Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO17.3 - Infâncias e adolescências sob violências - reflexões interseccionais e possibilidades de enfrentamento

46162 - “ESQUECER É PERMITIR, LEMBRAR É COMBATER”: RELATO SOBRE O USO DE UMA ESTRATÉGIA VISUAL NA CAMPANHA “FAÇA BONITO” REALIZADA POR UM CAPS INFANTOJUVENIL EM MINAS GERAIS
ELZELI GONÇALVES DA SILVA ALVES - UFU E PMU UBERABA, THAINARA APARECIDA MALTA COSTA - UFTM E PMU, SOFIA MARTINS - USP E PMU, AILTON DE SOUZA ARAGÃO - UFTM E UFU


Contextualização
Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a violência como um problema de saúde pública. Entre os tipos de violência, a violência sexual se constitui em qualquer conduta que constranja crianças ou adolescentes a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro tipo de ato libidinoso. Dentre os programas de ação de combate ao fenômeno violência, anualmente, no mês de maio, acontece a Semana Nacional de Mobilização para o Enfrentamento à Violência Sexual (SNAMEVS) contra crianças e adolescentes denominada “Faça Bonito”. Ação que o município de Uberaba-MG, por meio do compromisso do Sistema de Garantia de Direito da Criança e do Adolescente (SGDCA), do qual o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSij) faz parte, objetivando visibilizar e contribuir no combate da violência sexual.

Descrição
Esse Memorial contemplou a exposição de um “varal” com roupas de crianças/adolescentes, etiquetadas com a idade da vítima e o grau de parentesco e/ou relação de proximidade com seu ofensor. Cada peça de roupa representava uma vitima atendida no Fluxo de Violência Sexual, após 72 horas do conhecimento do fato. Esta exposição ocorreu em três espaços da SNAMEVS, a saber no primeiro, iniciou nos corredores do CAPSij. No segundo dia, na Fundação de Ensino Técnico Intensivo - FETI, durante a premiação de melhores ações e serviços prestados para a cidade, que inclusive, o CAPSij foi premiado em quarto lugar. O terceiro e último dia da exposição ocorreu na entrada do Centro de Eventos da cidade de Uberaba, durante o 1º Encontro Regional de Conselheiros Tutelares. Evento composto por coletivos de estudantes e profissionais. As afetações dos visitantes foram analisadas por meio do método da Observação Participante, não estruturada, a partir da qual foi possível observar o modo como os visitantes e a comunidade transeunte eram impactados pela vivência.

Período de Realização
Trata-se de um trabalho descritivo, por meio de um memorial nomeado “Esquecer é Permitir, Lembrar é Combater”, que ocorreu entre os dias 11 e 13 de maio de 2022.

Objetivos
Este relato de experiência objetiva compartilhar as afetações, os afetos e os (re)conhecimentos vivenciados durante a exposição realizada na SNAMEVS, bem como as reflexões oriundas da interação com os (as) visitantes.

Resultados
Durante o processo de aproximação dos visitantes do “varal” e da leitura da descrição das histórias expressas, observamos os impactos e reações não-verbais, tais como manifestação de expressões de repúdio, estranhamento, raiva, desprezo e indignação. Das reações verbais, destacamos o relato de uma idosa sobre seu desconhecimento do significado violência sexual, atribuindo a falta de discussão ao seu grupo etário e reconhecimento enquanto vítima. Outro impacto observado foi no comportamento dos adolescentes, como se a violência tivesse acontecido com alguém de sua rede proximal

Aprendizados
Na SNAMEVS, diversos atores do SGDCA realizaram ações representativas sobre o fenomeno violência. Acreditamos que o recurso visual usado proporcionou aos visitantes vivenciar experiências sensoriais (visual, tátil,olfativa) e subjetivas, como se as histórias deles tornassem realidade a partir da aproximação, reflexões e do engajamento entre os visitantes. Constatamos que o recurso visual foi um vivência de grande alcance da população, superando as rotineiras campanhas contra violencia sexual, na maioria das vezes puramente teóricas e/ou de dados quantitativos.

Análise Crítica
Nesse relato de experiência, destaca-se as afetações relacionadas às reações verbais e não verbais manifestadas pelos visitantes frente à exposição do varal e descrição das histórias. Isso porque, a violência sexual contra crianças e adolescentes ainda é um tema que se configura como tabu, silenciado e invisibilizado na sociedade brasileira, especialmente quando o autor é um membro familiar, pois seu afastamento gera problemas financeiros e judiciais. Dessa forma, a experiência de uso de uma estratégia visual para abordar processos educativos de saúde mostrou potencial reflexivo. Pois, estas representações expressam traços, cores, sons, gestos que refletem valores, concepções de mundo, de natureza e expressam a sua subjetividade. Embora a exposição do memorial tenha sido uma ação pontual, concluimos que ela oportunizou materialidade a discussões que requerem participação e protagonismo do público infantojuvenil, familiares e sociedade civil.