03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO23.2 - Migrações e processos de saúde, doença e cuidado I |
46638 - “A CIRCULAÇÃO DO CUIDADO EM FAMÍLIAS TRANSNACIONAIS VENEZUELANAS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL”
NÍCOLAS NEVES DOS SANTOS - UNIFESP, MARIÁ LANZOTTI SAMPAIO - UNIFESP, CRISTÓBAL ABARCA BROWN - UNIFESP, ALEXANDRA C. GOMES DE ALMEIDA - UNIFESP, WILSON NASCIMENTO ALMEIDA JUNIOR - UNIFESP, REGINA YOSHIE MATSUE - UNIFESP, SILVIA REGINA VIODRES INOUE - UNIFESP, CÁSSIO SILVEIRA - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO, DENISE MARTIN COVIELLO - UNIFESP
Apresentação/Introdução
Com mais de 281 milhões de migrantes internacionais no mundo segundo a Organização Mundial das Migrações (OIM), a vida familiar transnacional torna-se realidade para um número cada vez maior de indivíduos. Famílias com seus membros distribuídos em um ou mais países têm suas relações transformadas pela mobilidade humana e a circulação do cuidado em suas variadas formas aparece como uma das principais estratégias de manutenção de vínculos. Com o avanço da COVID-19, uma reconfiguração do sistema migratório internacional foi imposta, com resultados diversos para populações em deslocamento, comunidades e famílias transnacionais. Arranjos de cuidado através de fronteiras internacionais foram interrompidos ou prejudicados tanto pelas consequências biossociais do vírus quanto pelos efeitos de intervenções não-farmacológicas. No caso brasileiro, ressaltamos as políticas seletivas de fechamento de fronteira com a Venezuela, um dos principais espaços de mobilidade humana transfronteiriça no Brasil. Famílias transnacionais venezuelanas, já profundamente sensíveis a um histórico de crise social, política e sanitária que acomete seu país, tornaram-se mais um grupo desproporcionalmente impactado pela pandemia de formas que ainda carecem de esclarecimento.
Objetivos
Analisar as consequências sociossanitárias e políticas da pandemia de COVID-19 em famílias transnacionais venezuelanas no Brasil. Em especial, como políticas de intervenção não-farmacológicas (políticas de restrição de mobilidade e fechamento de fronteiras) produziram transformações na manutenção de relações de parentesco e circulação do cuidado em famílias atravessadas pela migração. Esclarecer, para tanto, como se conformam os emaranhados que atuam na circulação do cuidado em famílias transnacionais, quais os meios empregados para tanto e aspectos simbólicos que permeiam seus gestos.
Metodologia
A investigação se insere na pesquisa nacional intitulada "Acesso à Saúde e Vulnerabilidades de Migrantes Internacionais no Contexto da Disseminação da COVID-19: uma Pesquisa Interinstitucional em Rede Colaborativa", com apoio da FAPESP. Nessa pesquisa, foram entrevistados 43 venezuelanos em 6 estados de 4 regiões diferentes no Brasil sobre diversas temáticas que envolvem a problemática da pandemia no cotidiano de migrantes, como remessas internacionais e as relações com familiares dentro e fora do Brasil. Em adição aos dados da pesquisa nacional, será conduzida uma investigação qualitativa, de caráter etnográfico e multissituada. Utilizará entrevistas semi-estruturadas com migrantes transnacionais venezuelanos residentes em São Paulo e seus familiares. Os participantes serão selecionados a partir de critérios definidos: a) que tenham residido na cidade de São Paulo durante a pandemia; b) que tenham familiares em outros países que estejam dispostos a participar da pesquisa. Pretendemos conduzir a amostragem através do processo de “bola de neve”, seguindo critérios de acessibilidade e pluralidade de trajetórias até a exaustão por repetição. As respostas das entrevistas serão analisadas com base em seis dimensões: a) os tipos de recursos em cuidado que circulam; b) os meios e canais que impactam sua performance; c) quem são os atores envolvidos; d) a dimensão temporal; e) as dimensões geográficas que impactam a circulação do cuidado e f) as motivações para o deslocamento migratório. Um diário de campo também será utilizado para auxilizar a produção e análise de dados.
Resultados e discussão
Em relação à pesquisa nacional que engloba esta investigação, análises preliminares de dados descritivos, de contextualizações de campo e de entrevistas mostram um panorama dos impactos da pandemia na circulação do cuidado em famílias transnacionais. Ressaltamos as consequências sociossanitárias da pandemia, em especial relacionadas à empregabilidade, renda e moradia que reverberam nas relações de migrantes com seus familiares. As tensões e o medo em relação à saúde daqueles que estão nos seus países de origem também aparecem numa observação inicial do campo. A prospecção de interlocutores para as entrevistas adicionais já está em estágio inicial.
Conclusões/Considerações finais
O foco na circulação do cuidado em famílias transnacionais será essencial para elucidarmos os reais impactos das políticas de restrição de mobilidade a nível global em famílias transnacionais, e eventuais excessos ou usos indevidos de tais medidas. Também pretendemos avançar na ideia ainda incipiente do caráter político e jurídico de famílias transnacionais para além das mediações restritivas dos Estado e pautar, no contexto transnacional que vivem, seu direito à saúde universal e intercultural através de fronteiras nacionais.
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