03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO31.3 - Experiências em saúde e direitos humanos das e com as comunidades atingidas II |
46387 - PESQUISA CIENTÍFICA, EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E RODAS DE CONVERSAÇÃO: TECNOLOGIAS SOCIAIS PARA O CUIDADO EM SAÚDE DO POVO CAMPONÊS VULNERABILIZADO POR UM MEGAEMPREENDIMENTO GISELLE OLIVEIRA SANTOS - UPE, SUELY EMILIA DE BARROS SANTOS - UPE, CLARISSA MARQUES - UPE
Contextualização Esse trabalho surge do programa de extensão TransVERgente e das ações de pesquisa realizadas no Programa de Pós-Graduação PRISMAL da UPE. O TransVERgente conta com uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, e surgiu em 2018 com o intuito de promover ações de cuidado em saúde e orientação jurídica ao povo camponês vulnerabilizado pelas obras da transposição do rio São Francisco na zona rural de Sertânia/PE. Muitas ações extensionistas foram registradas em produção científica, bem como através de cordel e poesia matuta, com o intuito de ampliar o acesso à informação diante de uma linguagem que faz parte do cotidiano dessas pessoas. Essa é uma tecnologia social e uma atitude decolonial na prática da comunicação em saúde, numa preocupação em transpor as linguagens técnico-científicas da academia. A complexidade das demandas que emergem do território solicita uma abertura para encontrar modos de dialogar com os saberes do povo camponês e suas ruralidades, sem sobrepor o saber científico ao território.
Descrição Nas comunidades de Sítio Cipó e Cooperativa Hortifruti-Granjeiro, propusemos a realização da devolutiva do que foi desvelado na pesquisa “Em nome do 'progresso': o desenvolvimentismo constrói rios de concreto”. Foram realizadas rodas de conversação em cada uma das comunidades.
Período de Realização Março de 2023.
Objetivos Objetivamos compreender os modos como a ação extensionista em interface com a pesquisa científica contribuem para o território onde são realizadas e para a criação de tecnologias sociais.
Resultados No início, as pessoas apontavam sentidos para o trecho “rios de concreto” e falavam da tristeza em ver um canal de cimento cortando suas terras. Houve identificação com a história que narrava sobre a experiência do desamparo vivido, da sensação de perda e de desalojamento no próprio território diante das obras da transposição. Também foram rememoradas as ações do TransVERgente, ao longo de cinco anos no território. A conversa apontava para a vontade do povo de criar encaminhamentos para as demandas da comunidade, advindas das violações de direitos causadas pelo megaempreendimento. Essas pessoas camponesas ainda sofrem com a dificuldade de acesso à água, mesmo vendo o rio de concreto escoando água para os centros urbanos bem na frente das suas portas. No Sítio Cipó, a dificuldade de acesso à saúde tem mobilizado na liderança o interesse em solicitar reunião com a Secretaria Municipal de Saúde. Além disso, apontaram o interesse na proposição de cursos de qualificação profissional para jovens da comunidade. Na Cooperativa Hortifruti-Granjeiro, as pessoas apontavam ideias para ações no território, como a criação de uma trilha ecológica para colocar a comunidade no mapa do ecoturismo na caatinga, com fins de geração de empregos e de renda para viabilizar a implementação de um sistema de abastecimento de água para a comunidade; a criação de um aplicativo de celular para a divulgação de informações referentes a trilha e ao bioma, e o interesse em realizar o 2º evento em homenagem ao dia nacional da Caatinga, com a presença do TransVERgente conversando sobre feminismo decolonial. Ao final da roda de conversação, foi construído um mural com imagens que simbolizavam as ideias tecidas no encontro: em Sítio Cipó, a proposição de atividades de qualificação profissional aos jovens, para que seja possível a inserção no mercado de trabalho e a valorização do artesanato na comunidade. Na Cooperativa Hortifruti-Granjeiro, a criação de um aplicativo; a ideia da trilha ecológica e os possíveis desdobramentos da sua concretização. Os cartazes produzidos foram registrados em fotografia e vídeo.
Aprendizados Esse modo de devolver a pesquisa possibilitou a mobilização de afetos nas pessoas participantes e na pesquisadora, bem como o estreitamento dos vínculos entre todos/as. As pesquisas científicas precisam considerar as necessidades e emergências do povo camponês na singularidade do contexto em que vivem, a fim de encaminhar ações coparticipativas e contextualizadas. Este movimento possibilita mobilizar para transformar, para povoar territórios de vida e de saúde, tendo em vista os sentidos que o povo camponês dá a experiência de con-viver com a transposição.
Análise Crítica Compreendemos que não há como “(re)parar”, como sinônimo de “conserto”, os danos ao povo. Não parar, pois é preciso pôr em movimento. É necessário “(re)cobrar”, realizar o recobramento através da criação de estratégias para o fortalecimento da mobilização comunitária no cuidado em saúde do próprio povo, bem como na luta pela garantia dos direitos básicos violados pelo Estado. (Re)tomar direitos. (Rea)ver gente. Diante disso, a participação no TransVERgente mobiliza modos de ser-pesquisador/a, bem como cria espaços para o fortalecimento de ações em Saúde Coletiva. A complexidade das demandas que emergem do território solicita uma abertura para a interface entre pesquisa e extensão, que contribui para a criação de tecnologias sociais para o cuidado do povo camponês, em coparticipação com o próprio povo.
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