Entre as interações percebeu-se o quanto a Pedagogia Afetiva é um mecanismo social estratégico para a incidência de Violência de Gênero, sendo assim necessário intervir frente a isso.

Análise Crítica
Ao propor um diálogo sobre a educação social que é dado com o objetivo de formar o “ser homem” e o “ser mulher”, percebe-se que ao gênero feminino não é somente ensinado mas cobrado a compreensão e cuidado exacerbado sobre os comportamentos do indivíduo do gênero masculino, mesmo que tais ações se tornassem prejuízos subjetivos ou sociais para o gênero feminino. Com isso, nota-se que frases como "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" são protetivas apenas para quem se isenta e /ou violenta a existência de alguém.