Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO29.4 - O que pode aparecer e o que é escondido: sobre modos de operar a medicalização da vida

46673 - O DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO NO COTIDIANO ESCOLAR: UMA EXPERIÊNCIA DE MEDICALIZAÇÃO?
NILZA DIAS SILVA - UFRRJ, DEBORAH UHR - UFRRJ


Apresentação/Introdução
O interesse pela pesquisa nasce das indagações sobre o modo de acolhimento ao “diferente” no ambiente educacional em contraposição aos modelos padronizados da experiência pedagógica escolar. O diagnóstico psi surge nesse contexto para justificar os comportamentos de não aprendizagem como consequência de um transtorno mental e como consequência acaba por fortalecer a medicalização da vida no contexto escolar.
A essa perspectiva de transformar em doenças dificuldades de aprendizagem, Moysés e Collares (2013) chamam de medicalização da educação. O debate sobre a medicalização nasce na década de 1960. Thomas Szasz (1961), Irving Zola (1972), Ivan Illich (1975), Peter Conrad (1975) e Michel Foucault (1977, 1974/1984, 1974/ 2010) foram os autores mais destacados do primeiro momento dos estudos sobre medicalização. Cada um partiu de um ponto de vista ou problema específico, mas todos concordam que a medicalização envolve a crescente apropriação da medicina sobre áreas que antes não lhe pertenciam (Frazão e Minakawa, 2018). Na década de 90, no entanto, Conrad () afirma que a medicalização envolve a disputa de interesses de outros atores envolvidos no processo, como pais, instituições e profissionais ligadas à área da saúde.
Contudo, o debate atual sobre a medicalização tem experimentado uma mudança de foco, com atenção especial aos efeitos subjetivos da biomedicina e sua leitura biológica e cerebralista do homem, dando início à chamada biomedicalização. Autores como Adele Clark e Nikolas Rose teorizam sobre a medicalização no contexto de avanços biotecnológicos e trazem questionamentos tanto sobre o seu alcance sobre a população mais carente, como sobre o modo biológico de conceber experiências cotidianas.
Com base nessas descobertas e cumprindo a tentativa de tornar o campo psi um campo científico e de diagnósticos mais precisos, nasce e se fortalece o DSM, um manual de diagnóstico das doenças e transtornos mentais que se propõe a uma visão ateórica, que, contudo corrobora com a estratégia biopolítica de gerenciar a vida (Caponi, 2014), (Amaral e Caponi, 2020). O DSM se torna o direcionador de diagnósticos na psiquiatria e principalmente na psiquiatria do desenvolvimento, que inclui a questão do risco da doença mental (Caponi, 2014). Esse fato faz com que esse ramo se debruce sobre a infância, tomando-a um objeto de disciplinamento, em busca do adulto saudável.
E assim a escola se torna o local privilegiado de observação e de padronização do comportamento infantil. Nesse sentido Collares e Moysés afirmam que a medicalização da educação se destaca ao tentar explicar o fracasso escolar, usando de teorias que apontam como causas a desnutrição e as disfunções neurológicas. Explicar o fracasso escolar por meio da patologização ou biologização do comportamento significa, primeiro, deslocar um problema social para o corpo do aluno (Moysés e Collares, 2007); segundo, normatizar um comportamento por meio de intervenção médica/famacológica (Moysés e Collares, 2013).


Objetivos
Conrad (2007) sustenta que o diagnóstico pode ter efeitos nefastos, entretanto pode produz acesso e direitos a serviços específicos, o que acabaria por reconhecer as particularidades de alguns casos. Em meio a essa questão complexa, nasce uma pergunta de pesquisa: Quais seriam as relações e os sentidos tecidos em torno do diagnóstico psiquiátrico no que diz respeito ao fazer e às concepções da equipe pedagógica relativamente ao aluno no cotidiano escolar?
O objetivo da pesquisa é responder a essa questão, promovendo uma reflexão acerca dos significados que o laudo psiquiátrico produz na realidade escolar, notadamente nas escolas de ensino fundamental I. O objetivo principal é Identificar as relações e os sentidos tecidos em torno do diagnóstico médico/psicológico no cotidiano escolar, notadamente seus efeitos no fazer e nas concepções da equipe pedagógica relativamente ao aluno diagnosticado.


Metodologia
É importante, a pesquisa, pois promove uma reflexão sobre os modos de ser e habitar do indivíduo a partir do diagnóstico e das relações sociais que ele imprime, além de poder identificar como os professores lidam com o processo de medicalização. Por isso, é uma pesquisa de cunho social e de caráter qualitativo, que se utilizará dos métodos de revisão bibliográfica e de campo, por meio de entrevista semiestruturada com os agentes que trabalham em turmas que tenham alunos com laudo psiquiátrico. A escola será campo de pesquisa e as entrevistas ocorreram nesse espaço. A metodologia em questão valoriza a concepção dos atores em ação no campo, privilegiando a opinião direta dos mesmos.

Resultados e discussão
Pretende-se fazer uma intersecção sobre os resultados das análises de coletas de dados, a prática do professor e a dinâmica da escola

Conclusões/Considerações finais
Espera-se encontrar um campo fortemente impactado pelas concepções medicalizantes, mas com agentes (professores) que de algum modo buscam por meio de práticas específicas, driblar esse processo que apaga a subjetividade do aluno.