Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.6 - Covid 19

47967 - PERCEPÇÕES ACERCA DA VIOLÊNCIA OCUPACIONAL CONTRA PROFISSIONAIS DE SAÚDE EM UMA UNIDADE BÁSICA NA ZONA OESTE DA CIDADE DE SÃO PAULO NUM CONTEXTO PÓS-PANDEMIA
MICHELLE GUIMARÃES DO CARMO - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, JÚLIA AMARAL CAMARGO - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, LAURA PICCOLI SILVA - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, GUILHERME BORGES GOMES DA SILVA - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, BELISIA VASCONCELOS DE BARROS - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, ANA EMILIA RAMOS BAGUEIRA LEAL - FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Contextualização
O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Atenção Primária da Faculdade de Medicina da USP, tem como uma de suas principais atividades o Estágio de Gestão em Saúde que tem como um de seus objetivos a elaboração de uma proposta de gestão para enfrentamento de um problema local, oferecendo elementos para gestores operarem melhoras na situação identificada.


Descrição
Nosso grupo ficou fixado na unidade AMA/UBS Jd. São Jorge, situada na zona oeste de São Paulo, considerada uma região periférica com certo grau de vulnerabilidade. Com território estimado em torno de 30 mil habitantes, a unidade tem cerca de 27.000 cadastros cobertos por 09 equipes de Estratégia de Saúde da Família e 01 equipe multiprofissional, além da integração com o Atendimento Médico Ambulatorial - AMA, que atende por demanda espontânea usuários de fora do território. Apresenta, no total, 202 funcionários contratados por organização social.

Em uma primeira reunião com a gerente da unidade, foi apresentado como um dos grandes desafios atuais do serviço, o aumento do número de casos de profissionais que vivenciam situações de violência advinda dos usuários durante o cotidiano de seu trabalho.


Período de Realização
O estágio foi realizado entre fevereiro e maio de 2023. Após a definição do tema, fizemos um convite ao gerente do CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial) da região que nos mostrou a necessidade de começarmos a pesquisa elaborando um diagnóstico. De que violência estamos falando? Quem na unidade pode estar mais exposto a essas situações? Para saber o que falar era importante entender com quem e do quê estávamos falando.


Objetivos
Considerando a demanda compartilhada pela gerência, o contexto econômico e sociopolítico que vivemos nos últimos anos, um período pós-pandêmico com acentuação de conflitos, o esgotamento de profissionais sobrecarregados com políticas de metas, a ausência de estudos e dados epidemiológicos sobre o assunto e a vulnerabilidade do território da unidade, nosso trabalho assume como objetivo principal avaliar a percepção dos profissionais de saúde que atuam na AMA/UBS Jd. São Jorge sobre o aumento dos casos de violência na unidade em um período “pós-Covid”.


Resultados
Começamos com a busca pelo número de CATS (Comunicação de Acidente de Trabalho) notificados na unidade num período pregresso de 06 meses e confirmamos a subnotificação de casos, obtendo apenas 03 fichas registradas. Aqui, já pudemos observar um dado relevante para o caminhar da pesquisa. Demos início a construção de um questionário virtual na busca de elaborar um diagnóstico situacional da unidade. Com perguntas abertas e fechadas, o questionário procurou identificar, dentre outras informações, o tipo de violência mais recorrente (psicológica ou física) e as categorias mais afetadas.

68 funcionários responderam o questionário, sendo 20 Agentes Comunitários de Saúde. 94% eram mulheres, 45% autodeclarados brancos e 75% atuavam há mais de 2 anos na unidade. 92% considerou a violência contra os profissionais algo frequente enquanto 18% relatam ter sofrido algum tipo de violência física e 52% relatam casos de violência psicológica. Alguns dos principais resultados que pudemos acompanhar durante o tempo de estágio, foi o aumento da discussão sobre o assunto entre os profissionais. Ao longo das 03 semanas de aplicação do questionário, houve a abertura de 06 novos CATs no serviço.



Aprendizados
Os resultados foram apresentados na reunião geral de equipe, sendo feita também a elaboração de um vídeo curto com os dados da pesquisa e um fluxograma de notificação de violência na unidade, que pudesse chegar a todos os profissionais. Durante a reunião geral surgiram algumas reflexões, como o sentimento de pouca ou nenhuma resolutividade após a notificação; descaso do médico do trabalho para episódios que não tiveram violência física; necessidade de acolhimento entre pares e a hostilidade do próprio ambiente de trabalho; a importância de espaços contínuos para debate sobre violência e a reativação e o fortalecimento do Núcleo de Prevenção à Violência (NPV).

Além da possibilidade de aplicação e acompanhamento de uma pesquisa, o estágio proporciona também um tempo de vivência e acompanhamento de diferentes atividades com profissionais de saúde e principalmente com a gerente da unidade. As atividades permitem maior aproximação não só da organização e funcionamento de uma unidade básica, mas de sua realidade considerando seus usuários e seu território, suas demandas e necessidades de saúde, mas também suas formas de produção e promoção de saúde.


Análise Crítica
Concluímos que apesar de pouco debatido não só na unidade, mas também nos espaços de formação, o tema é de extrema relevância para os trabalhadores, corroborando a importância do diagnóstico situacional como ponto de partida para o planejamento das ações de manejo de conflitos. Destaca-se a necessidade de atenção e discussão da emergência da situação de violência contra o profissional da saúde em outros trabalhos.