Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO23.2 - Migrações e processos de saúde, doença e cuidado I

46604 - PESQUISA QUALITATIVA MULTICENTRICA, MULTISITUADA E INTERDISCIPLINAR COM MIGRANTES INTERNACIONAIS NO BRASIL – DESAFIOS E POSSIBILIDADES
DENISE MARTIN COVIELLO - UNIFESP, SILVIA VIODRES INOUE - PROMIGRAS - UNIFESP, DANIEL GRANADA - UFSC, CARLOS EDUARDO SIQUEIRA - UNIVERSIDADE DE MASSACHUSSETS, BOSTON, CASSIO SILVEIRA - FCMSP- SANTA CASA, REGINA MATSUE - UNIFESP


Apresentação/Introdução
A pesquisa qualitativa multicêntrica ‘Acesso à saúde e vulnerabilidades de migrantes internacionais no contexto de disseminação da COVID-19’ tem como objetivo identificar as problemáticas relacionadas à saúde e ao adoecimento, ao acesso aos serviços de saúde e à proteção social dos migrantes internacionais e refugiados no contexto da pandemia de COVID-19. Está sendo desenvolvida em 6 estados (SP, SC, PR, MG, AM e MT), locais de importante presença de migrantes no Brasil, articulando uma rede nacional e internacional de pesquisadores com diversas formações no campo da Saúde Coletiva (de 2022
a 2025).

Objetivos
Discutir criticamente o processo de construção e manutenção de uma rede de pesquisa multicêntrica e interdisciplinar no campo das migrações transnacionais e saúde.

Metodologia
Descrever a estrutura de organização do projeto a partir de seus participantes, os processos de trabalho, as abordagens teórico metodológicas, suas limitações e potencialidades.

Resultados e discussão
1. Organização e modo de trabalho da equipe
A rede se constitui por diversas formações acadêmicas (Antropologia, Sociologia, Psicologia, Fisioterapia, Medicina, Serviço Social e História), experiências de pesquisa com migrantes e abordagens metodológicas distintas, no Brasil, República Argentina, Estados Unidos, Espanha e Portugal. O grupo é composto por mulheres e homens, brasileiros e migrantes radicados no país e no exterior, em maioria latinos, alguns pesquisadores afrodescendentes, alunos de IC e pós-graduandos. O planejamento e produção documental demandou uma metodologia virtual e remota, comunicações via e-mail, aplicativos de troca de mensagens e de videoconferência síncrona (google Meet), amparados por uma biblioteca virtual (com referências conceituais pactuadas), protocolo de pesquisa, registros do processo e materiais de treinamento.
2. Tensões teórico metodológicas e decisões consensuadas
A apropriação sobre os temas do projeto, os objetivos e os procedimentos metodológicos previstos foram revistos a partir das experiências locais e adaptados para o desenvolvimento da pesquisa de campo como uma equipe. O projeto se delineou sob o eixo teórico metodológico da Antropologia, na perspectiva das migrações transnacionais. O contexto acadêmico dos participantes e de seus projetos de pesquisa desvelou diferenças ao longo das reuniões, dos questionamentos e dúvidas. Na execução das tarefas era constante a provocação de manejo das diversidades de formações, linhas de pesquisa e diferentes contextos de fluxos migratórios. O desafio era reconhecer as diferenças (nos vários planos descritos) e fomentar pontes e identidades. Este processo, presente em todas as decisões, das burocráticas às teórico conceituais, teve como um desdobramento o Glossário de conceitos comuns do projeto. O debate sobre a pesquisa de campo foi permeado por diferenças e similaridades. No início do processo foi criada um arquivo virtual no qual cada estado descreveu o contexto do local da pesquisa com objetivos de (1) oferecer background sobre do campo e sobre possíveis aproximações e distanciamentos entre cada local, (2) subsidiar informações das entrevistas e observações e (3) material base para a redação dos produtos da pesquisa. Foram realizadas reuniões para definir um campo base no qual a pesquisa seria realizada. As técnicas da pesquisa de campo foram: entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado, contextualização do campo e da situação da entrevista.
3.Diferentes nacionalidades de migrantes em múltiplos contextos
O contexto socioeconômico e cultural de cada local apresenta características históricas próprias e dinâmicas. Participaram de pesquisa migrantes originários da Bolívia, Haiti, Síria, Venezuela e Angola. A visibilização das diferenças considerou os processos e fluxos migratórios locais, sempre em movimento e à luz dos impactos da pandemia nos modos de vida, cuidado e inserção social. Foi fundamental não “naturalizar” as nacionalidades e as nações, como grupos homogêneos e harmônicos. Até o momento foram realizadas:
1. contextualização com dados sociodemográficos e de observação participante em cada local da pesquisa (Região metropolitana de São Paulo, Chapecó, Florianópolis, Cuiabá, Manaus, Uberlândia e Londrina),
2. Entrevistas em profundidade com (84) migrantes internacionais ou pessoas refugiadas (14 em cada estado) e contextualização da situação da entrevista.
3. 13 entrevistas em profundidade com representantes de associações, organizações da sociedade civil que atuam junto aos migrantes internacionais, trabalhadores de saúde e gestores públicos (total de 36).


Conclusões/Considerações finais
O desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa com este design apresenta desafios teórico metodológicos e de gestão, em constante negociação. Os resultados apresentarão a diversidade e complexidade dos impactos da pandemia na vida destes grupos.