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29587 - CEMITÉRIOS E COMUNICAÇÃO DE RISCO: O PERIGO INVISÍVEL LUANA GUIMARÃES CURY - ANVISA
A decomposição dos corpos gera produtos tóxicos, dentre eles o necrochorume, composto por cerca de 10% de substâncias orgânicas altamente tóxicas. Sabe-se que o corpo de um adulto de 70kg produz 30 litros de necrochorume (SILVA, 2010), podendo disseminar bactérias e vírus patogênicos no solo, no ar, ou em águas superficiais e subterrâneas (lençóis freáticos).
Nos anos 70 já se registravam epidemias de febre tifoide em decorrência de contaminação de aquíferos sob cemitérios em cidades como Berlim e Paris, conforme descreve Dent (1995). No entanto, havia uma dificuldade histórica em se classificar os cemitérios como áreas geradoras de impactos ao meio ambiente e à saúde pública. No Brasil esse debate se inicia, de fato, apenas em 2003, com a publicação da Resolução Conama nº 335/2003.
Embora a contaminação oriunda de cemitérios seja atualmente uma verdade científica, enfatizando a necessidade de medidas de prevenção dos riscos e mitigação dos danos, esses riscos parecem ser, ainda, pouco ou mal comunicados aos públicos de interesse: populações residentes no entorno, visitantes e trabalhadores. No âmbito da saúde, a comunicação de risco objetiva informar sobre os riscos aos quais as pessoas estão expostas, mobilizando para a prevenção e o sucesso das estratégias em saúde. Em “Cemitérios e comunicação de risco: o perigo invisível” pretende-se identificar, no âmbito da comunicação visual, como as necrópoles comunicam esses riscos. Como nos ensina Donis Dondis (1997), o visual tem a velocidade da luz e pode expressar instantaneamente um grande número de ideias.
A amostra do estudo compõe-se do conjunto de cemitérios municipais públicos de todas as capitais brasileiras, geridos diretamente ou não pelo Poder Público. Cada uma dessas necrópoles foi objeto de “visita virtual” nos meses de março a maio de 2019, por meio dos recursos google maps e google street view. Durante a análise do espaço interior e entorno de cada cemitério buscou-se observar a presença de riscos aparentes, como rachaduras em jazigos, sinais de má conservação, ossadas e/ou necrochorume expostos, alagamento ou erosão visíveis, ausência de área de recuo em relação ao perímetro do cemitério etc. Paralelamente, foi analisada a existência (ou não) de mecanismos de comunicação visual de alerta sobre os riscos dessas áreas contaminadas aos públicos de interesse. Os resultados obtidos orientam para a quase total invisibilidade do risco na comunicação dentro desses ambientes.
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