Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.7 - Política de ST e Pecarização do Trabalho I

46425 - RESPIRAR; CO-MOVER; RE-EXISTIR: A METODOLOGIA APOIO-INVESTIGAÇÃO COM TRABALHADORES DA SAÚDE NA PANDEMIA
MONICA VIEIRA - EPSJV/FIOCRUZ, ELIANE CHAVES VIANNA - ENSP/FIOCRUZ, MARIA RUTH DOS SANTOS - EPSJV/FIOCRUZ, ROBERTA DE CARVALHO CORÔA - UNIVERSIDADE DE LAVAL/QUEBEC, PATRÍCIA FERREIRA MENNA BARRETO - ENSP/FIOCRUZ, MICHELLE ANTUNES NACIF - EPSJV/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
A pandemia de Covid-19 agudizou penosidades enfrentadas pelos trabalhadores e expôs a desigualdade das relações de trabalho no cotidiano, repercutindo na complexificação do campo do trabalho em saúde com exigências de revisão de seus eixos estruturantes, a partir da centralidade da dimensão relacional do cuidado. No Respiro, projeto de apoio-investigação com trabalhadores da saúde na pandemia, aprovado pelo Programa INOVA-FIOCRUZ, desenvolvemos uma metodologia ancorada nas noções de vulnerabilidade, relacionalidade e pertencimento para acompanhar trabalhadores da saúde da atenção básica e hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS, no processo de expansão e aprofundamento de princípios que sustentam sentidos, valores, saberes, práticas, trajetórias, políticas, gestão e o cuidado de si, do outro e do mundo. Nesse contexto, construímos um ciclo de encontros de reflexão e de cuidado explorando as possibilidades de construção de relações menos hierárquicas e mais inclusivas nos serviços, na pesquisa, no ensino e na gestão entre trabalhadores e entre esses e usuários.

Objetivos
Construir metodologia apoio-investigação para compreensão das penosidades e das políticas de (re)existências, visando (co)construir com os trabalhadores da saúde na pandemia horizontes e perspectivas para seguir vislumbrando sentidos produtores de vida e de trabalho nos serviços de saúde.

Metodologia
A partir de uma abordagem qualitativa foram realizados encontros online e presenciais com trabalhadores da saúde de diversas ocupações e distintas regiões do país, orientados pela espiral respirar; (co)mover; (re)existir e pelas noções de vulnerabilidade, relacionalidade e pertencimento, para expandir a compreensão do que vivenciamos na pandemia. Foram realizadas 6 rodas de conversa e cuidados, 20 entrevistas semiestruturadas, 5 fóruns temáticos e 7eventos públicos para compartilhar relatos e experiências sobre o trabalho em saúde na pandemia e apoiar os trabalhadores. Por meio dessas práticas, desenvolvemos a metodologia apoio-investigação, aposta centrada no trabalhador para iluminar as penosidades e as (re)existências do trabalho em saúde; ampliando as condições de rever as múltiplas relações que o constituem no contato com os pares, com os usuários e com a sociedade de forma geral.

Resultados e discussão
Identificamos que através dos encontros realizados foi possível o aprofundamento da compreensão das dimensões que constituem o trabalhador da saúde na contemporaneidade; a expansão dos eixos que estruturam o campo do trabalho em saúde no pós pandemia; o fortalecimento da centralidade da dimensão relacional para a produção do cuidado no mundo, em corresponsabilidade. Igualmente, identificamos bases-guia de relações produtoras de cuidado de si, do outro e do mundo, a partir do reconhecimento de que todas as vidas merecem ter suas condições de sustentação e de (re)criação sustentadas. A metodologia apoio-investigação apresentou-se como possibilidade de renovação de laços e de construção de vínculos baseados no em-comum ao abrir espaço para que os trabalhadores refletissem e testemunhassem de forma coletiva sobre as experiências desafiadoras que trazem do trabalho e da vida. Houve aprofundamento da compreensão da interdependência entre diferentes dimensões que constituem o campo do trabalho em saúde (tais como nas políticas de gestão do trabalho, nos saberes e práticas de cuidado) e na ampliação de valores e sentidos compartilhados, potencializando o respeito pela construção coletiva a partir da diversidade dos seres, de suas trajetórias, de seus tempos, de seus limites e de suas aspirações.



Conclusões/Considerações finais
A metodologia apoio-investigação mostrou-se um dispositivo de produção de sentidos que trança conexões entre as bases teórico-metodológicas, as práticas com os interlocutores do estudo – os trabalhadores da saúde – e partes valiosas de nós, professores-pesquisadores que atuam no campo do trabalho e da educação na saúde. Numa construção coletiva, fomos alargando o horizonte de possíveis e construindo o em-comum, permitindo a criação de possibilidades a partir de novas frestas de compreensão para darmos conta do que vivenciamos juntos. Em comunidade, nos autorizamos a repensar a gestão do trabalho na saúde, tecendo relações regenerativas em um espaço/tempo em que fomos nos produzindo em experiências com trabalhadores, em encontros de saberes e práticas diversos. Seguimos integrando um movimento teórico metodológico que nos permite analisar a precarização social da vida e do trabalho, a partir de enquadramentos expansivos que permitiram colocar os trabalhadores no centro para com eles produzir experiências de apoio-investigação.