46358 - INTERNET, MÍDIAS E ACOLHIMENTO DE JOVENS EM SITUAÇÃO DE CRISE PSICOLÓGICA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO PODE FALAR LUIZ FELIPE FARIA RODRIGUES - UFMS, ALBERTO MESAQUE MARTINS - UFMS
Contextualização Apesar das transformações sociais, a assistência psicológica ainda encontra-se fortemente enraizada à psicoterapia, frequentemente particular e de difícil acesso da população mais vulnerável. No Brasil, os jovens vêm sendo apontados como grupo suscetível a diversas formas de sofrimento psíquico, sobretudo autolesões e suicídio. Esse cenário torna-se ainda mais complexo ao considerarmos os desafios da prevenção em saúde mental e a oferta de primeiros socorros psicológicos, ainda incipientes. Por outro lado, no contexto brasileiro iniciativas de acolhimento de crise vêm sendo desenvolvidas, em diferentes perspectivas, buscando ampliar o acesso e a atuação em saúde mental para além das instituições de saúde, possibilitando diferentes manejos que garantam o cuidado ao sofrimento psíquico. Dentre elas destacam-se os atendimentos emergenciais, onde a escuta e o acolhimento acontecem em um momento de crise, de forma emergencial.
Descrição O Pode Falar é uma iniciativa da UNICEF, em parceria com diversas instituições brasileiras que busca ofertar um espaço de escuta acolhedora, gratuito e anônimo para jovens de todo o país, em momentos de crise. O projeto vem sendo desenvolvido desde 2022, em todo o país, buscando atender demandas de saúde mental. O projeto inclui um site, voltado ao público jovem, possibilitando o acesso a conteúdos, divididos em três seções. Na primeira, intitulada “Quero me cuidar”, os jovens podem acessar materiais educativos voltados para o cuidado em saúde mental. Na segunda seção, intitulada “Quero me inspirar” são divulgados depoimentos de outros jovens e como buscaram apoio para acessar os serviços de saúde. Já na terceira seção, denominada “Quero Falar”, pode ser acessada tanto pelo, assim como por redes sociais, como o Instagram e o WhatsApp. Nela, os jovens são direcionados para atendimento humano síncrono, realizado por jovens universitários, de diferentes áreas do conhecimento, que passaram por uma formação e que recebem supervisão de um grupo de profissionais.
Período de Realização Início em 2022, em curso.
Objetivos Analisar a experiência de atuação no Projeto Pode Falar e o papel da tecnologia digital para o acolhimento de jovens em situação de crise psicológica.
Resultados Desde o início do projeto, foram realizados, em média, 200 atendimentos mensais, de jovens de diferentes regiões do país. As demandas incluem situações de violência, questões relacionadas à escola e à vida universitária, sintomas psicológicos, bem como angústias que emergem nas diferentes experiências juvenis. De modo geral, os jovens mencionam a complexidade de ser jovem na contemporaneidade e os desafios que encontram para que pais, educadores e profissionais de saúde tenham compreensão de suas necessidades. O diálogo com atendentes que também compartilham o mesmo ciclo geracional vem favorecendo a identificação dos participantes, favorecendo uma linguagem comum e o acolhimento. A partir dos atendimentos, os jovens recebem acolhimento, ampliam os seus conhecimentos sobre as políticas públicas e obtêm informações sobre o acesso a RAPS, em seus territórios. Os jovens também recebem orientações para acessarem políticas públicas e dispositivos sociais, locais e regionais, que possam auxiliar no encaminhamento dos casos, como UPA, UBS, CAPS e CAPSi, CREAS e CRAS, Conselho Tutelar.
Aprendizados O Pode Falar vem se constituindo como uma potente tecnologia social que utiliza a internet e mídias sociais, possibilitando o acolhimento emergencial de demandas de saúde mental do público jovem. O projeto vem mostrando-se como uma estratégia inovadora, revelando que as tecnologias digitais podem se constituir como estratégias de prevenção e identificação precoce de necessidades dos jovens e como tecnologia capaz de fomentar a articulação com serviços e políticas públicas, a nível local e regional.
Análise Crítica Tendo em vista a dificuldade que jovens, sobretudo aqueles que vivem longes dos centros urbanos, ainda encontram para acessar os serviços de saúde mental, a internet e as tecnologias midiáticas vêm se destacando com espaços potentes de mobilização e de oferta de cuidado para atendimento desse público, especialmente aqueles que não contam com serviços especializados em seus territórios e que não podem pagar por essas ações. Embora a RAPS encontra-se implementada, o acesso de jovens com sofrimento psíquico leves e moderados, nos serviços de saúde, ainda mostra-se limitado, sendo recorrente que a inclusão desses sujeitos na rede de cuidado se efetive a partir dos agravamentos dos casos. Desse modo, o projeto também vem se revelando como uma importante tecnologia social para socorro psicológico e articulação com a RAPS local e regional. Assim, o Pode Falar por oferecer uma possibilidade de acolhimento psicológico gratuitamente sem barreiras físicas, favorecer um aprimoramento de informações e protagonismo do usuário, se mostra como um importante canal virtual de saúde mental para o público jovem.
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