Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO25.7 - Covid-19, negacionismo e garantia do acesso à saúde: significados e sentidos sobre prevenção e produção de cuidados

47037 - DA “PREVENÇÃO COMBINADA” À “PREVENÇÃO INTEGRAL”: CONSTRUINDO A RESPOSTA À SINDEMIA COM ALUNOS DO ENSINO-MÉDIO EM SÃO PAULO (2020-2023)
VERA SILVIA FACCIOLLA PAIVA - USP/IP, JOSÉ RICARDO CARVALHO MESQUITA AYRES - USP/FM, IVAN FRANÇA JR - USP/FSP, MARCOS ROBERTO GARCIA - UFSCAR/SOROCABA, CRISTIANE GONÇAVES SILVA - UNIFESP/SANTOS, LUIS GUILHERME GALEÃO - USP/IP, JULIO SIMÕES - USP/FFLCH


Contextualização
Um projeto-intervenção para mitigar a vulnerabilidade de adolescentes e jovens (A&J) às IST/Aids e violência entre pares e parceiros precisou ser (re)desenhado desde a emergência da Covid-19 em 2020 para conformar a proposta metodológico-conceitual ao contexto de sindemia

Descrição
Implementamos uma abordagem "psicossocial baseada em direitos humanos" que coproduziu “inéditos viáveis” (Freire) com a/os estudantes de ensino médio de 8 territórios escolares (em Sorocaba, Santos e São Paulo). Adaptamos a trajetória do estudo de métodos mistos aos cenários locais à dinâmica de duas crises: (1) à polarização política que agudizou a reação conservadora à educação sexual implicada no letramento de A&J como sujeitos de direito à saúde integral e à não discriminação e (2) ao desdobramento da sindemia de doenças infecciosas e crise social.

Período de Realização
A polarização política de 2019-2023 desafiou a perspectiva interseccional do projeto. Mais intensa no período eleitoral, a polarização interpelou a participação nas escolas mobilizando pais e professores que temiam reações morais que tem como alvo a escola.




Objetivos
Sustentar a capacitação de agentes-jovens de prevenção (cerca de 180 estudantes) em 8 escolas públicas de ensino médio, com quem desenvolvemos estudos de inspiração etnográfica e questionários, online em 2020-21, e presencial em 2022 quando 1242 alunos do 3º ano responderam ao questionário.

Resultados
O desdobramento da sindemia “no tempo do apocalipse zumbi”, como resumiu um jovem, demandou acolhimento de sofrimento psicológico no âmbito da integralidade do Cuidado - da prevenção ao tratamento - integralidade implicada nas ações de saúde necessárias ao contexto sanitário inescapável. As sensações de excesso de algo que A&J identificam como “ansiedade” ou medos exacerbados acumulava-os, interpelando professores sensíveis, mas sem capacitação para o tema. Todos precisavam encarnar a cada cena de interação cotidiana a prevenção às doenças infecciosas como Covid e MPox, além de prevenir gravidez e IST/Aids quando a interação era sexual.
Com agentes-jovens produzimos e avaliamos oficinas de prevenção integral que visam competências transversais aos tipos de agravo ou questão para a saúde e bem-estar: (a) superar as noções de inevitabilidade dos agravos à saúde, concebendo-se como sujeitos de direitos; (b) compreender que as experiências mudam de acordo com o cenário e a cena, aprendendo a decodificar cenas e cenários de interação psicossocial; (c) saber como acessar informações baseadas no melhor consenso técnico-cientifico para usá-las nas suas cenas cotidianas de maior ou menor exposição (d) saber quais são e como acessar os insumos de prevenção e cuidado, encarnando seu uso nas cenas vivas de seu cotidiano.
As oficinas incluíram resposta à pandemia de sofrimento psicossocial, como nomeamos, traduzida pelos A&J como se fosse viral - “quando eu peguei depressão” – e que observamos ser resultado da discriminação e violência, associadas ao estigma e discriminação, ao sofrimento resultante da sua condição social e ao luto por Covid (1/3 dos alunos do 3º ano perderam familiares/amigos).



Aprendizados

Com a vacinação, aulas presenciais e o fim da Emergência de Saúde Pública referente à Covid, seguimos avaliando a abordagem de prevenção integral que cunhamos com base nos achados deste projeto. Agentes-jovens pontuam que “a pandemia já passou, mas discriminação e violência nunca param”.
Estudantes são o principal recurso de acolhimento do sofrimento dos colegas e, com apoio do projeto, da mobilização pela prevenção. Ao se assumirem como sujeito de direitos decodificam porque, como, onde e quando usar (ou não) insumos de prevenção, e acessá-los; podem aplicar este conhecimento e sabedoria produzidas coletivamente e a prática sobre seu cotidiano em diferentes cenas de interação. Ao inserir informações e insumos (máscaras, vacinação, testes) numa cena de exposição à Covid, têm mais chance de também fazê-lo em relação às IST/Aids e à gravidez não planejada (consentimento, camisinha, contraceptivos, PEP, pílula do dia seguinte, entre outros).
A criatividade da gestão escolar e de estudantes no esforço para apoiar a pesquisa-intervenção foi chave. Não há empenho conservador que, em tempos mediados pelo celular e plataformas digitais de relacionamento constituem as relações, interdite o debate sobre sexualidades e gêneros (identidades e práticas) e elimine a experiência de A&J, também mobilizados pela não-discriminação de corpos, identidades e desejos desvalorizados.

Análise Crítica
Mesmo em contextos adversos, seguimos afiançando a produtividade da integralidade e dos princípios dos direitos humanos para ações em saúde que informam essa abordagem: os princípios da participação, não-discriminação e o da aceitabilidade seguiram articulando todos os outros. Garantir o direito à prevenção no contexto das crises sanitárias previstas em tempos de crise climática somará desafios à sustentabilidade de programas de prevenção em escolas para mitigar a vulnerabilidade de A&J a sofrimentos desnecessários.