03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO25.6 - Humanização, emancipação e educação permanente: práticas profissionais plurais na integralidade em saúde |
47318 - A FOTOGRAFIA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DE HUMANIZAÇÃO DO TRABALHO NUMA USF DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR/BA ARATON CARDOSO COSTA - SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA, ALINE MARIA NASCIMENTO SANTOS - GOVERNO DO ESTADO DO DISTRITO FEDERAL, SANDRA ASSIS BRASIL - UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA, ALAN JONH DE JESUS COSTA - FUNDAÇÃO ESTATAL SAÚDE DA FAMÍLIA (FESFSUS)
Contextualização O presente trabalho trata de uma experiência de uso da fotografia como dispositivo para Educação Permanente em Saúde (EPS), com destaque para a humanização do trabalho em saúde numa Unidade de Saúde da Família (USF) da região metropolitana de Salvador/BA.
Descrição A experiência ocorreu em quatro etapas, com foco na humanização do trabalho em saúde. Na primeira, foram realizados registros fotográficos do trabalho em saúde, considerando os espaços da USF, o território, seus encontros e a poesia do cotidiano. Na segunda, foi construído uma curadoria dos registros fotográficos, na qual foram selecionadas fotografias de acordo com critérios estabelecidos pela equipe que coordenou a experiência, a saber: qualidade da foto; dimensão estética; relação com o processo de trabalho em saúde e a humanização; e o potencial de debate que a imagem carregava. Na terceira etapa, foi realizada uma oficina em caráter de EPS a partir de um laboratório de revelação do trabalho em saúde no espaço da USF, com momento de debate sobre a complexidade do trabalho e a proposição de análise e significação das fotografias em legendas. Na quarta etapa, as fotografias selecionadas na oficina, junto das legendas e de textos introdutórios elaborados pela equipe de coordenação, foram impressas e expostas na USF, de modo que o produto do encontro pudesse ser espalhado nos diferentes espaços da unidade.
Período de Realização Experiência realizada por residentes em saúde da família, entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022.
Objetivos Descrever, através da interface entre arte e saúde, uma experiência de uso do recurso da fotografia como dispositivo para EPS, com ênfase na humanização do trabalho em saúde
Resultados 57 fotos foram destinadas à oficina, na qual o laboratório de revelação do trabalho produziu seleções fotográficas individuais seguidas de debates coletivos, tendo como produto 20 fotos significadas com legendas. Termos como vínculo, compromisso e partilha destacaram o aspecto relacional do trabalho. Foram discutidos temas do processo de trabalho em saúde, como, por exemplo, o reconhecimento da importância da pluralidade de habilidades e saberes e do trabalho em equipe eos desafios de atuação no território. De forma inesperada, emergiram histórias de trabalhadoras/es que abriram espaço para a discussão sobre processos de identificação com o trabalho em saúde, articulando memórias que alternavam lugares enquanto trabalhadora, mãe e usuária. Os registros selecionados pelas trabalhadoras apontavam diversos encontros entre sujeitos e distintos momentos do trabalho em saúde, com destaque para atividades no território e a atuação das Agentes Comunitárias de Saúde, permitindo a análise dos desafios e recompensas na construção de uma atuação no território (apresentando a ambivalência entre ser trabalhadora e usuária), além da influência do racismo estrutural e da violência existente no território e sobre a população que nele vive.
Aprendizados O uso de recursos artísticos na produção de espaços de cuidado e EPS no trabalho em saúde, em especial a fotografia, podem facilitar o debate sobre temas desafiadores, mobilizar afetos e destacar a dimensão relacional, resgatando a humanização enquanto política do SUS e base para o trabalho na APS, além de qualificar espaços de ambiência da USF. Os efeitos dos recursos artístico-criativos também permitem tensionar elementos instituídos no trabalho a partir de processos de abertura coletiva à diferença, quepodem ressoar como alimento para um trabalho coletivo, implicado e saudável, sem negar suas contradições e (necessários) conflitos. Reforçamos, ainda, o potencial das residências multiprofissionais na criação de novos modos de produção do cuidado.
Análise Crítica A aposta na EPS permitiu garantir a indissociabilidade entre educação, atenção e gestão, de modo que a clínica produzida, bem como o próprio trabalho na Saúde da Família, pôde ser colocada em perspectiva a partir dos registros fotográficos e legendas criadas pela equipe. Dado que as práticas humanizadas têm perdido força diante da precarização do trabalho, o processo de EPS e uso de imagens que retratavam encontros entre trabalhadoras, usuárias e o próprio território vivo, permitiu resgatar a dimensão micropolítica do trabalho de forma articulada ao processo de trabalho em saúde, retomando a ideia dos serviços enquanto espaços produtores de saúde numa perspectiva social e subjetiva. Pela via da problematização do instituído, surgiram espaços para debates sobre acolhimento, ampliação da clínica, vínculo e a própria determinação social da saúde, onde a marca do racismo pôde ser debatida a partir de uma história fomentada pela foto escolhida por um trabalhador. Percebemos esse movimento de humanização em saúde com o uso da fotografia como potência na melhoria da qualidade do cuidado ofertado e como processo de educação/formação de trabalhadoras. Entretanto, garantir espaços de sensibilização e educação permanente voltados à humanização ainda é um desafio.
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