46458 - PREVALÊNCIA E FATORES SÓCIODEMOGRÁFICOS ASSOCIADOS A OCORRÊNCIA DE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES IDOSAS NO BRASIL, PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE – 2019 FABIANA MARTINS DIAS DE ANDRADE - UFMG, NÁDIA MACHADO DE VASCONCELOS - UFMG, JULIANA BOTTONI DE SOUZA - UFMG, MÁRCIO DÊNIS MEDEIROS MASCARENHAS - UFPI, DEBORAH CARVALHO MALTA - UFMG
Apresentação/Introdução A violência contra a mulher idosa é um problema social com inúmeros impactos na saúde, principalmente em função do envelhecimento populacional e maior vulnerabilidades dessas pessoas. A violência é resultado de interações entre os fatores individuais, relacionais, sóciodemográficos, culturais e ambientais e suas consequências são devastadoras sobretudo para a saúde física e mental, além disso, elas contribuem para o aumento da mortalidade prematura, morbidades e utilização dos serviços de saúde.
Globalmente, a violência contra a mulher idosa foi estimada em 14,1%, o que corresponde a 1 em cada 6 ou 68 milhões de mulheres idosas. Em relação aos fatores associados, a literatura internacional mostrou que ter idade entre 60 a 69 anos, ser solteiro(a), separado/divorciado(a) ou viúvo(a), ter baixa renda e residir em áreas urbanas estão associados a maiores chances de violência contra a pessoa idosa. Porém, não existem estudos com amostra representativa da população idosa brasileira que estude como as variáveis sóciodemográficas afetam a ocorrência da violência.
A Pesquisa Nacional de Saúde é a primeira a coletar dados sobre a violência numa amostra representativa da população brasileira, o que permitirá compreender a extensão desse problema. Assim, espera-se que esse estudo possa contribuir para a criação de políticas públicas, ações e estratégias de prevenção e enfrentamento da violência contra a mulher idosa.
Objetivos Estimar a prevalência e os fatores sóciodemográficos associados à ocorrência de violência autorrelatada contra a mulher idosa no Brasil.
Metodologia Trata-se de estudo transversal, de base populacional e abordagem analítica, com dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2019. Para o presente estudo, foram incluídas as entrevistas com as mulheres idosas, ou seja, a partir de 60 anos de idade, conforme determinado pelo Estatuto da Pessoa Idosa, que responderam ao módulo de Violência (V).
Calcularam-se as prevalências e os intervalos de confiança de 95% (IC95%) de autorrelato de violência total, ou seja, a soma das mulheres idosas com idade ≥ 60 anos que autorrelataram ter sofrido algum dos subtipos de abuso nos últimos 12 meses (psicológica, física e/ou sexual) pelas variáveis sóciodemográficas (faixa etária, escolaridade, estado civil, raça/cor, renda, região e área de residência).
Para estimar os possíveis fatores sociodemográficos associados à violência contra a pessoa idosa, utilizou-se como medida de associação a razão de chances (Odds Ratio, OR), obtida por meio do modelo de Regressão Logística. Realizaram-se as análises bivariadas entre violência total e cada variável sociodemográfica (explicativa), sendo estimadas as OR brutas (ORb). Na sequência, procedeu-se a análise multivariada, sendo incluídas no modelo as variáveis que apresentaram valor p<0,20 nas análises bivariadas. Nesta análise, foram estimadas as OR ajustadas (ORa), considerando-se como fatores associados à violência total as variáveis explicativas que apresentaram valor de p<0,05.
Resultados e discussão Analisou-se os dados de 12.535 mulheres idosas, dessas, 11,09% relataram algum tipo de violência. As mulheres idosas de 80 anos e mais apresentaram menor prevalência de violência (5,4%), as divorciadas/separadas e as que residiam em área urbana tiveram maiores prevalências (18,36%). Na análise bivariada, aquelas que tinham de 60 a 69 anos (ORb:2,54; IC95%:1,78;3,63) e 70 a 79 anos (ORb:2,09; IC95%:1,43;3,05) tiveram maiores chances de ocorrência violência do que aquelas com 80 anos ou mais. As divorciadas/separadas tiveram 79% maior chance do que as casadas, por outro lado, ser viúva foi fator de proteção para violência (ORb:0,76; IC95%:059;0,97). Mulheres que residiam na área urbana tiveram 58% maior chance de violência do que as que residiam na rural. Na análise multivariada, as idosas mulheres de 60 a 69 anos (OR:2,21; IC95%:1,51;3,24) e de 70 a 79 anos (OR:1,96; IC95%: 1,32;2,92), divorciadas/separadas (OR:1,70; IC95%:1,29;2,23) e que residiam em área urbana (OR:1,51; IC95%:1,19;1,90) tiveram maiores chances de sofrerem violência.
Conclusões/Considerações finais A prevalência de violência nas mulheres idosas é alta, contudo, é menor do que a estimativa global (14,1%). Os fatores associados a violência contra as mulheres idosas foram a faixa etária entre 60 a 79 anos de idade, o estado civil divorciada ou separada e residir em área urbana. Tendo em vista a alta prevalência de violência e os fatores que se associam a elas, bem como o aumento da população idosa no país, é fundamental a criação de políticas públicas com foco nas pessoas idosas. Ademais, é importante reforçar os recursos para fortalecer a prevenção e o enfrentamento da violência, e propiciar ações e estratégias que promovam a igualdade de gênero.
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