03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO22.2 - Midias Digitais e Atenção Primaria na Saúde |
47965 - “FALANDO SOBRE VIDA RENAL”: CRONICIDADE, SUBJETIVIDADE E LEGITIMAÇÃO EM UM PODCAST DE SAÚDE MILENA DA SILVA MAGALHÃES - UERJ, ROSANA CASTRO - UERJ, ROGERIO LOPES AZIZE - UERJ
Apresentação/Introdução Exploramos aqui os sentidos, significados e sociabilidades em torno de um podcast de saúde cujo tema é a doença renal crônica (DRC), chamado “Renalcast: falando sobre vida renal”. A partir de uma pesquisa etnográfica do podcast, apresentamos o modo particular como a narrativa se conjuga numa combinação entre o relato de pessoas com DRC e profissionais do campo da saúde. Os idealizadores do projeto têm em comum o diagnóstico de DRC e o fato de se apresentarem por meio de termos compostos que sintetizam a condição médica vivida e suas respectivas áreas profissionais, uma “nutricionista renal” e um “advogado renal”.
Objetivos Compreender como a experiência com a doença renal crônica emergiu na construção do Renalcast e como reverbera nos episódios, tanto no que diz respeito ao seu conteúdo quanto à sua forma. Identificar e analisar categorias especialmente significativas na narrativa do e sobre o podcast, especialmente os sentidos atribuídos à ideia de uma “vida renal”.
Metodologia Com caráter qualitativo e exploratório, de inspiração etnográfica, fazemos uma análise narrativa sobre o conteúdo dos 27 episódios da primeira temporada do podcast. Além disso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com a dupla realizadora, buscando reconstruir os sentidos e motivações que levaram ao projeto, além de compreender as razões do seu formato. Analisamos ainda o material de divulgação do podcast nas redes sociais.
Resultados e discussão O projeto funciona como uma ferramenta para educação em saúde voltado para o cuidado de si de pessoas que vivem sob o diagnóstico de doença renal crônica (DRC), assim como caracteriza um espaço para divulgação e trocas acerca de conhecimentos científicos/biomédicos e experienciais. A partir da análise dos vinte e sete episódios da primeira temporada, disponibilizados entre janeiro e setembro de 2020, e com base nos diferentes eixos temáticos identificados, chegou-se ao seguinte resultado: o conhecimento biomédico ocupa lugar privilegiado, visto que a maioria dos episódios traz entrevistas com profissionais de saúde para explicar e responder dúvidas dos ouvintes, situando a DRC como uma condição passível de manejo e controle; o endosso e identificação mútua pelo diagnóstico atravessa todo o projeto, mas ganha destaque nos episódios em que pessoas com DRC são convidadas a contar sobre suas histórias pessoais de adoecimento, estimulando uma identificação com ideia de “vida renal”; a hemodiálise é o principal recurso terapêutico para o tratamento, logo os conhecimentos acerca de seu funcionamento e suas possíveis repercussões corporais são estimuladas para a construção de uma relação de intimidade e parceria com a máquina.
Conclusões/Considerações finais Argumentamos que, junto a popularização da produção de podcasts no Brasil e as diversas possibilidades de interação que as redes digitais abriram para pessoas que vivem sob o mesmo diagnóstico, há uma crescente penetração dos referenciais biomédicos na cultura, tornando improdutivo uma análise que antagonize ou separe pacientes “leigos” de profissionais “especialistas”. Os produtores do Renalcast propõem compartilhar e esclarecer informações pertinentes ao universo de quem convive com este tipo de adoecimento sob a perspectiva de uma dupla legitimação, ou seja, um conhecimento incorporado em intenso diálogo com as tecnologias e os referenciais biomédicos. Por fim, consideramos que a noção de “vida renal” é descrita como uma postura positivada e pragmática diante do diagnóstico, que ressignifica uma condição médica em termos de uma condição de vida. O resultado da pesquisa apontou que as características da mídia podcast de atemporalidade, mobilidade, formato de produção descomplicada e de relações de proximidade com o público ouvinte, foram fundamentais para o desenvolvimento da narrativa que aqui denominados “storytelling renal”.
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