Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.6 - Covid 19

46420 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DURANTE A PANDEMIA: OLHARES DOS TRABALHADORES DA GESTÃO DA REGIÃO MÉDIO PARAÍBA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CRISLENE ALAMBERT - SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, MONICA VIEIRA - ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO – FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
De acordo com o Ministério da Saúde 80% dos casos de COVID-19 poderiam ser manejados na APS, por se manifestarem de forma leve e moderada. A APS é o nível de atenção capaz de atuar contendo transmissão do COVID-19 e teve como atribuição, nesse momento, identificar precocemente os casos com síndrome gripal potencializando as ações de cuidado longitudinal aos cidadãos. Um dos seus papéis foi atuar na coordenação e articulação da rede, nas ações entre os demais níveis da RAS (BRASIL, 2020). Essa pesquisa teve por interesse compreender a organização do trabalho da APS a partir dos trabalhadores que atuam na gestão e foi motivada pela constatação da baixa valorização desses sujeitos como trabalhadores, que apresentam experiências, saberes técnicos e tácitos, capazes de criticamente reconstruir suas práticas, considerando o sentido ontológico do trabalho. Os trabalhadores que atuam na gestão tendem a ser identificados como alheios aos impactos do modelo gerencialista, conformado pelos modos que operam a reprodução do capital, sendo poucos escutados como trabalhadores. No entanto, é importante lembrar que esses também foram afetados pelo atravessamento da pandemia em sua vida.

Objetivos
Analisar a percepção do trabalhador da gestão da Atenção Primária à Saúde (APS) da Região Médio Paraíba (MP) do Estado do Rio Janeiro (ERJ) sobre a organização do trabalho durante a pandemia da COVID-19.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, em que foi realizado levantamento bibliográfico acerca do processo de trabalho da APS na Pandemia, gestão e o gerencialismo; seguido de um trabalho de campo, no qual foram entrevistadas oito trabalhadoras que estiveram/estão no cargo de gestão como coordenador da APS, na região Médio Paraíba, desde março de 2020. O roteiro de entrevista foi composto por quatro blocos de questões: 1. Perfil do trabalhador da gestão; 2. Organização do processo de trabalho da APS na pandemia; 3. Potencialidades e dificuldades na organização do trabalho na APS na pandemia; 4. Participação dos trabalhadores na gestão do trabalho frente à pandemia. O material empírico oriundo das entrevistas foi tratado com base na técnica de análise de discurso (AD), entendendo que essa técnica possibilita problematizar as organizações e as relações que estão estabelecidas, pois considera-se a historicidade, as relações sociais, as transformações e as ideologias que permeiam os sujeitos. Para a fundamentação teórica, buscou-se aproximação com os conceitos de gerencialismo usando como referência para essa discussão Gaulejac (2007).

Resultados e discussão
O cargo de gestor da APS na Região MP é ocupado por trabalhadoras mulheres, enfermeiras, que apresentam experiência na APS e na gestão. Todas atuaram na assistência antes de iniciar o trabalho na gestão e a carga horária varia entre 30 e 40 horas semanais. Os discursos das entrevistadas apresentam não só suas reflexões sobre o processo vivido no trabalho, bem como contexto histórico e manifestação de desejos. Elas sinalizaram o processo de organização do trabalho durante a pandemia e as questões relacionadas com a sua função, apresentando as demandas, as responsabilidades, as tensões e os conflitos de quem ocupa o cargo de gestão nesse momento. Compartilharam as dificuldades enfrentadas, destacando as singulares do período e outras como históricas e conjunturais, que acompanham o SUS desde a sua criação. Apontaram o agravamento das relações e organização do trabalho principalmente com a adoção de ações e estratégias gerencialistas na APS, que imprime uma perspectiva de flexibilização do trabalho e o uso de mecanismos de pagamento por desempenho. Contextualizaram o uso de tecnologias digitais tanto de forma positiva e negativa. E por fim expressam que há espaço para potencialidades da APS, que acreditam no SUS e na APS como porta de entrada ao serviço.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa possibilitou um retrato do processo de organização da APS da região Médio Paraíba do ERJ durante a pandemia, através dos relatos vivos das trabalhadoras da gestão. Foi possível identificar características do gerencialismo na atuação das trabalhadoras da gestão, que são operadas de forma mais ou menos consciente. E que embora, o ser humano se construa com o trabalho e que esse seja uma atividade vital, as ideologias neoliberais confundem-se de tal forma que o ser humano é levado a agir em prol das bases do capital, quer dizer, sem conseguir romper com as barreiras que os distanciam dos valores que estruturam as bases da humanidade.