03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO26.3 - "A vida exige apoio e condições possibilitadoras para poder ser uma vida vivível”: proteção social, vulnerabilidades e o papel da saúde |
46614 - REVISTA TRAÇOS – TRABALHO E RENDA COMO FERRAMENTAS DE CONSTRUÇÃO DE AUTONOMIA. MARCELO PEDRA MARTINS MACHADO - FIOCRUZ BRASÍLIA, STELLA GOMES ALVES DOS SANTOS - FIOCRUZ BRASÍLIA, JULIANA CRISTINA BARBOSA BORGES - FIOCRUZ BRASÍLIA, MARIA FABIANA DAMÁSIO PASSOS - FIOCRUZ BRASÍLIA, MAYARA CRISTINA SILVA DE ARAUJO - FIOCRUZ BRASÍLIA
Apresentação/Introdução A Revista Traços é uma das 125 publicações de rua do mundo. Foi lançada no DF em 2015 e no Rio de Janeiro em 2021. A Revista tem como principal objetivo promover a cultura local e a autonomia e reinserção social de pessoas em situação de rua ou em extrema vulnerabilidade. A Traços opera a construção e ampliação de autonomia da população em situação de rua, tendo o binômio trabalho e renda como ferramenta de manejo. Desde 2018, o NuPop Fiocruz desenvolve pesquisas com a revista e este trabalho apresenta o instrumento de avaliação de autonomia do porta-voz da cultura (PVC - pessoa em situação de vulnerabilidade que atua como vendedor da revista), para o mundo do trabalho e renda. O processo de trabalho e renda desenvolvido pela Traços inicia com um microcrédito de R$300,00 reais (fornecidos em revistas). Após um treinamento inicial o PVC é acompanhado pela Equipe Psicossocial da revista para construir uma relação com o trabalho, com o público, com a cidade, enfim, passa por um processo de ressignificação de seu lugar no espaço da cidade e junto à população em geral. Por fim, de posse dos microcrédito o PVC escolhe quanto irá reverter no seu ciclo de trabalho e renda, a partir daí, comprando a revista por R$3,00 e vendendo a revista por R$10,00 (obtendo 70% de lucro).
O objetivo do Instrumento de Avaliação de Autonomia é proporcionar uma avaliação de autonomia para subsidiar o trabalho realizado pela Revista Traços junto aos PVC. O instrumento foi construído a partir de um processo de reuniões e escuta dos porta-vozes da cultura, da equipe da Revista Traços e de diferentes autores ligados à Sociedade Civil e Políticas Públicas que atuam com populações em situação de vulnerabilidade. O instrumento hierarquiza seis domínios da autonomia do PVC que serão apresentados aqui em ordem decrescente (do mais “simples” de ser alcançado para o mais “difícil”).
Objetivos Construir um instrumento de avaliação de autonomia para pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, com especificidades do campo da trabalho e renda, para orientar a Equipe Psicossocial da Revista Traços, que acompanha os porta-vozes da cultura.
Metodologia O Instrumento de avaliação da Autonomia propõe seis domínios:
6º. Busca e mantém formas de autocuidado
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tem acesso aos recursos de cuidado e proteção e os procura/usa quando necessita;
Mantém a higiene pessoal;
Consegue fazer gestão autônoma de medicação continuada;
Capacidade de construir laços (comunitários, familiares, entre outros), capacidade de conviver.
5º. Rotina de vendas.
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tempo de vinculação com a Traços;
Consegue ter uma relação e manejo dos recursos financeiros próprios de forma adequada:
Como mantém uma rotina de compra de revistas para revenda;
Tem boa relação com as pessoas nos pontos de venda.
4º. Acesso à moradia.
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tem algum tipo de moradia (incluindo o espaço da rua, estando este relacionado com o próximo item);
Mantém relação de zelo com a moradia.
3º. Dedicação e assiduidade no campo da educação.
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tem alguma relação com a escola e/ou formação/qualificação;
Sabe ler e escrever e/ou tem interesse em aprender;
2º. Condições de ir e vir aos locais indicados (trabalho ou outras indicações)
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tem condições concretas e objetivas para ir até outros pontos indicados pela equipe;
Consegue utilizar serviços (públicos ou privados) com maior exigência/rigor (higiene, vestimentas, etc) no acesso;
Consegue ser assíduo e pontual quando solicitado.
1º. Busca trabalho em outros pontos da rede (formal ou informal).
Descrição dos pontos a serem observados e discutidos pela equipe:
Tem iniciativa para procurar outras formas de trabalho além da Traços;
Resultados e discussão Atualmente este instrumento de avaliação de autonomia está em fase de implementação junto à equipe. Foram realizadas 3 análises trimestrais com a Equipe Psicossocial da Revista e os resultados são que os domínios de busca e mantém formas de autocuidado (6º), rotina de vendas (5º) e acesso à moradia (4º), são os domínios que os porta-vozes da cultura mais conseguem acessar quando inseridos no processo de trabalho e renda promovido pela Revista Traços
Conclusões/Considerações finais No trabalho com populações em extrema vulnerabilidade, o processo desenvolvido pela Equipe Psicossocial da Revista Traços têm se revelado uma estratégia interessante na parceria com os Centros de Atenção Psicossocial e com os Consultórios na Rua (DF e RJ). Neste contexto, a construção de uma ferramenta que se proponha a avaliar os gradientes de autonomia desta população, pode significar também uma ferramenta para equipes e serviços do SUS e do SUAS.
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