Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO7.2 - A (De) colonialidade na pesquisa em comunicação e saúde

47298 - CUIDAR DE SI E DO OUTRO COMO ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS DAS POPULAÇÕES PERIFÉRICAS DO RECIFE, PE
SILVIA BEZERRA DOS SANTOS - FIOCRUZ PE, INESITA SOARES DE ARAUJO - ICICT/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Objetivamos apresentar resultados específicos do “Núcleo Recife” integrante da pesquisa multicêntrica “Pandemia e contextos criativos: cartografia de tecnologias e arranjos de informação e comunicação de populações negligenciadas para enfrentamento da Covid-19”. Coordenada pelo Laboratório de Comunicação e Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, o estudo analisou a comunicação praticada por moradores de áreas periféricas em cinco núcleos localizados nas regiões metropolitanas de Brasília, João Pessoa, Recife, Rio de Janeiro e Vitória, em 2021/2022. A pergunta norteadora da pesquisa foi quais as tecnologias comunicacionais as populações negligenciadas desenvolveram ou adaptaram para conviver com pandemia da Covid-19. Em Pernambuco, o estudo abrangeu grupos de comunicadores da capital e de outras cidades da Região Metropolitana.

Objetivos
destacar as especificidades nas estratégias comunicacionais para o enfrentamento da pandemia do coronavírus desenvolvidas pelos comunicadores dos territórios periféricos de Recife e Região Metropolitana.

Metodologia
A pesquisa adotou um padrão geral para os procedimentos metodológicos, mas guiando-se pelo princípio de respeito às diferenças contextuais, tanto das equipes quanto dos territórios e à autonomia investigativa dos núcleos. Cada núcleo selecionou 10 iniciativas que reuniam ações de comunicação voltadas para a Covid-19, as iniciativas não deveriam estar vinculadas a meios de comunicação comerciais nem a instituições de saúde e aplicou-se o critério de diversidade temática e tecnológica e abrangência de área. Realizado o mapeamento e identificação dos atores principais, esses foram convidados a integrar a equipe do estudo. Seguiu-se ao procedimento de conversação e interlocução por meio de conversas em uma plataforma de videoconferência entre um ou mais participantes de cada grupo com um ou mais coordenadores da pesquisa. Após essas etapas, cada núcleo analisou as conversas com os comunicadores e sistematizou as observações em planilhas, seguindo os tópicos definidos. Em seguida, participaram de um seminário com as equipes de todos os núcleos, para análise e sistematização dos achados da pesquisa, resultando em um elenco de resultados gerais e específicos, além de conclusões provisórias. A etapa final consistiu em sessões com representantes de todas as iniciativas, quando os resultados e conclusões foram discutidos e validados coletivamente pelos comunicadores populares participantes.

Resultados e discussão
As dez iniciativas mapeadas pelo Núcleo Recife se revestem de algumas especificidades a partir dos principais resultados revelados pela pesquisa, dos quais compartilham: os comunicadores que coordenaram as atividades são jovens, entre 20 e 40 anos, apresentam forte vinculação ao território e com militância em outras causas. As ações de comunicação foram impulsionadas por ideias como: democratização da comunicação; linguagem e estética ancoradas no território; reconhecimento, visibilização e emancipação. Acrescentando a esses resultados as especificidades locais, destacamos: as atividades de comunicação são fortemente permeadas pela arte e pela cultura; neste domínio, a produção audiovisual se destaca; os nomes dos coletivos e/ou das iniciativas expressam essa criatividade, mas também apontam para resistência e luta. Destacamos ainda a motivação principal da maioria das iniciativas desenvolvidas pelos comunicadores, que foi a de sobrevivência e solidariedade, ou seja, de cuidar de si e cuidar do outro.

Conclusões/Considerações finais
Embora compartilhando resultados com outros núcleos, fica patente que, mesmo em um mundo aparentemente homogeneizado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, somadas ao espaço de grande centralidade ocupado pelas redes sociais digitais como meios de intercomunicação, algumas tradições se mantêm ativas, conformando ações ancoradas nos territórios específicos. Recife e a Região Metropolitana têm uma tradição de resistência e luta desde seus primórdios, memória que desborda para os nomes das iniciativas ou dos coletivos que as desenvolveram, por exemplos: Jardim Resistência, Força Tururu, Rede Tumulto. Por outro lado, a essa tradição de resistência se soma fortemente a presença da arte, não só como recurso momentâneo, mas como estruturante das próprias ações pela vida. Esses nomes atestam bem, por sua criatividade: “Circo em frente de casa”, “Narrativas periféricas do fim desse mundo”, “Fruto de Favela”, “Livroteca Brincantes do Pina”. Uma terceira característica a destacar nesse sentido é o privilegiamento da ação coletiva, p.ex.: Coletivos “As Cabras”, “Caverna”, Manguecrew”, “Roda Fita”, “Angola Filmes”. Por fim, sobressai-se a intenção do cuidado – de si, mas também do Outro. A solidariedade, o cuidado, são parte indissociáveis das lutas cotidianas e da maior de todas, pela sobrevivência, como atestam, entre outros, “Periferia Comunica Periferia”,“Narrativas periféricas do fim desse mundo” e “Ação Comunitária Caranguejo Uçá”.