48026 - QUINTAIS PRODUTIVOS: TRABALHO DE MULHERES PARA PROMOÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM ASSENTAMENTO DO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE. JÉSSICA DÉBORA DE SOUZA DAVI - UFRN, AMANDA HENRIQUE DA COSTA BENTO - UFRN, CATARINE SANTOS DA SILVA - UFRN
Apresentação/Introdução Quintal produtivo é o espaço localizado em volta da casa destinado à produção, que proporciona à família rural uma maior variedade de alimentos. Tais alimentos contribuem para a segurança alimentar e nutricional (SAN) das famílias. As mulheres desempenham papel fundamental para o desenvolvimento social, cultural e econômico nas áreas rurais. Participam de todas as etapas de produção de alimentos, contribuindo assim na geração de renda e SAN domiciliar. Na zona rural, os maiores percentuais de insegurança alimentar estão nos domicílios cuja pessoa de referência é mulher. A associação entre SAN e quintais produtivos compreende a produção de alimentos para o autoconsumo. Essa variedade de espécies proporciona à família uma produção com vastas opções que garantem uma alimentação mais equilibrada e saudável.
Objetivos O objetivo do estudo é analisar o trabalho de mulheres agricultoras em quintais produtivos de assentamento rural do município de Lagoa Nova/RN.
Metodologia Estudo realizado na zona rural do município de Lagoa Nova-RN. Pesquisa transversal do tipo quantitativa com participação de 53 agricultoras que possuíam quintais produtivos em suas casas. A coleta de dados foi realizada de abril a junho de 2022, e se deu por meio de visita domiciliar com a utilização de um questionário semi-estruturado, elaborado pelas próprias pesquisadoras. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FACISA-UFRN sob o parecer N° CAAE 55486722.3.0000.5568.
Resultados e discussão Os quintais produtivos, além de contribuírem para produção de alimentos para o autoconsumo das famílias, tornaram-se também ambientes transformadores de conceitos, atitudes e discussão sobre desigualdades de gênero, empoderamento feminino, economia, sustentabilidade e a SAN. Tradicionalmente, o manejo e cuidado destes locais é atribuído às mulheres, bem como o processo de beneficiamento dos alimentos consumidos pela família. Foram entrevistadas 53 mulheres que gerem seus quintais produtivos para o autoconsumo e comercializam seus produtos excedentes. Dessas, 73,6% eram adultas, 28,3% analfabetas e 34% tinham até o ensino fundamental completo; 71,7% possuía renda familiar mensal de até um salário mínimo. Além dos trabalhos realizados quintais, 50,9% também realizava trabalhos domésticos. Ao serem questionadas se sentiam-se apoiadas, 86,8% relataram que não sentiam que recebiam algum tipo de apoio para execução das atividades na agricultura. As mulheres são sujeitos sociais de fundamental importância nos processos de reprodução do modo de vida rural e na produção de alimentos. Participam de todas as etapas da cadeia produtiva, que vão desde a seleção de sementes, manejo de criações e uso sustentável de recursos vegetais e animais do agroecossistema. Os quintais apresentam uma grande diversidade biológica, com variedades que vão desde plantas de uso agrícola, espécies frutíferas, plantas medicinais e ornamentais, registrando também criação de pequenos animais. De acordo com Oakley (2004), “essa diversidade contribui não somente para a segurança alimentar e estabilidade econômica dos agricultores familiares, mas para o equilíbrio do sistema agroecológico como um todo”. Todas as entrevistadas utilizam-se de sua produção para consumo próprio e de sua família. Já cerca de 18,9%, além do autoconsumo, também comercializam os produtos produzidos nos quintais, sendo os principais veículos de comércio os atravessadores, vizinhos e comunidades vizinhas. É possível perceber que as mulheres contribuem para a segurança e soberania alimentar a partir do momento que escolhem produzir um maior número de espécies utilizadas na alimentação para autoconsumo, que é essencial para a subsistência familiar, em que se importam com o alimento de qualidade, e que proporcione melhor qualidade de vida. Foi visto também a preocupação das mesmas quanto à não utilização de agrotóxicos, afirmando que uma produção orgânica gera alimentos mais saudáveis.
Foi observada dificuldade de conciliar o trabalho com outras atividades não agrícolas. A maioria não sentia apoio para exercer suas atividades no quintal produtivo. Torna-se evidente que existe uma sobrecarga de trabalho, pois além de assumirem o trabalho reprodutivo e cuidados com a família, as mulheres também atuam na gerência dos quintais, tendo ajuda de outros membros da família apenas eventualmente. A falta de apoio e valorização pode estar relacionado à divisão sexual e social do trabalho, na qual as mulheres são responsáveis apenas pelo trabalho reprodutivo e doméstico.
Conclusões/Considerações finais As mulheres mantêm diversidade em seus quintais e produzem a maior parte dos alimentos para a família, contribuindo não só para a renda familiar. Em contrapartida, tais mulheres não são reconhecidas e apoiadas no desenvolvimento das atividades dos quintais e em todo o ambiente doméstico. Espera-se que a promoção da justiça social, com estratégias de cuidado às mulheres rurais estejam nas pautas, políticas e programas governamentais.
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