27/07/2018 - 08:00 - 09:50 COC16c - Saúde Sexual e Reprodutiva |
26072 - OCITOCINA E A "MATERNIDADE BASEADA EM EVIDÊNCIAS". CONCEPÇÕES SOBRE NATUREZA E CIÊNCIA EM UMA REDE VIRTUAL DE MÃES. FERNANDA DE CARVALHO - IESC/UFRJ, MARINA FISHER NUCCI - COC/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Através de narrativas elaboradas em uma rede virtual de mães de camadas médias que se identificam como “mamíferas”, e dos estudos críticos sobre gênero e ciência, refletimos sobre concepções de natureza, corpo feminino e ciência expressas no campo que designamos como “maternidade baseada em evidências”, com foco nas elaborações sobre a ocitocina como hormônio do amor materno.
Objetivos Analisar concepções sobre natureza, corpo reprodutivo feminino e ciência expressas em uma rede social de mães de camadas médias urbanas, que se identificam como "mamíferas", através de narrativas em torno da ocitocina como hormônio do amor materno.
Metodologia Trata-se de uma investigação qualitativa que consistiu em um estudo de caso das narrativas de um dos blogs do portal “Maternidade Ativa – Vila Mamífera”. O trabalho partiu da perspectiva teórico-metodológica dos estudos sociais de gênero e ciência (a partir de trabalhos como de Londa Schiebinger e Thomas Laqueur). A escolha pela análise desse blog se justifica por ele ser representativo de concepções sobre natureza e ciência presentes na rede virtual das “mamíferas”. Nosso olhar se voltou para a maneira como o discurso científico é retraduzido na rede virtual das mamíferas, para legitimar práticas e estilos de vida consoantes com o ideário da humanização do parto e da amamentação.
Resultados A ocitocina natural é valorizada como uma aliada das “mamíferas” no parto e amamentação, e na produção do vínculo afetivo mãe-bebê. A análise evidenciou o importante lugar ocupado pelas evidências científicas acerca da ocitocina no sentido da naturalização do corpo reprodutivo feminino e produção de distinções de gênero.
Apesar da defesa da desmedicalização do corpo feminino como diretriz no ideário da humanização, esta se apoia, paradoxalmente, em “evidências cientificas” como matriz privilegiada de legitimação das práticas humanizadas de parto e amamentação, ancoradas nos pressupostos de uma natureza feminina universal e de que o corpo feminino é uma extensão das mamíferas do reino animal.
Conclusões/Considerações O caráter problemático dos discursos que naturalizam a maternidade como extensão das fêmeas mamíferas reside na ancoragem da defesa da humanização da maternidade em cima da noção de que a biologia é destino natural das mulheres. A partir dos estudos sobre gênero e ciência, problematizamos a noção de natureza nas “redes mamíferas”, a fim de desatar seus nós biologizantes, e mostrar a potência política do ativismo virtual em torno da maternidade.
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