Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO30.3 - Saúde mental, arte e cultura

47853 - UM LIVRO SOBRE A LOUCURA E SUAS TRILHAS NAS ARTES, NA LITERATURA E NA HISTÓRIA
JOÃO ROBERTO MAIA DA CRUZ - ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO (FIOCRUZ), JOSÉ ROBERTO FRANCO REIS - CASA DE OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ), LEANDRA BRASIL DA CRUZ - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA (FIOCRUZ)


Contextualização
O projeto de organizar uma coletânea de ensaios sobre a loucura surgiu em razão de um intento fundamental para os organizadores do livro: pensar a loucura sem reduzi-la a doença mental, privilegiando enfoques que não a confinassem aos campos da psicologia e da psiquiatria. Não apenas críticos literários e críticos da cultura, mas também historiadores, sociólogos e pesquisadores da área da saúde mental, entre outros, têm se dedicado a estudar questões relativas à loucura em romances, contos, textos memorialísticos, nas artes plásticas, no cinema, no teatro. Portanto, no referido projeto de livro há centralidade da ideia segundo a qual a produção cultural constitui um dos mais estimulantes campos para se refletir sobre a loucura.

Descrição
Como o título explicita, "Pensar a loucura", esta coletânea de ensaios visa a refletir sobre a loucura no amplo e multifacetado âmbito da cultura. Em vários capítulos, há o propósito de situar e adensar historicamente o debate. Daí o subtítulo: “trilhas literárias, culturais e históricas”. A reflexão histórica é fundamental para se perscrutar o universo complexo da loucura, observando-se o intrincado diálogo entre terapêutica, narrativas dos sujeitos (em suas quase sempre dolorosas experiências de internação), controle social, poder psiquiátrico e institucionalização da loucura em majestosas Casas Verdes, para recuperarmos a denominação machadiana da Casa de Orates de Itaguaí.

Período de Realização
O propósito de organizar o livro surgiu no ano de 2018, ao longo do qual os organizadores elaboraram um projeto com centralidade na reflexão cultural e foco na loucura. Em 2019 foram feitos os convites a autores e autoras. No mesmo ano, após definição dos capítulos, o livro foi estruturado em 3 seções. Do segundo semestre de 2019 até 2021, foram redigidos os capítulos, os quais passaram por uma revisão inicial. Em 2022, os textos foram submetidos à Editora Fiocruz, a qual aprovou sua publicação naquele mesmo ano. Desde então o livro passou por revisões de responsabilidade da referida editora, está prestes a ser diagramado para publicação ainda neste ano de 2023.

Objetivos
Nos ensaios do livro "Pensar a loucura: trilhas literárias, culturais históricas", propõe-se investigar de novo esse tormentoso, multifacetado e instigante tema com as lentes da literatura, das artes em geral e da história. Como os textos privilegiam o debate cultural, a análise de produções artísticas e a pesquisa histórica, as fronteiras entre loucura, sanidade, experiências de opressão e sofrimento, bem como formas de resistência e contrapoder, são atravessadas e cruzadas sem maiores cerimônias. Nós, autores e organizadores, não temos dúvida quanto à potência das obras e dos autores estudados, em diferentes artes e modos de expressão, para denunciar o que há de opressivo nas formas historicamente constituídas de lidar com a loucura.

Resultados
Após todo o trabalho realizado, desde a proposta inicial até a entrega de todos os textos para a revisão final já realizada pela Editora Fiocruz, o resultado principal é a publicação do livro. Após a publicação, o resultado decisivo é o estímulo a um debate muito atual e imprescindível.

Aprendizados
A participação em uma coletânea de ensaios como essa, um trabalho coletivo, resultado de associação e interação de conhecimentos, ensina o quão importante e decisiva é a cota das construções partilhadas.

Análise Crítica
Por mais abrangente que seja, uma coletânea abrange parte bem reduzida de um problema tão amplo a complexo como o da loucura. Entretanto, uma das forças do livro é a mobilização de diferentes saberes e áreas de conhecimento para tratar do tema. Além disso, enfoques e reflexões dialogam, interagem, o que convida a pensar em correspondências e diferenças entre os capítulos. Portanto, parece-nos que há no livro apreciável unidade na diversidade dos autores e produções culturais estudadas. Diga-se ainda que os estudos de "Pensar a loucura" lançam sobre o tema modos de ver que confrontam, nem sempre de modo explícito, os descaminhos dos atuais tratamentos do que se considera desordem mental, baseados em sintomas superficiais, de acordo com classificações questionáveis do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês). Nesse sentido, o livro alinha-se, de certa forma, á noção de convivência comunitária, tal qual entendido pelo CT 30, como resistência à patologização e medicalização da vida.