Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO22.2 - Midias Digitais e Atenção Primaria na Saúde

46663 - “NOSSA LUTA É PELA VIDA”: RELATO DE PESQUISA EM AMBIENTE VIRTUAL SOBRE A ATUAÇÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 EM PAÍSES DA AMÉRICA LATINA
JULIANA FERNANDES KABAD - UFMT, FLÁVIA THEDIM COSTA BUENO - FIOCRUZ, PRISCILA CARDIA PETRA - FIOCRUZ, GUSTAVO CORRÊA MATTA - FIOCRUZ, MAY-EK QUERALES, CRISTINA YÉPEZ ARROYO, NIDILAINE DIAS XAVIER


Apresentação/Introdução
O artigo apresenta um relato sobre a pesquisa “Mapeamento das ações e iniciativas digitais dos movimentos sociais de populações vulnerabilizadas para o enfrentamento da pandemia de COVID-19 no Brasil, México e Equador (2020 - 2021)”, realizada em ambiente virtual e que buscou compreender as ações de enfrentamento da pandemia engendradas por movimentos sociais nos referidos países da América Latina.


Objetivos
A pesquisa buscou elencar as principais iniciativas encampadas digitalmente por movimentos sociais de populações indígenas e movimentos sociais de populações não-indígenas em contextos urbanos no Brasil, México e Equador.


Metodologia
Tratou-se de uma pesquisa em ambiente virtual com uso de dados secundários em bases digitais e coleta de materiais nas redes sociais selecionadas para aprofundamento sobre conteúdos e narrativas produzidas como modo de enfrentamento à pandemia. Por ser uma pesquisa que é parte de um projeto mais amplo de parceria internacional com redes de pesquisas no Brasil, México e Equador, optou-se por realizar o estudo sobre os três países.
A equipe foi composta por cientistas sociais e antropólogas, com reuniões virtuais semanais visto que cada membro se encontrava países/estados distintos. A equipe trabalhou em português e espanhol, possibilitando aprendizados coletivos por diálogos, traduções, cruzamentos e trânsitos entre as línguas. O estudo contou com a participação de pesquisadores dos três países que compuseram o comitê científico consultivo, com reuniões virtuais mensais para discussão. A pesquisa foi executada, iniciada e finalizada em 10 meses. Em razão do curto espaço de tempo e financiamento para a condução, e com o interesse de conduzir um mapeamento com maior alcance e abrangência, a etapa de levantamento de dados ocorreu em 3 (três) fases, que compreenderam:
1) Amplo levantamento dos movimentos sociais de populações vulnerabilizadas historicamente constituídos nos três países observados;
2) Seleção dos movimentos sociais ativos na internet e nas redes sociais para a realização da etnografia;
3) Etnografia virtual de movimentos sociais de povos indígenas e populações não-indígenas em contextos urbanos


Resultados e discussão
Nos três países observados, os movimentos sociais dos povos indígenas enfrentam problemas similares, bem como possuem pautas de luta que convergem entre si.
No Brasil, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil realizou uma intensa articulação política para além das redes de relações com os coletivos indígenas, com forte articulação no poder legislativo e judiciário, com pautas de defesa dos territórios tradicionais, denúncias às invasões de grileiros, garimpeiros e madeireiros e ofensiva do agronegócio e das mineradoras contra as florestas e as comunidades indígenas.
No Equador, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador, por meio da sua comunicação comunitária denominada Lanceros Digitales, abordaram a pandemia e problemas estruturais, como o extrativismo, a defesa do território e a possibilidade de reforço das línguas indígenas, a medicina e os saberes ancestrais. No México, o Congresso Nacional Indígena se apoiou em suas contas nas mídias sociais para divulgar as ações de protesto e reivindicação que os povos realizaram presencialmente.
Diferentemente dos movimentos dos povos indígenas, os em contexto urbano apresentaram pautas distintas. No Brasil, a Central Única das Favelas adotou principalmente ações contra a fome. Observou-se que os meios de viabilização das campanhas beneficiaram-se do seu capital político e cultural.
No Equador, a Coalizão Nacional de Mulheres do Equador destacou as necessidades e riscos específicos para mulheres, meninas e adolescentes durante a pandemia. No México, o Movimento por Nossos Desaparecidos demonstrou uma comunicação constante e fluida, o que permitiu a identificação de suas necessidades e a transferência de sua atividade de incidência na esfera pública de uma dinâmica presencial para a virtual.


Conclusões/Considerações finais
Observamos a formação de redes e alianças estratégicas distintas adotadas pelos movimentos sociais conforme as problemáticas e especificidades de cada contexto local, regional e nacional. Nesse sentido, a pesquisa demonstrou que a produção de conhecimentos no contexto das emergências sanitárias a respeito de diagnósticos sócio sanitários e a busca por soluções para os problemas enfrentados pela sociedade não se restringem às instituições científicas e aos órgãos do Estado, pelo contrário. Como foi possível constatar, faz-se necessário ampliar as perspectivas epistemológicas para a compreensão do potencial de produção e ação das populações vulnerabilizadas, especialmente em contextos de governos conservadores, autoritários e neoliberais, que visam a redução de direitos e dos espaços legitimados de participação da sociedade nas políticas de Estado.