Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO16.8 - Diversidades e ateção à saúde: desafios para o SUS

46768 - EMERGÊNCIAS SANITÁRIAS NO PLURAL: PANDEMIA, FOME E GÊNERO EM UMA FAVELA DO RIO DE JANEIRO
VIVIANE MATTAR - IMS/UERJ, ROGERIO AZIZE - IMS/UERJ, RODRIGO MONTEIRO - UFF


Apresentação/Introdução
Em paralelo aos desmontes e transformações nas redes de assistência social e políticas públicas, desde o ano de 2016 observamos também o aumento da pobreza e da fome, que voltaram a ser sentidas no cotidiano das interlocutoras desta pesquisa, realizada em uma área particularmente precarizada de uma favela carioca. Durante a pesquisa de campo, realizada em parte durante a pandemia, acompanhamos as consequências da instabilidade nestas desmontagens de políticas sociais e as estratégias adotadas para driblar situações de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. Nosso enfoque aqui discute múltiplas emergências sanitárias e seus impactos: a pandemia do novo coronavírus vem se somar a outras emergências, como uma enchente que assolou a comunidade pouco da emergência global de COVID-19.

Objetivos
Compreender de que forma são produzidas o que chamamos de políticas da fome, que atinge especialmente mulheres negras e moradoras de favela. Analisar como uma emergência sanitária particular impactou em como elas lidam com as instabilidades, moralidades e vigilâncias que resultam na produção de estratégias e novas relações, entre elas e seus pares, mas também com aplicativos e aparelhos do Estado.

Metodologia
Trata-se de pesquisa qualitativa de inspiração etnográfica, com técnicas de observação participante e entrevistas semiestruturadas. A pandemia exigiu adaptações para observações e interações remotas, com uso do aplicativo WhatsApp e o trabalho de campo presencial foi retomado quando possível, seguindo as indicações de segurança. A pesquisa contou com a participação de dez mulheres que são beneficiárias do Programa Bolsa Família e que, durante a pandemia, receberam, ou tentaram receber o Auxílio Emergencial. Acompanhamos o processo do cadastro, desde o Cadastro Único, o recebimento (ou a tentativa de), os usos dos dinheiros, as exclusões do benefício e as estratégias de existência e sobrevivências em uma realidade de fome.

Resultados e discussão
Os Programas de Transferência de Renda podem ser responsáveis pela reprodução social, uma vez que são fundamentais em determinadas realidades de famílias, onde o recebimento é essencial para diminuir vulnerabilidades sociais e situações graves de fome. Desta forma, a regulação e eficácia desses benefícios podem aumentar, diminuir e produzir novas vulnerabilidades ao não considerarem contextos e interseccionalidades.
Determinados indivíduos são mais duramente afetados, uma vez que são mais expostos a políticas que visam colapsar com modos de vidas, tendo uma acentuação de precariedade, o que reflete na produção de formas de resistências ou de sobrevivência.

Conclusões/Considerações finais
Falar sobre fome no Brasil é falar sobre um problema racializado, generificado e de classe, uma vez que é entre as mulheres negras e de baixa escolaridade que encontramos os casos mais graves de insegurança alimentar.
A pandemia de COVID-19 evidenciou uma situação de fome que já estava em curso, mas escolhas de governar, ou de omissão no fazer, onde a garantia da vida não assegura e negligencia o mínimo, produz realidades de fome e de morte, expostas em situações de pessoas comendo osso e na fila para comprar pelancas.