27/11/2019 - 14:00 - 16:00 CC6 - Serviços de Interesse da Saúde, Saúde de Trabalhadores e Ambientes |
31848 - A INVISIBILIDADE DA EXPOSIÇÃO AMBIENTAL A AGROTÓXICOS EM POPULAÇÕES RURAIS LOCALIZADAS DENTRO DO PERÍMETRO DE AGRICULTURA IRRIGADA NO VALE DO GORUTUBA, MINAS GERAIS CARLA WERNECKE PADOVANI GONZAGA - UNIMONTES - MG, ANTÔNIO PRATES CALDEIRA - UNIMONTES - MG
O Vale do rio Gorutuba, localizado na microrregião da Serra Geral, no norte de Minas Gerais, abriga um Projeto do Governo Federal para irrigação agrícola. Dentro do perímetro irrigado, à margem direita do rio Gorutuba, foram estudadas 12 comunidades rurais que vivem nas adjacências de monoculturas de banana e outras frutas. A prática da pulverização aérea de agrotóxicos nas lavouras é ainda comum na região. A deriva de venenos provenientes das pulverizações alcança as residências, os animais de criação e as pequenas hortas domésticas. A água do rio Gorutuba é conduzida por canaletas abertas que cortam toda a extensão do perímetro irrigado. Contaminada pela deriva, a água serve tanto para a agricultura quanto para uso doméstico. Os moradores da região, comumente a mulheres, costumam lavar utensílios de cozinha e roupas nas canaletas, incluindo a higienização dos equipamentos de proteção individual usados na aplicação de agrotóxicos. Crianças brincam e se banham nestas águas. Também nas canaletas são enxaguadas as bombas costais que acabaram de carregar o veneno aplicado na lavoura. Estudos apontam que a média de uso de agrotóxicos em monoculturas de banana é de 10 litros de veneno por hectare de lavoura. Neste contexto, as comunidades estudadas estão sob permanente exposição ambiental a agrotóxicos. Objetivou-se descrever a auto percepção das pessoas residentes nestas comunidades sobre a contaminação ambiental por agrotóxicos como um dos aspectos da sua própria exposição. Foram entrevistados 311 adultos sendo que 112 pessoas (36%) referiram não ter contato atual com agrotóxicos. Entre os aposentados, este percentual subiu para 59%. Entre mulheres que declararam como ocupação serem do lar, 48% afirmou não ter contato atual com agrotóxicos. Daqueles que afirmaram ter contato atual com agrotóxicos, 189 pessoas (61%) não utilizavam equipamento de proteção individual e 170 pessoas (55%) não sabiam os nomes dos agrotóxicos com os quais tinham contato. Dentre aqueles que afirmaram estar expostos a agrotóxicos, menos da metade reconheceu a contaminação ambiental como um aspecto da exposição. O desconhecimento da própria condição de exposição a agrotóxicos precisa ser melhor estudado como parte de um processo social de invisibilização dos riscos à saúde e à vida decorrentes do uso de pesticidas.
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