Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.5 - Usuários, gestão do cuidado e vulnerabilidade

47385 - DISPOSITIVOS DE GESTÃO AUTÔNOMA DO CUIDADO E DA MEDICAÇÃO PARA UMA ATENÇÃO A SAÚDE INTEGRAL NA ATENÇÃO BÁSICA
EDUARDO CARON - UFF, ALDO PACHECO FERREIRA - ENSP, DEIVISSON VIANNA DANTAS DOS SANTOS - UFPR, LAURA FEUERWERKER - USP, MARCOS BESSERMAN - ENSP, CRISTAL OLIVEIRA MONIZ ARAGÃO - UFRJ, EDUARDO KENJI FUTEMA HONJI - USP, LUCAS FERRAZ DA SILVA - SMS SP, JULIANA BORGES PINHEIRO - SMS SP, MARILENE DOS SANTOS CARDOSO - SMS RJ, FELIPE GONZAGA DE OLIVEIRA - SMS RJ, MARIA CASSIANA DIAS DA SILVA - SMS RJ


Apresentação/Introdução
A crescente incorporação tecnocientífica nos processos de saúde tornou a mercantilização o dispositivo estruturante do conhecimento, práticas e políticas que majoritariamente orientam os sistemas de saúde. O processo de especialização crescente das disciplinas conduziu à redução da saúde a um campo de intervenção intra-individual cada vez mais molecularizado e ao consumo de produtos e serviços, centralmente os medicamentos.
A atenção a saúde é cada vez mais organizada em função de lógicas fragmentárias focadas em diagnósticos e procedimentos determinados pelos saberes das disciplinas da saúde em que os profissionais são atores centrais e as pessoas usuárias, passivas, objeto dos tratamentos, controles e procedimentos. Neste processo, o espaço de ampliação de autonomia inerente à melhoria da saúde se reduz e a participação no processo do cuidado é limitada.
Esta pesquisa intervém no sentido do fortalecimento da APS, da apreensão ampliada das necessidades de saúde e da produção de cuidado integral e construção de uma estratégia voltada para a ampliação de autonomia nas relações em saúde na Atenção Básica, que incide num campo problemático gerado pelo modelo centrado na doença que condiciona os processos de cuidado no modo queixa-conduta, fragmenta as ações de saúde e inviabiliza o trabalho multiprofissional.

Objetivos
Mobilizada pela pergunta “como deslocar a medicação do centro do processo de cuidado e aumentar a participação neste processo?” a pesquisa tem o objetivo de produzir um dispositivo estratégico para ampliação da autonomia e integralidade e problematizar barreiras limitam a efetividade do cuidado na Atenção Básica. A pesquisa também visa a produção de subsídios para a construção de um Guia de práticas de GACM apropriado para a APS.

Metodologia
A pesquisa foi implementada em quatro unidades básicas de saúde, duas no Rio de Janeiro e duas em São Paulo em 2022 e 2023, incluindo encontros de Educação Permanente para acompanhamento do processo da pesquisa, Rodas de Conversa com ACS sobre os modos de uso de medicamentos no território e processo de trabalho, Rodas de Conversa com usuários e Grupos de Gestão Autônoma do Cuidado e da Medicação GACM com usuários e trabalhadores moderadores dos Grupos.

Resultados e discussão
Estes encontros constituíram um processo dialógico participativo de construção do dispositivo com o seguinte desenho metodológico:
A participação no dispositivo GACM produz efeitos de bem-estar e melhoria da saúde pelo compartilhamento de experiência, de afetabilidade, sensibilidade e auto percepção que facilita a contração de grupalidade e a conexão coletiva em rede. A GACM é um dispositivo de geração de valores através da experiência de cuidado compartilhado, em que se valoriza diferenças e não se julga ou diagnostica. A gestão do dispositivo é coletiva, o protagonismo é distribuído e os profissionais de saúde saem do centro do processo. Reivindica acesso integral aos recursos biomédicos e tecnologias de diferentes racionalidades e epistemologias. É um dispositivo de investigação e de Apoio distribuído que interfere na formação de profissionais e acadêmicos.
Os principais núcleos problemáticos emergentes na pesquisa:
1) Um conjunto de práticas sociais em relação ao uso de medicamentos configura uma situação de riscos farmacológicos e clínicos.
2) A polifarmácia produz efeitos indesejados, insatisfação e barreiras no processo de cuidado.
3) Resistências aos diagnósticos, tratamentos e orientações geram barreiras à vinculação com o serviço.
4) Falta de atenção integral aos sofrimentos emocionais e físicos.
5) Múltiplas violências e racismo nas relações em saúde constituem barreiras ao cuidado integral.
Principais indicadores de efetividade do dispositivo: ampliação da participação de usuários e trabalhadores no processo de cuidado; mudanças na relação dos usuários com o uso de medicamentos e o autocuidado; aumento do diálogo e cooperação entre trabalhadores e usuários; maior abertura da escuta dos profissionais; ampliação da rede de relações e de cuidado; enriquecimento de relações solidárias; aumento do interesse em conhecer sobre a saúde; participação em atividades de ensino ofertadas no território.

Conclusões/Considerações finais
Os resultados desta pesquisa apontam linhas estratégicas para a construção na Atenção Básica de dispositivos de cuidado integral e compartilhado, defesa dos direitos humanos, da autonomia coletiva e redes de afetabilidade e convivência cogestiva, objeto de uma pesquisa multicêntrica em diferentes realidades socioculturais brasileiras.