Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.5 - Covid 19

46822 - IMPACTOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DOS TRABALHADORES DA LINHA DE FRENTE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE EM SALVADOR-BA
MICHELE ALMEIDA DOS SANTOS - GRADUANDA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA/UFBA, MÔNICA ANGELIM GOMES DE LIMA - DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM SAÚDE, AMBIENTE E TRABALHO/UFBA, JANAÍNA FERREIRA DA SILVA - GRADUANDA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA/UFBA, HELLEN FERREIRA DA SILVA SANTOS - MESTRANDA DO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFBA, MARCELO CASTELLANOS - DOCENTE DO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA/UFBA


Apresentação/Introdução
O surto do que acreditava ser uma pneumonia em Wuhan na China, em dezembro de 2019, rompe fronteiras e alcança diversos países, sendo decretado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em março de 2020, a pandemia da covid-19. Sua instauração abrupta gerou a necessidade de reestruturação da Atenção Primária à Saúde (APS), com a modificação nas dinâmicas laborais, o uso dos equipamentos de proteção individuais (EPIs) e higienização frequente de mãos e objetos, o foco no atendimento aos sintomáticos respiratórios, somado a necessidade de manter a assistência à comunidade adstrita. As mudanças ocorridas nesse contexto atípico nos processos de trabalho, quanto às exigências técnicas, tecnológicas e humanas, produziram impactos na vida desses trabalhadores, sobretudo na saúde mental.

Objetivos
Explorar as repercussões na saúde mental de profissionais da linha de frente na APS durante a pandemia da covid-19 em Salvador.


Metodologia
Pesquisa qualitativa financiada pelo CNPq, aprovada pelo CEP do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, que integra o Projeto Observa Covid. Apresenta interesse na aproximação das experiências subjetivas dos indivíduos no cotidiano de trabalho como médico, enfermeiro e técnico de enfermagem, durante a pandemia da covid-19, tendo como campo de investigação 6 unidades de saúde pertencentes a 3 distritos sanitários de Salvador-Ba. Apoiou-se na orientação teórico-metodológica da etnometodologia, quanto à propriedade autodescritiva, propriedade natural, do mundo social, sendo adotadas entrevistas semiestruturadas (presenciais e remotas) com uma escuta compreensiva e livre a fim de co-produzir um enfoque sobre as particularidades e vivências destes trabalhadores no contexto pandêmico. Foram produzidas 79 entrevistas, dentre estas 19 com o grupo de interesse deste estudo, entre Julho/2021 a Outubro/2021, com foco nas modificações na rotina laboral e familiar dos profissionais e seus impactos à saúde física e mental. No que tange o plano de análise foram consideradas 14 entrevistas como plausíveis de maior aprofundamento, selecionadas a partir do grau de detalhamento das informações questionadas, que compõem o corpus empírico deste estudo. A organização do material empírico se deu a partir de categorias temáticas no NVivo, um software de análise de dados qualitativos. No processo de análise interessa reconhecer singularidades dos atores, seguida das semelhanças e discrepâncias entre os relatos, o que é permitido após a leitura em profundidade (vertical) das entrevistas, seguida da leitura horizontal entre os participantes. Leitura interessada nas experiências descritas e as estratégias individuais e coletivas adotadas para lidar com as influências da dinâmica laboral e familiar na saúde física e no sofrimento psíquico.

Resultados e discussão
A descaracterização da APS, secundária à necessidade de adequação ao novo cotidiano laboral imposto pela pandemia da covid-19, impôs transformações no ambiente de trabalho (relação com os usuários e o território) e familiar dos profissionais da saúde, aqui em primeiro plano médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O acesso e o uso dos EPIs e o aumento na frequência de higienização das mãos e objetos impactaram diretamente a dinâmica laboral e o medo do contágio; o distanciamento social surge como estratégia para reduzir a propagação do vírus entre colegas e familiares, culminando na necessidade de lidar com a saudade e desafios na convivência para manter a segurança dos envolvidos; observou-se também a aflição constante daqueles que tiveram que manter o contato direto com a família, como se o profissional da saúde fosse o vetor do vírus; somado a isso, o medo do novo, a inconstância das informações e modificações diárias no ambiente de trabalho geraram maior sofrimento psíquico para aqueles que já possuíam patologias prévias e início de sintomas físicos e mentais nos demais trabalhadores, que se viram pela primeira vez diante dos desafios de uma pandemia. A necessidade de maior apoio da gestão no acolhimento dos trabalhadores e a disponibilidade de escuta ativa continuada passam a ser uma queixa constante entre os profissionais que se veem desafiados pela sobrecarga de trabalho, dúvidas e medos.

Conclusões/Considerações finais
O ambiente estressor atípico, imposto pela pandemia, propiciou alterações bruscas e prolongadas no cotidiano laboral e familiar dos profissionais da linha de frente da APS, refletindo-se em impactos na saúde mental desses trabalhadores. A atenção continuada à saúde destes é, portanto, necessária a fim de evitar a cronificação dos quadros apresentados, bem como a necessidade de melhor preparação desses profissionais para atuar em situações estressora atípicas, a partir de estratégias de cuidado entre a equipe e o compartilhamento de informações para reduzir a desinformação e assim diminuir o medo conjunto tão evidente na pandemia.