03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO25.6 - Humanização, emancipação e educação permanente: práticas profissionais plurais na integralidade em saúde |
46712 - O CADERNO DA(O) AGENTE COMUNITÁRIA(O) DE SAÚDE: FORMA DE REGISTRO, PRODUÇÃO DE SAÚDE E LUGAR DE MEMÓRIA PEDRO HENRIQUE MATTOS FERREIRA - EPSJV/FIOCRUZ, BIANCA BORGES DA SILVA LEANDRO - EPSJV/FIOCRUZ, JOSÉ MAURO DA CONCEIÇÃO PINTO - EPSJV/FIOCRUZ, ISABEL DOMINGOS MARTINEZ DOS SANTOS - ENSP/FIOCRUZ, REINALDO DE ARAÚJO DANTAS LOPES - EPSJV/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Os profissionais de saúde produzem e utilizam informações no cotidiano de seu trabalho. A(o) Agente Comunitária(o) de Saúde (ACS) é uma profissional de saúde de suma importância na Atenção Primária à Saúde (APS) que assume diferentes papéis no meio social, tendo capacidade de circular entre diversos espaços mediando as relações entre os serviços de saúde e a comunidade. Neste sentido, pode ser considerada(o) os “olhos” e os “ouvidos” da equipe de Saúde da Família no território. Entre suas atribuições e atividades destaca-se a produção, consolidação e análise de dados e informações em saúde. Para realizar tal prática, além dos instrumentos oficiais, outra forma de registro elaborada pelos próprios agentes consiste no Caderno da(o) ACS.
Objetivos Compreender o uso do caderno da(o) ACS como um registro relevante para a produção e uso de informações em saúde, para a vigilância e o cuidado em saúde no âmbito da APS, constituindo-se como um lugar de memórias.
Metodologia Este trabalho, no formato de ensaio crítico-reflexivo, tem como metodologia principal a revisão da literatura do tipo narrativa para a (re)construção de redes de pensamentos e conceitos envolvendo a temática do caderno da(o) ACS. Além do levantamento de literatura científica no Portal da Biblioteca Virtual em Saúde, procedeu-se a análise documental do relatório da I Mostra ‘O caderno do/a ACS: forma de registro e produção de saúde’ realizada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) em 2021. A produção de ensaios no âmbito científico, conforme pontuado por Francis Meneghetti, constituiu-se como uma forma de geração de conhecimento interdisciplinar, fomentando a compreensão de distintos fenômenos da realidade. Não se trata uma formulação aleatória ou fragmentada, mas sim a reunião de perspectivas distintas sobre um mesmo objeto, ao mesmo tempo, mobilizando o leitor para reflexões, concordâncias e discordâncias.
Resultados e discussão A análise do material identificado possibilitou a formulação de três categorias analíticas (dimensões) que envolvem o uso do caderno para as(os) ACS no contexto da APS, a saber, o caderno como: um instrumento de trabalho; um meio/forma de produzir o cuidado em saúde; e um lugar de memória para os agentes de saúde. Essas categorias ou dimensões de uso do caderno podem ser mais, ou menos, presentes no uso realizado por cada profissional, não havendo uma hierarquia ou sobreposição entre elas, na verdade estão em constante interação. A primeira delas (instrumento de trabalho), por vezes, é a dimensão mais facilmente a ser visualizada, pois, no cotidiano de trabalho, o caderno se materializa como um objeto (em papel ou digital) que a(o) agente carrega para a realização de seu processo de trabalho. Nesse quesito, trata-se de uma estratégia informal elaborada pelo próprio profissional, o olhar ampliado sobre o caderno permite identificá-lo como um documento. A segunda dimensão envolve o uso do caderno na produção do cuidado em saúde, uma vez que é por meio dele que as/os agentes reúnem um conjunto de dados e informações importantes para o cuidado ampliado e territorializado que, em muitos contextos, não ‘cabem’ ou não tem espaço de registro por esse profissional nos sistemas oficiais e formais de informação, sendo também registros relevantes para os demais membros da equipe de saúde da família. Tal perspectiva deve ser alinhada, inclusive, com o entendimento de que o registro e a informação em saúde não devem ser compreendidos, apenas, como aspectos operacionais e instrumentais, mas como estruturantes do cuidado e da atenção à saúde. Por fim, a terceira dimensão envolve a visibilidade do caderno como um lugar de memória para os próprios ACS, pois não se pode negar o aspecto subjetivo e singular que envolve a produção dos cadernos, sendo, eles próprios também o reflexo e a memória da atuação do profissional enquanto agente de saúde.
Conclusões/Considerações finais Os registros no caderno podem ser considerados estratégias individuais por meio das quais as(os) ACS encontram espaço de autonomia para registrar um conjunto de informações sociais e de saúde que não ‘caberiam’ nos sistemas oficiais de informações em saúde. O estudo evidenciou a relevância de se reconhecer e dar visibilidade a existência do caderno da(o) ACS enquanto instrumento que está imbricado no processo de trabalho dessa/e profissional em suas distintas frentes de atuação. A realização desse estudo também se constituiu em um esforço acadêmico de mostrar a relevância central dos registros e informações em saúde no cotidiano de trabalho desses profissionais que, em diversos momentos, aparece como temática periférica. A diversidade e pluralidade dos cadernos é o que os tornam únicos na APS, não sendo oportuno indicar uma padronização em nível nacional, mas sim, refletir sobre elementos centrais que perpassam a sua utilização.
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