45115 - MENOPAUSA: UM MARCO TEMPORAL DO ENVELHECIMENTO FEMININO JULIANA GUERRA - FACULDADE PERNAMBUCANA DE SAUDE
Apresentação/Introdução Esse estudo deriva da atualização da tese defendida em 2018, intitulada SUBJETIVAÇÕES FEMININAS NA MEIA-IDADE: A VIVÊNCIA DA MENOPAUSA NA CONTEMPORANEIDADE, no Programa de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, que teve como foco a apreensão do fenômeno sociológico da menopausa, cujo marco biopsicossocial é o envelhecimento feminino. Meu interesse pelo tema se torna ainda maior no momento, pois estou passando pelo início da menopausa e essa pesquisa está diretamente implicada no processo. Parti da premissa de que a menopausa deveria ser entendida como um acontecimento que vai além do viés orgânico, cujo sofrimento é potencializado por fatores externos, característicos da sociedade contemporânea, como desvalorização social em função da idade, mito da “eterna” juventude, relação entre sucesso e juventude, entre outros, além de não ser compreendida como um processo natural do ciclo da mulher. O discurso biomédico segue a linha de que os problemas da mulher na menopausa – fogacho, depressão, fadiga – são passíveis de medicalização. Nas ciências sociais, entretanto, a mulher deve ser entendida a partir da intersecção relacional de raça, gênero e classe, no contexto da sociedade patriarcal. Após entrevistar mulheres de classes sociais distintas, verificou-se que essa vivência ocorre de forma diferente, porém o sofrimento perpassa todas as classes e raças.
Objetivos Geral
Compreender a experiência da menopausa no processo de subjetivação da mulher de meia-idade de diferentes classes sociais.
Específicos
1. Compreender a vivência da menopausa tendo como marcadores sociais a raça e a classe social.
2. Identificar se (e como) os discursos hegemônicos da biomedicina interfere nesse processo.
Metodologia O fio condutor desta pesquisa qualitativa remeteu ao sentido dado pelas mulheres na menopausa e seus percursos relacionais. Através das entrevistas em profundidade, busquei apreender os usos dos tempos cotidianos associados aos espaços construídos nessas trajetórias. Para tanto, utilizei a abordagem do Interacionismo Interpretativo, para compreender a construção social da realidade dada (Berger; Luckmann, 2009). Foram entrevistadas doze mulheres, sendo seis usuárias da Unidade de Saúde da Família (USF) – Macaxeira (subúrbio Recife), e seis moradoras de bairro de Casa Forte, Tamarineira e Espinheiro, classe média alta, com idade variando entre 45 e 56 anos.
Resultados e discussão Na sociedade brasileira, especializada em vender padrões de beleza, defende-se os investimentos no corpo como garantia de ganhos. Nesse modelo, o envelhecimento é vivenciado como momento de perdas, pois o corpo é um importante capital (Goldenberg, 2010). Independente da classe social, a chegada da menopausa foi experenciada pelas entrevistadas com estranhamento, além de pouca compreensão pelos familiares e parceiros. O processo também se deu de forma silenciosa e as mulheres sentiram solidão por não ter com quem compartilhar as transformações, como a perda de libido. Porém, ele ocorreu de forma diferente. Enquanto a maioria das entrevistadas de classe alta fez reposição hormonal para aliviar os sintomas, além de práticas como pilates, as moradoras da Macaxeira não fizeram reposição, muito menos atividades físicas, por falta de tempo ou de dinheiro. Ocorre uma medicalização com antidepressivos e ansiolíticos prioritariamente nas classes mais altas. Estudos de gênero (Martin, 2006; Roberts, 2007) criticam a medicalização da mulher, tida como dispositivo de controle dos corpos femininos. Enquanto a oscilação dos hormônios naturais do corpo da mulher se configura como um problema médico, a reposição hormonal - que ainda provoca controversa por estar relacionada a alguns aparecimentos de doenças - é apresentada como solução.
Conclusões/Considerações finais O sentido de estranhamento quando a menopausa dava os primeiros sinais foi quase uma unanimidade entre as entrevistadas. É notável que a menstruação imponha um ritmo à vida da mulher, que não se reconhece quando acaba. A perda menstrual representa uma ruptura. E o momento que marca o início do envelhecimento da mulher ainda é bastante invisibilizado. Embora nem sempre dito de forma direta, a menstruação está ligada à sexualidade e à identidade feminina. Na perspectiva biomédica, o sangue funciona como marcador de idades, conferindo um lugar para a mesma mulher em diferentes tempos. Quando chega o fim da vida reprodutiva, ocorre a “falência”, como se a mulher fosse regida apenas pelos hormônios. Os sentimentos de vazio e dúvidas não encontram ressonância nos serviços públicos de saúde, nem em outros espaços de convivência. Os profissionais de saúde devem acolher as mulheres, qualificar a escuta e estimular o autocuidado. A menopausa precisa ser ressignificada como um processo natural da idade, e não de forma negativa, como uma doença. É importante assegurar que a mulher assuma o protagonismo de sua experiência com liberdade e novas possibilidades.
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