03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.7 - Diversidade de trajetórias, percepções e necessidade em saúde |
46131 - SOCIABILIDADE E SEXUALIDADE JUVENIL: REPERCUSSÕES DA PANDEMIA DE COVID-19 NAS TRAJETÓRIAS DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO NA PERIFERIA DE SÃO PAULO CRISTIANE DA SILVA CABRAL - FSP/USP, ANTONIO C. PILÃO - FSP/USP, JÚLIO ASSIS SIMÕES - FFLCH/USP, VERA PAIVA - IP/USP
Apresentação/Introdução A sociabilidade juvenil na pandemia é tema pouco explorado em pesquisas sobre as respostas sociais e programáticas à COVID-19, em especial no que se refere à forma como a sexualidade e as emoções foram experimentadas nesse contexto. Neste trabalho, discutimos como a pandemia de COVID-19 afetou a vida familiar, escolar, social, afetiva e sexual de jovens estudantes no ensino médio. É de especial interesse discutir sobre essa dimensão social, psicossocial e sexual experimentada no cotidiano durante a pandemia, tendo em vista as repercussões e desdobramentos em suas trajetórias para o período ulterior de “recuperação” à emergência sanitária e fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à COVID-19, decretada em maio de 2023 pela OMS.
Objetivos Discutir sobre a dimensão social, psicossocial e sexual experimentada pelos jovens durante a pandemia, sobretudo tendo em vista as repercussões e desdobramentos em suas trajetórias para o período ulterior de “recuperação” à emergência sanitária.
Metodologia Este resumo apresenta resultados preliminares da análise das entrevistas realizadas na pesquisa SexPan (Em tempos de covid-19: iniciação sexual, socialização e exposição ao risco de jovens de escolas públicas de ensino médio), sediada na FSP/USP, sob o apoio da FAPESP (processo de número 2021/08571-3) e aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa da FSP/USP.
Trata-se de pesquisa qualitativa, baseada em 40 entrevistas, semi-estruturadas, junto a pessoas entre 16-19 anos, matriculadas no ensino médio de escolas públicas e que vivem em territórios de grande vulnerabilidade social na cidade de São Paulo. O acesso aos participantes se deu através da técnica de bola de neve. Com o advento da vacinação da população e dessa faixa etária, a realização das entrevistas foi feita de forma presencial entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023. Foram entrevistadas 17 mulheres cis, 17 homens cis e 6 pessoas não-binárias/trans. Buscou-se diversidade em termos de autoclassificação por cor da pele; em termos de inserção social, eles/as são majoritariamente de camada “média-baixa” ou “baixa”. Houve maior dificuldade no trabalho de campo para encontrar jovens homens dispostos a falar. Em relação à orientação sexual, é semelhante o número de jovens que se identificou como heterossexuais (19 entrevistados/as no total) e aqueles/as que não se identificam dessa maneira (21 entrevistados/as), sendo 14 bissexuais/pansexuais, 4 homossexuais e 3 jovens que disseram ter dúvida a esse respeito. O recurso às entrevistas individuais em profundidade tem permitido compreender as dinâmicas da vida cotidiana desses jovens. A organização e análise dos dados está sendo realizada com apoio do software NVivo.
Resultados e discussão As violências sexuais e de gênero, o empobrecimento familiar e o desenvolvimento de quadros “depressivos” marcam as experiências cotidianas da maioria dos/as participantes. Embora minoritários, relatos de crescimento e desenvolvimento pessoal foram articulados ao primeiro emprego e à necessidade de contribuição para o sustento domiciliar, ao fortalecimento de certos vínculos interpessoais e ao aprimoramento do autoconhecimento.
A multiplicidade de experiências e perspectivas expostas na pesquisa reafirma ser impossível pensar a “juventude” como uma categoria coesa e uniforme. Tampouco indica que a “pandemia” poderia ser concebida e tratada como um “contexto” único, sendo necessário atentar a particularidade dos modos de agenciamento cotidianos mobilizados pelos/as jovens. As vivências e (im)possibilidades durante a pandemia foram atravessadas interseccionalmente. Marcadores sociais da diferença (tais como gênero, religião e raça) e da opressão (tais como machismo, racismo e LGBTQIA+fobia) articularam de modo expressivo a experiência dos jovens periféricos. Produtivos recursos e estratégias foram mobilizados por eles/elas para contornar e significar situações dramáticas e, muitas vezes, traumáticas no contexto de sindemia e o modo como se relacionaram com amigos, paqueras e namorados e, principalmente, como viveram e sentiram o desejo e a sexualidade.
Buscamos dialogar com a ideia de psicologização da vida cotidiana e o maior senso de insegurança existencial que estaria atravessando as reações à Covid-19.
Conclusões/Considerações finais Ampliar a compreensão sobre a sociabilidade e sexualidade juvenil, marcada pela desigualdade social e de gênero, deve fazer parte dos esforços para mitigar os efeitos mais duradouros da pandemia no cotidiano de adolescentes e jovens, bem como integrar os esforços de construir respostas que os auxiliem no enfrentamento de tais efeitos. Relevante para o esforço da “prontidão” diante futuras emergências sociais e sanitárias previstas para os próximos anos de crise climática, o trabalho de análise deste estudo busca superar o silenciamento da dimensão social, psicossocial e sexual experimentada pelos jovens durante a pandemia e que, mesmo com o fim da emergência continuará a atravessar o modo como essa geração construirá sua relação com o mundo, com pares e parceiros afetivo-sexuais e a maneira como percebem e reconstroem suas trajetórias.
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