Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.8 - Diversidades e ateção à saúde: desafios para o SUS

46076 - PANDEMIA DE COVID-19: EXPLORANDO AS DISPARIDADES DE GÊNERO E SEUS DESFECHOS NA SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS MORADORES DE UMA PERIFERIA DA CIDADE DE SÃO PAULO
NICOLAS KIMURA GENEROSO - USP, CRISTIANE DA SILVA CABRAL - USP


Apresentação/Introdução
A adolescência é um período de intensa aquisição de habilidades sociais que operam nos domínios da agência, autonomia e sociabilidade. Durante essa fase, os/as jovens experimentam diferentes formas de se relacionar com os outros, desenvolvendo habilidades de comunicação, resolução de conflitos e construção de vínculos interpessoais e/ou afetivos. Todavia, os desafios impelidos pela pandemia de Covid-19, incluindo as incertezas relacionadas à convivência com o vírus e as restrições sociais necessárias para conter sua propagação, trouxeram impacto para a saúde dessa população. Pressupomos que a impossibilidade de desenvolver novas competências sociais fora de casa, bem como menor mobilidade física e sociabilidade circunscrita ao virtual, refletiu em desfechos negativos de saúde mental para os/as jovens, afetando particularmente as meninas. O presente estudo faz parte da vertente Covid-19 do Global Early Adolescent Study (GEAS), uma pesquisa multipaíses e realizada no Brasil por pesquisadores da Universidade de São Paulo, em parceria com Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e a Organização Mundial da Saúde. O objetivo principal do estudo foi investigar o impacto da pandemia na vida dos adolescentes, abrangendo suas percepções e perspectivas sociais, econômicas e educacionais.

Objetivos
Analisar os efeitos da pandemia de Covid-19 nas dimensões da saúde mental e sociabilidade entre adolescentes de ambos os sexos, moradores de uma periferia da cidade de São Paulo.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, fundamentado em um inquérito domiciliar realizado em novembro de dezembro de 2021. A amostra consiste em 396 adolescentes com idades entre 13 e 17 anos, residentes em uma região periférica e empobrecida da cidade de São Paulo. Os participantes foram selecionados por convites durante visitas técnicas domiciliares conduzidas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) daquela região. A análise dos dados foi realizada utilizando estatística descritiva, por meio do software RStudio. Para examinar as diferenças encontradas, empregou-se o teste estatístico de associação Qui-quadrado de Pearson (χ2), com um nível de significância de 5% (p<0,05). A análise foi estratificada por gênero. As variáveis de interesse incluem questões relacionadas à saúde mental, uso das escalas GAD-7 e PSS, bem como questões específicas sobre o cotidiano durante a pandemia de COVID-19, as relações intra-familiares e a sociabilidade entre pares (física e virtual).

Resultados e discussão
Dos 396 participantes, 48,74% (n = 193) foram identificados como meninos cisgênero, enquanto 51,26% (n = 203) foram identificadas como meninas cisgênero. A média de idade foi de 14,43 anos (M = 14; DP = 1,16). A maioria dos participantes era não branca (63,13%), frequentava escolas públicas (90,69%) e tinha mães com até Ensino Médio/Técnico completo (82,23%). Além disso, 37,88% pertenciam à religião evangélica. Mais meninas relataram sentimentos de medo devido a comportamentos negligentes ou agressivos em casa e percepção de falta de amor e cuidado pelos responsáveis (p<0,001). Tanto as variáveis específicas relacionadas à percepção da Covid-19 quanto com as escalas sobre saúde mental indicaram desfecho negativo de forma geral, com implicações mais acentuadas para as meninas. Houve classificações mais altas de ansiedade de grau moderado/severo e estresse percebido de grau moderado/alto entre as meninas em comparação com os meninos (p<0,001). Em relação à sociabilidade entre pares, não foram identificadas diferenças significativas entre os gêneros. No entanto, fica patente o impacto negativo experimentado por esses adolescentes, uma vez que a maioria deles teve que se adaptar à interação social online devido às medidas de distanciamento físico-social implementadas para conter a disseminação da pandemia. Essa restrição pode ter desempenhado um papel significativo na diminuição da capacidade desses jovens de exercerem sua agência, com efeitos sobre a saúde mental.

Conclusões/Considerações finais
É fundamental reconhecer as disparidades de gênero ao analisar os efeitos da pandemia nas trajetórias de adolescentes nas mais variadas dimensões. A crise de saúde pública agravou diversas desigualdades, deixando as meninas em uma situação ainda mais vulnerável em termos de seu bem-estar psicossocial. Durante esse período, fatores como o medo no ambiente doméstico, a falta de apoio emocional, o aumento das preocupações e incertezas, a sensação de isolamento e tédio, bem como a diminuição da sociabilidade entre pares foram exacerbados, exercendo impacto negativo significativo na saúde mental desses jovens. Portanto, é de extrema importância implementar intervenções e oferecer apoio específico direcionado a essa população, a fim de atenuar os efeitos adversos deixados pela pandemia e promover a saúde e o bem-estar dessa população.