Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO30.3 - Saúde mental, arte e cultura

46237 - “AS VOZES QUE OUVIMOS...”: USANDO ARTE E RECURSOS AUDIOVISUAIS PARA SENSIBILIZAÇÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA DE OUVIR VOZES
FERNANDA DE JESUS LIGEIRO BRAGA - UNICAMP, FERNANDO MIKAEL FIALHO DOS SANTOS - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, FABIANA BATISTA LIMA - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, HELIO DOS SANTOS JUNIOR - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, VERA LUCIA MEIRELES - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, LUCIANO DOS SANTOS MENDONÇA - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, PEDRO GUILHERME - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, ERLAN DA SILVA BENEDITO - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, LEANDRO GUDINHO PEREIRA - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR, INGRID MOREIRA SILVA - CAPS ADULTO II FELÍCIO GASPAR


Contextualização
Em agosto de 2021, foi formado o primeiro Grupo de Ouvidores/as de Vozes no CAPS Adulto II de Osasco, com frequência semanal e composto por cerca de 20 usuários/as do serviço e uma trabalhadora que cumpria o papel de facilitadora. Com o fortalecimento deste coletivo, criação de um segundo grupo e na iminência do Dia Mundial dos/as Ouvidores/as de Vozes (instituído no dia 14 de setembro), em 2022, foi idealizado e construído pelos Grupos de Ouvidores/as de Vozes um projeto audiovisual intitulado “As vozes que ouvimos...”.

Descrição
O projeto contou com três frentes de trabalho: (1) criação de uma sala imersiva com trilha sonora e produções visuais; (2) Cine debates de dois filmes que dialogavam com a temática; (3) criação e apresentação de uma cena teatral. (1) A sala imersiva contou com produções autorais de usuários/as do CAPS e imagens selecionadas na internet que dialogavam com a temática; a trilha sonora foi composta por música instrumental e por vozes/sons gravados pelos/as componentes dos Grupos, que representavam suas experiências pessoais. A sala imersiva foi montada no Simpósio de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio do município, sendo realizado um exercício reflexivo com trabalhadores/as, o qual foi facilitado por dois usuários/as e uma trabalhadora; a sala também foi exposta durante um dia no espaço físico do CAPS, sendo de acesso livre à população; (2) Os filmes apresentados nos Cine debates foram escolhidos nos Grupos de Ouvidores/as de Vozes, a saber “Palavras nas Paredes do Banheiro” e “Uma Mente Brilhante”, sendo organizadas três sessões. Também foi construído um painel com sugestões de outros filmes e séries, e exposto no corredor do serviço; (3) A cena teatral foi apresentada no espaço do CAPS, no intervalo entre os Cine Debates, e contava um episódio de grande sofrimento de um usuário/a ao escutar diversas vozes (em sua maioria negativas e de comando) até que é interpelado por uma trabalhadora do CAPS e pensadas estratégias conjuntas de lidar com as vozes naquele contexto. Ao fim da apresentação, foi aberto espaço de troca com o público, sendo possível que este expressasse pensamentos e sentimentos evocados, bem como dialogasse com os/as atores e atrizes sobre suas experiências e montagem da cena.

Período de Realização
A preparação das ações iniciou-se no mês de julho de 2022 e foram realizadas durante setembro de 2022, envolvendo diferentes usuários/as em cada uma das frentes.

Objetivos
Dar visibilidade, criar aproximação e sensibilizar usuários/as, familiares e trabalhadores/as sobre a experiência de ouvir vozes que os/as outros/as não ouvem.

Resultados
Em uma avaliação conjunta, ao fim de setembro, foi refletido que o projeto envolveu grande parte dos/as membros/as dos Grupos de Ouvidores/as de Vozes, evidenciando diferentes papeis e funções: produção artística, edição audiovisual, atuação teatral, construção de roteiros, planejamento de etapas e cronograma, organização de espaços e materiais, etc., o que demandou encontros para além dos dias já previstos da realização dos Grupos. Foi possível estabelecer diálogos e debates que não só tangenciavam as experiências pessoais de cada um/a, mas também reflexões de como isso poderia ser transmitido a outros/as de forma a permitir o acesso à complexidade do tema. Observou-se autonomia, protagonismo e empoderamento dos/as membros/as dos Grupos em mostrar habilidades, executar tarefas, defender pontos de vista e propor ideias, bem como maior comprometimento com combinados coletivos.

Aprendizados
O formato de projeto com começo, meio e fim, estabelecimento de objetivos e etapas construídos de forma participativa revelou-se uma estratégia potente de engajamento individual e coletivo. Avaliamos também que a construção de produtos concretos e palpáveis foi fundamental para o envolvimento de todos/as, visto que a cada etapa era possível visualizar a evolução do que foi idealizado.

Análise Crítica
Observamos que as ações impactaram a comunidade do CAPS não apenas positivamente, mas provocou medo e estranhamento, sobretudo diante de algumas imagens expostas e dos filmes reproduzidos, visto que o conteúdo da experiência de ouvir vozes também é causadora de sofrimento. A diversidade de afetações foi possibilitada pelos elementos artísticos que lançamos mão e pelo intrínseco envolvimento, em todas as etapas do projeto, de pessoas que genuinamente tem ou tiveram experiência de ouvir vozes que os/as outros não ouvem. A construção e concretização do “As vozes que ouvimos...” fortaleceu os Grupos de Ouvidores de Vozes do CAPS e abriu possibilidade para a realização de novos projetos em outros âmbitos. Identificamos, porém, que o tempo de preparação poderia ter sido maior de modo a qualificar acabamentos e montagem das imagens, permitir maior quantidade de ensaios da cena teatral e até mesmo a construção de uma peça propriamente dita, bem como ampliar a divulgação das ações realizadas.