Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.5 - Usuários, gestão do cuidado e vulnerabilidade

47425 - ENTREVISTA MOTIVACIONAL NO CUIDADO NUTRICIONAL DE MULHERES COM EXCESSO DE PESO NO PÓS-PARTO: UMA ABORDAGEM QUE AMPLIA O DIÁLOGO E A HUMANIZAÇÃO
CLÁUDIA MACHADO COELHO SOUZA DE VASCONCELOS - UECE, DANIELA VASCONCELOS DE AZEVEDO - UECE, BEATRIZ LIMA ARNAUD - UECE, LENICE MATOS LIMA - UECE, ILANNA MARIA VIEIRA DE PAULA - UECE, ILANA NOGUEIRA BEZERRA - UECE


Apresentação/Introdução
As práticas de cuidado em alimentação e nutrição requerem uma abordagem que coloque o sujeito no centro de seu cuidado. O Ministério da Saúde destaca, em documento recente, o cuidado emancipador, onde esse sujeito se torna “experiente” da sua saúde, doença e cuidado, bem como propõe a inclusão das histórias, experiências e autonomia dos sujeitos, o que não exclui a clínica nem o conhecimento científico (BARROS, 2021). Assim, os sujeitos nas práticas de cuidado emancipador em saúde são “sujeitos de sua própria saúde”, responsáveis pela produção de novos caminhos, deixando de ser paciente, apenas alvo de intervenções em saúde (AYRES, 2005). Nesse contexto, a entrevista motivacional emerge como possibilidade para promover esse cuidado emancipador.
Os princípios da técnica tais como resistir ao reflexo de consertar as coisas; escutar com empatia; e fortalecer o paciente, permitirá maior envolvimento da equipe de saúde com os indivíduos, facilitando a identificação das necessidades da população (ROLLNICK; MILLER; BUTLER, 2009). Deste modo, vislumbra-se que a utilização da entrevista motivacional, enquanto técnica de aconselhamento em saúde que aborda habilidades comunicacionais e interpessoais importantes, pode contribuir para um cuidado nutricional emancipador.



Objetivos
Compreender a experiência de mulheres sobre o cuidado nutricional que incorpora a entrevista motivacional.

Metodologia
Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa realizado na cidade de Fortaleza, Ceará. Participaram do estudo 08 mulheres que estavam no período de até seis meses pós-parto, apresentavam excesso de peso e que fizeram parte de um ensaio controlado randomizado, cuja intervenção era um acompanhamento nutricional realizado quinzenalmente na atenção primária à saúde, por nutricionistas previamente treinados em entrevista motivacional (EM). A seleção das participantes se deu de forma intencional convidando àquelas mulheres que compareceram a pelo menos 02 sessões de EM. A construção de dados ocorreu entre dezembro de 2022 e maio de 2023, mediante realização de entrevistas dialógicas. A análise dos dados ocorreu por meio da Análise Temática de Braun e Clark (2006) e a interpretação apoiada no cuidado em saúde a partir do referencial de Ayres (2001; 2005). A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, parecer no. 4.442.057.

Resultados e discussão
A experiência das participantes revelou que a incorporação da entrevista motivacional no cuidado nutricional promoveu um acompanhamento acolhedor, empático, não julgador e adequado à sua realidade de vida. A escuta ativa e o interesse genuíno no outro foram aspectos destacados pelas participantes. As mesmas não se sentiam pressionadas para realizarem mudanças e se sentiam motivadas e encorajadas para seguirem tentando novos hábitos e comportamentos de forma processual. A construção do cuidado emancipador requer dos profissionais de saúde atitudes em seu cotidiano de trabalho. Assim, as habilidades de comunicação e interpessoais, próprias da EM, contribuíram para essa abordagem de cuidado.
Segundo Ayres (2001), a experiência da saúde envolve a construção compartilhada de nossas ideias de bem-viver e de um modo conveniente de buscar realizá-las na nossa vida em comum. Trata-se, assim, não de construir objetos/objetividade, mas de configurar sujeitos/intersubjetividades (AYRES, 2001). A parceria, respeito, aceitação, compaixão e a colaboração ativa, que fazem parte do espírito e estilo da EM, e que apareceram na experiência das mulheres, foram elementos centrais para essa construção de ideias compartilhadas e de intersubjetividades entre profissional e sujeito.
As trocas dialógicas verdadeiras fizeram parte da experiência das participantes. Quanto mais o cuidado perpassa tais trocas e se afasta de uma aplicação mecânica e unidirecional de saberes instrumentais, mais a intersubjetividade experimentada no acompanhamento retroalimenta os sujeitos de novos saberes práticos e tecnocientíficos (AYRES, 2005). As mudanças de comportamento e hábitos alimentares, da prática de atividade física, de novos conhecimentos adquiridos e praticados, além de mudança do peso corporal durante o acompanhamento, revelaram a potência do cuidado na promoção da saúde e do bem viver.


Conclusões/Considerações finais
A experiência de mulheres em cuidado nutricional revelou que a entrevista motivacional foi potente para melhorar o diálogo, a comunicação, o vínculo entre profissionais de saúde e sujeitos. Favoreceu o empoderamento e o processo de mudança de hábitos e comportamento alimentar das mulheres. Diante dos relatos, a recomendação do uso da EM no manejo do excesso de peso em documentos oficiais do Ministério da Saúde deve ser fortalecida e a técnica mais disseminada no SUS.