Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.6 - Humanização, emancipação e educação permanente: práticas profissionais plurais na integralidade em saúde

46275 - INTERSECCIONANDO EXPERIÊNCIAS NOS SERVIÇOS E ABORDAGENS DE CUIDADO EM SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS
JAMILE GUIMARÃES - USP, JOSÉ RICARDO AYRES - USP, ISABELLA ALMEIDA - USP, GABRIELA CALAZANS - USP, VALÉRIA MENDES - USP


Apresentação/Introdução
A política nacional de atenção integral à saúde de adolescentes e jovens (A&J) conferiu relevo à integralidade da atenção à saúde e ao trabalho intersetorial e interdisciplinar de ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde. A proposta do cuidado integral focaliza o desenvolvimento de ferramentas e abordagem em cuidado e serviços amigáveis aos jovens, a partir da integração entre unidades de ensino e de saúde nos territórios.


Objetivos
O objetivo geral foi compreender entraves e potencialidades para o acesso de A&J aos serviços públicos de saúde, a partir das perspectivas de jovens e de profissionais da saúde. O objetivo específico foi discutir as demandas e necessidades apontadas pelos jovens no cenário pós-pandêmico.


Metodologia
Este trabalho resulta do recorte temático de um projeto de intervenção multissituado (São Paulo, Santos e Sorocaba) sobre prevenção de IST/HIV, Covid e sofrimentos psicossociais, voltado à compreensão e produção de ações integradas entre escolas e unidades básicas de saúde. Abordamos os resultados produzidos em uma comunidade periférica localizada na zona sudeste da cidade de São Paulo. A pesquisa qualitativa mobilizou os seguintes instrumentos metodológicos: observação dos serviços e atividades externas em uma unidade básica de saúde; conversas e entrevistas semiestruturadas com 19 trabalhadores (dos diferentes perfis profissionais) e entrevistas semiestruturadas com 11 jovens entre 16 e 23 anos, moradores do território.


Resultados e discussão
Referente à baixa frequência de adolescentes/jovens, os profissionais apontam como entraves a condição de ‘ser saudável’, a sobrecarga de trabalho que restringe sua atuação a demandas curativo-assistenciais e especificidades desse grupo. Sobre esse último ponto, foram abordados limites da formação profissional. Há um consenso sobre a necessidade de possuir competências específicas afins às culturas juvenis, enquanto impulsoras da participação de A&J. Daí eles considerarem que as ações de saúde para jovens precisam “ir até eles”, em instituições voltadas a práticas culturais e esportivas. Já para os jovens, a principal barreira de acesso tem como pano de fundo as relações intergeracionais e refere ao binômio julgamento-vergonha: antevêem reprovações e/ou julgamentos morais nas interações com profissionais. Outras barreiras seriam a falta de informação sobre os serviços e tecnologias disponibilizadas, que derivaria da ausência de divulgação na televisão e redes sociais, e os problemas estruturais que afetam a qualidade do atendimento. Pesam o tempo de espera e a sensação de um atendimento não-significativo pela falta de conteúdo informativo/aprendizagem em consultas demasiado rápidas e pouco interativas. Os jovens enfatizam a importância do acolhimento (abertura, receptividade, respeito, dialogicidade), com atendimento humanizado desde a recepção. A centralidade da “conversa” está intrinsecamente relacionada à importância atribuída à “terapia” e ao “psicólogo”: é poder falar sobre si mesmos, os desafios que enfrentam e como lidar melhor com seus problemas. Associa-se a isso às necessidades de saúde apontadas: 1) sexualidade, não apenas prevenção a IST e contracepção, mas abordar questões relativas à construção de identidades de gênero e sexuais, e 2) saúde mental para cuidar dos efeitos da pandemia de covid (oriundos do isolamento) e lidar com as pressões normativas que sofrem na transição para a idade adulta. Foi assinalada ainda a relevância da presença da atenção básica na escola, com a realização de atividades de educação em saúde nos temas supracitados.



Conclusões/Considerações finais
A avaliação que fazem sobre o atendimento recebido condiciona o uso subsequente, seja adesão a um acompanhamento rotineiro ou acesso apenas em casos de emergência/urgência. O incremento da frequência juvenil nos serviços de saúde passa necessariamente pelo desenvolvimento de uma compreensão do processo de trabalho na perspectiva do Cuidado, que reclama uma abordagem construcionista no processo de trabalho na perspectiva do cuidado, dialógico no método e orientado pelo horizonte normativo dos Direitos Humanos, de modo constituir-se uma leitura de necessidades e definição de finalidades e meios de atingi-las. Esse empreendimento deve se constituir com base no diálogo compreensivo entre gestão, profissionais da saúde e jovens, modulando o atendimento a partir de aspectos do universo cultural e questões experienciadas nessa fase da vida vis-à-vis intersecções com gênero, sexualidade, contexto de vida, raça/cor, dentre outros.