Comunicação Oral

03/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.8 - Política de ST e Pecarização do Trabalho II

45800 - SAÚDE COLETIVA, ECOLOGIA MARXISTA E ÉTICA AMBIENTAL
CARLOS DIMAS DIMAS RIBEIRO - UFF


Apresentação/Introdução
Deve-se destacar que o marxismo contribuiu na constituição da saúde coletiva, ocupando uma função crítica significativa. A utilização dos textos de Marx tem sido relativamente limitada, parecendo caracterizar um marxismo sem Marx, mesmo na atualidade, onde predomina o marxismo ocidental eurocêntrico – distanciado da reflexão sobre os processos de colonização -, caracterizando uma colonialidade do saber. Nas interpretações do pensamento marxiano, podemos distinguir duas pespectivas: “fotográfica” e “cinematográfica”. A primeira adota uma análise estática de um conjunto mais ou menos restrito dos trabalhos de Marx, extraindo conclusões que expressam um momento específico de seus estudos. A segunda realiza uma investigação dinâmica para capitar as revisões que ocorrem nas suas concepções, na medida em que se apropria de novos conhecimentos, permitindo não somente uma crítica mais fundamentada de sua abordagem, como também uma melhor apropriação das suas potencialidades para a compreensão da sociedade contemporânea. Para conhecer apropriadamente a produção marxiana é necessário considerar as relações entre suas elaborações teóricas e os movimentos políticos que estava envolvido. Em suma, “Marx é o pensador das lutas” e do “pensamento em movimento”.

Objetivos
O objetivo desse trabalho é sugerir um caminho de reflexão que pode contribuir com as questões teórico-práticas relativas à temática ecológica.

Metodologia
Trata-se de um estudo teórico que se utiliza do “equilíbrio reflexivo”, como procedimento de fundamentação ética, que procura construir um ajustamento entre conhecimentos morais e não morais.

Resultados e discussão
A convergência entre marxismo e ecologia aprofunda-se a partir das três ondas do ecossocialismo. Na primeira, presente na década de 1980, destaca-se as supostas falhas do pensamento ecológico de Marx. Na segunda, emergente na década de 1990, observa-se a redescoberta de suas análises ecológicas e a rejeição de diversas pressuposições da primeira onda. Na terceira, utiliza-se dos aprofundamentos teóricos alcançados pelo momento anterior, de modo a explorar diversos problemas concretos relativos à crise ambiental. As análises de Marx têm significativa relevância nesse campo, podendo contribuir com a compreensão da operação do sistema do capital e seus efeitos sobre os seres humanos e a bioesfera, núcleo central de suas análises. Trata-se de um objeto dinâmico e histórico, de modo que a obra marxiana também é inacabada, embora mantenha sua validade em elementos essenciais, sobretudo os aspectos metodológicos. Suas reflexões sobre a relação dos seres humanos com a natureza em termos da noção de metabolismo, e suas análises da exploração dos seres humanos e da biosfera, utilizando o conceito de fratura metabólica, são significativas para pensar os problemas ecológico atuais. A concepção ontológica da espécie humano, que se pode depreender dos estudos de Marx, caracterizada como um ser vivo natural, social e histórico, rico em capacidades e necessidades, e sua compreensão das interrelações entre esta espécie e a natureza, mediada pelo trabalho, são essenciais para a defesa de uma visão ética comprometida com a igualdade substantiva, compreendida em temos do florescimento de todos os seres humanos, com a promoção das suas capacidades e satisfação das suas necessidades. Uma concepção que fomente também a sustentabilidade ecológica, entendida como proteção da integridade funcional da bioesfera, vista como um todo holístico e integrado, bem como dos diversos organismos vivos que a compõe. No campo do ecossocialismo, o valor da sustentabilidade ecológica tende a estar dirigida para todos os seres vivos, na sua complexidade e diversidade, embora frequentemente acompanhado com uma preocupação relativas à sobrevivência humana. O valor da igualdade substantiva, diferentemente, está voltado quase exclusivamente para os seres humanos, referida em termos de justiça social, atribuindo-lhes um valor em si, e não meramente instrumental.

Conclusões/Considerações finais
Para uma ampliação dos concernidos morais e realização da universalidade da ética, deve-se promover uma inflexão nessa visão ética, dirigida basicamente aos seres humanos, de modo que a sustentabilidade e a igualdade substantiva estejam voltada para a realização do todos os seres vivos. A sustentabilidade não é mais do que um dos elementos que deve ser igualado, como condição para o florescimento dos seres vivos. Deve-se pensar os dois valores de modo a contemplar todos os seres vivos que compõem a bioesfera, de modo que rompemos com o antropocentrismo e ampliarmos o universo dos concernidos morais, para incluir nos mesmos pressupostos os diversos seres vivos. Uma concepção voltada para o florescimento dos seres vivos e da bioesfera, mediante a promoção da igualdade substantiva e da sustentabilidade. Uma concepção, enfim, que somente pode ser realizada com uma transformação social radical da sociedade capitalista contemporânea.