03/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO33.7 - Política de ST e Pecarização do Trabalho I |
46483 - A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E SEUS EFEITOS SOBRE OS TRABALHADORES DA SAÚDE NO CONTEXTO DE CRISE SOCIOSSANITÁRIA CARLA CABRAL GOMES CARNEIRO - EPSJV/FIOCRUZ, MARIA RUTH DOS SANTOS - EPSJV/FIOCRUZ, FILIPINA CHINELLI - EPSJV/FIOCRUZ, MÁRCIA VALÉRIA GUIMARÃES MOROSINI - EPSJV/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Trabalhar é penoso, mas também esperança e sonho. É tempo corrido, necessário, sufocante. É espaço de aspiração por uma sociedade mais justa e igualitária. Há tempos, o trabalho, enquanto centro vital de existência, ocupa um lugar de destaque na sociedade e suscita sentimentos de prazer e de sofrimento nos trabalhadores. No contexto da pandemia do novo coronavírus não foi diferente.
No Brasil, em especial no sistema de saúde, os trabalhadores e trabalhadoras que já acumulavam condições e relações precárias de trabalho depararam-se com a expansão dos riscos à própria saúde e sofreram as consequências da vivência do sofrimento pela experiência cotidiana da morte, do luto e do receio da contaminação de si e dos outros, aumentando as penosidades associadas ao trabalho.
Objetivos Nesse texto, buscou-se compreender como as medidas políticas e as estratégias de gestão do trabalho adotadas durante os primeiros dois anos da Covid-19 repercutiram sobre o trabalho, trabalhadores e trabalhadoras da saúde. Enfatizaram-se a atualização das penosidades relacionadas ao processo de precarização do trabalho no SUS, consequentes às mudanças que há décadas vêm reconfigurando o mundo do trabalho e à adoção da racionalidade neoliberal pelo Estado na condução das políticas públicas.
Metodologia Para o seu desenvolvimento, partiu-se da premissa da centralidade do trabalho na organização da sociedade e da vida de mulheres e homens, na medida em que produz a existência e toda a riqueza social, diferenciando os humanos dos demais seres vivos. Ademais, compreendeu-se a relevância das políticas públicas na distribuição de tudo o que se produz na sociedade; na garantia de direitos conquistados historicamente por trabalhadoras; na reprodução das desigualdades entre homens e mulheres e entre as distintas ocupações e profissões. A política enquanto lugar de expressão e de consolidação de diferentes interesses de grupos e classes sociais, ao mesmo tempo, lugar de processos que atuam na conformação de subjetividades.
O material empírico utilizado compõe o acervo de relatos coletados durante desenvolvimento da pesquisa “Respiro” que analisou as repercussões da pandemia no trabalho e na vida de trabalhadores que atuam na atenção básica e na assistência hospitalar no Brasil, buscando compreender as novas dimensões das penosidades e dos sentidos do trabalho em saúde. Nesse sentido, foram utilizados o Caderno do Curso Respiro “Sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia; o caderno dos Fóruns Vivos Temáticos e o caderno das lives, todos realizados no decorrer do processo de “investigação-apoio” utilizado pela pesquisa.
Resultados e discussão A chegada do SARS-COV-2 transformou a rotina de trabalhadores e trabalhadoras da saúde dentro e fora do ambiente de trabalho. Muitos foram convocados ou selecionados para trabalhar em caráter emergencial por meio de vínculos de trabalho precários, desfeitos quando do fechamento do serviço pela diminuição da demanda pelos serviços prestados; houve uma ampliação expressiva da jornada de trabalho; as novas inserções profissionais se deram muitas vezes mediante direitos ainda mais aviltados; os salários ofertados continuaram insuficientes para garantir boas condições de vida.
A gestão da crise realizada pelo governo federal, em particular pelo Ministério da Saúde, foi marcada pelo discurso e práticas negacionistas, o que prejudicou a adoção das medidas sanitárias necessárias para o enfrentamento da COVID-19, inclusive por parte da população. Diante do aumento significativo de demanda por cuidados, “os heróis da pandemia” reafirmaram a ciência nas recomendações expressas no “fiquem em casa” e “não acreditem em notícias falsas”, em um tom de (co)responsabilização da sociedade civil pela situação que viviam e experienciavam nos serviços de saúde.
O sucateamento histórico dos serviços hospitalares públicos e de toda a rede pública de atenção à saúde no país foi agravado durante a pandemia e os trabalhadores e trabalhadoras passaram a lidar com a morte ainda mais frequentemente, inclusive com o falecimento de colegas de trabalho. No âmbito da Atenção Primária à Saúde, a condução nacional da política de saúde não reconheceu o papel central da APS ao longo desse processo, o que trouxe estranhamento para alguns trabalhadores que buscaram encontrar sentido no seu trabalho.
Conclusões/Considerações finais Viu-se que, no contexto pandêmico, os trabalhadores e trabalhadoras da saúde enfrentaram o aprofundamento da precarização do trabalho com questões que emergiram e/ou se agudizaram no processo de combate ao coronavírus. Os relatos analisados revelaram a agudização das penosidades relacionadas à política e à gestão do trabalho em saúde, ampliando a precariedade social e subjetiva do trabalho e da vida, o que aponta a necessidade de se recuperar um caminho que construa possibilidades renovadas de (re) construção do trabalho que tenha como horizonte ético-politico o resgate do seu sentido ontológico, o fim do trabalho estranhado e a transformação da sociedade.
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